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Entro numa livraria obscura da Baixa e pergunto: "Por acaso não tem o livro Mistérios da Matilde Rosa Araújo?"
O livreiro olha por mim com ar de chico-esperto e responde: "Hum, deixe-me adivinhar... entrou agora no Plano Nacional de Leitura, foi?"
Que é como quem diz: "Olá, senhor analfabeto, como está? Eu nunca vi o senhor por estas bandas, e portanto para se ter dado ao trabalho de vir a esta livraria mal frequentada perguntar por um livro para crianças é porque anda desesperado, não é? Está à espera de encontrar um exemplar todo escarafunchado numa prateleira poeirenta, não é? De certeza que já bateu à porta de todas as Fnac, de todas as Bertrand, já andou a navegar na Wook, e só está a vir aqui, sua grande besta, em desespero de causa. Não é porque queria apoiar as livrarias tradicionais. Não é porque queira o livro para o ler. É só mesmo porque na escola exigiram o Mistérios da Matilde Rosa Araújo e você não o encontra em lado nenhum. Palhaço. Aposto que até foi a sua mulher que o mandou cá vir. Já agora: não, não temos."
Maldito livreiro. Eu já passei muitas humilhações por causa dos meus filhos. Mas as literárias custam sempre mais. Sobretudo quando o maldito livreiro tem toda a razão.