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Não há dúvida que o tema do bater/não bater é um daqueles que anima qualquer debate, e podemos ir voltando a ele de três em três meses só para saber como param as modas. Ainda assim, numerosas reacções ao meu post anterior obrigam-me a voltar ao tema, só para esclarecer alguns pontos.
1. Definição de bater: quando eu falo em bater, refiro-me a uma nalgada, ok? Uma palmada no rabo, cujos efeitos costumam ser piores na minha mão do que nos seus glúteos. Cá em casa não há tareias à moda antiga, nem cintos, nem colheres de pau. A ideia não é magoá-los e recuso a equivalência entre punição e agressão. A agressão tem por objetivo molestar ou neutralizar alguém. A palmada tem por objectivo educar através do estabelecimento de limites que são ultrapassados por uma criança que sabe perfeitamente que não se pode comportar assim. Um dos leitores do blogue (ver comentário de Rui a 14.10.2013 às 22:43) comentou que o seu pai lhe bateu tanto que ficou com uma lesão na retina para sempre. Por amor de Deus - não é disso que estamos a falar.
2. Esta parte do "não é disso que estamos a falar" é extremamente importante, porque em quase nenhum assunto, e certamente que não quando se fala de educação, é prudente estabelecer fronteiras fundamentalistas que dizem assim: bater é bater, uma palmada é uma palmada, e é sempre uma forma de violência física, e traduz sempre um descontrolo dos pais. Não é verdade. Este síndroma de índio e cowboy, chamemos-lhe assim, insiste em ver o mundo a preto e branco, quando ele é composto por uma infinita gama de cinzentos. Ver o mundo a preto e branco pode ser muito cómodo, porque é mais fácil termos soluções imediatas e respostas automáticas para todos os problemas da nossa existência (não se bate e pronto), mas simplesmente não me parece que seja assim que as coisas funcionam.
3. Eu já disse isto uma vez, mas repito: quem consegue educar exemplarmente uma criança sem nunca levantar a mão tem a minha mais profunda admiração. Obtendo exactamente os mesmos efeitos, claro que é preferível não bater a bater. Curiosamente, não tanto por causa do filho, mas sobretudo por causa do pai, que se for uma pessoa equilibrada não tem certamente prazer nenhum em distribuir palmadas. O que eu digo, da minha experiência, é que uma palmada na hora certa (e isto dependendo do filho, atenção, há quem não precise) sempre me pareceu um método eficaz e, a maior parte das vezes, inevitável para resolver certos conflitos que de outra forma se eternizariam.
4. Ontem, no Facebook, alguém argumentava comigo: "Não sei como é que ainda se defende isto! Também bate nos seus colegas no trabalho? Na recepcionista dos CTT?" Eu respondi: "A educação dos meus colegas de trabalho e da recepcionista dos CTT não é responsabilidade minha. E também não 'bato em crianças'. Bato de vez em quando nos meus filhos, o que é um bocadinho diferente, geralmente ali entre os 3 e os 6 anos, mais coisa menos coisa, quando estão mais rebeldes e ainda não percebem a racionalidade de certos argumentos. A partir daí, não digo que não ao tau-tau, mas só entre adultos responsáveis e com consentimento mútuo." Esta questão é importante, porque convém lembrar que há um tempo para tudo. A minha filha Carolina tem nove anos e anda a ficar super-chata. Mas ponham super-chata nisso - é a adolescência a chegar em força. Desafia os pais, é irritante para com os irmãos, tem a mania que é esperta. Enfim, um clássico. Vontade de lhe bater, às vezes, é coisa que não me falta. Simplesmente, passou a idade. Já percebe argumentos racionais. Compreende o efeito de certos castigos. Bater-lhe para quê?
5. Sobre os pais passarem-se da cabeça: sim, é verdade, às vezes os pais passam-se da cabeça. Eu passei-me demasiadas vezes, sobretudo há uns anos, quando levava dias e dias sem dormir. Passarmo-nos da cabeça nunca é bom. Mas é humano. E também é extremamente humano que os nossos filhos vejam isso. Essa ideia de que o super-pai ou a super-mãe é aquele que mantém uma postura esfíngica e nunca perde a paciência é uma bela treta. É por isso que todos os pais odeiam os pais do Ruca - porque ninguém é assim. Aquilo é uma fraude. Em vez de fingir falsas perfeições, podemos sempre pedir-lhes desculpas se perdermos a cabeça injustamente. Ou então, quando são eles os responsáveis directos pelo nosso passanço, podemos sempre explicar-lhes a seguir que as suas acções têm consequências e que ninguém é de ferro. O papá ou a mamã não são Mr. e Mrs. Perfect - são apenas pessoas que os amam mas que nem sempre aguentam toda a m**** que lhes atiram para cima.
6. Ainda há mais para dizer sobre este assunto. Mas fica para o próximo post.