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Os crimes da Rita

por Teresa Mendonça, em 21.10.13

A Ritinha está muito desembaraçada. Corre a casa toda e mexe em tudo o que está ao seu alcance. Se alguma coisa lhe interessa, agarra-a e não a larga por nada deste mundo. Se lha queremos tirar bruscamente corremos mesmo o risco, em dias de pior disposição, de ser atacados à dentada (literalmente), qual cachorrinho zeloso do seu osso.

 

Até aqui, menos mal. Pior ou melhor, lá vamos lidando com a situação: ou tentamos fazer trocas com outros objectos do seu interesse, ou então desviamos-lhe a atenção por um momento, perguntando-lhe se quer ir à rua, por exemplo (e ela quer sempre!).

 

Só que por vezes acontece o pior. E o pior é quando a Rita surripia um objecto e nós a perdemos de vista por um instante. Resultado: não vemos onde ela vai esconder o osso.

 

Infelizmente, ela adora esconder as coisas de que gosta nos sítios mais mirabolantes, e nessas alturas o único remédio é mesmo empreender verdadeiras expedições exploratórias para tentar encontrar o local onde escondeu o tesouro. A maior parte das vezes sem sucesso, porque ela nunca se lembra de desenhar um mapa.

 

 Onde está o Wally? Quem consegue descobrir a chucha da Rita entre Gormittis, carrinhos e figuras Star Wars?


Há umas noites, enquanto eu preparava o jantar, a Rita resolveu arrancar das mãos da Memi um frasquinho de colírio que ela na altura tinha que aplicar no olho direito, de 4 em 4 horas, por ter tratado cirurgicamente uma catarata. A Memi sabe que a Rita é um prodígio a fazer desaparecer coisas mas não foi capaz de lho tirar da mão e foi ficando (ou melhor, tentando ficar) de olho nela. Só que quando chegou a hora de deitar e de aplicar as gotas... cadê o frasquinho com que a Rita tinha andado a brincar? Nem vê-lo!

 

Mãe e filhos (o papá não estava em casa) percorreram a casa toda de gatas à procura do frasquinho, mas nada. Depois de quase uma hora (sim, papá, nesse dia os miúdos não foram para a cama às 9h30m porque queriam ajudar a mamã), lembrei-me que por volta da hora do jantar tinha estado cá em casa o sr. Marques (o nosso salvador das avarias no lar) a arranjar o lavatório da casa-de-banho dos miúdos. E a Rita, como não podia deixar de ser, tinha ido bisbilhotar o que ele andava a fazer. Quando fui à casa de banho, eis que encontro caída num canto a embalagem das compressas com que a Memi limpa o olho depois de aplicar as gotas.

 

Encontrada a primeira pista, resolvi o mistério com um simples telefonema. Sim, tinha mesmo sido o mordomo.

 

- Boa noite, sr. Marques. Importa-se de ver na sua mala de ferramentas se encontra um frasquinho de colírio?

- Sim, sim, está cá. Precisa dele? É que eu já estou em casa [Nota: a casa do sr. Marques é em Algés e a nossa é no Areeiro]. 

- Não, não [mentirinha bem intencionada]. Muito obrigada, sr. Marques. Era só para saber.

 

Mas claro que não era só para saber - nós precisávamos mesmo das gotas. E lá fui eu a caminho da farmácia de serviço com a autora do crime ao colo, já que por causa de outro dos seus crimes (partiu-me o otoscópio na véspera), tinha de qualquer maneira que a levar a casa de uma amiga médica para lhe espreitar para o ouvido.

 

Não foi uma experiência particularmente agradável esperar 30 minutos na rua com uma bebé ao colo até ser atendida (tinha nove pessoas à minha frente e o farmacêutico fazia três viagens até à porta para despachar cada cliente, por isso a coisa foi demorada). Além disso, neste país já não há cavalheiros e nem me atrevi a exercer a prioridade a que tinha direito, dada a encalorada conversa sobre naifadas e snifadelas dos senhores que me precediam.

 

No final da noite, não sei se a Rita tinha aprendido alguma lição. Mas eu e a Memi aprendemos com certeza: tudo o que tem o mínimo de valor tem mesmo de ficar bem longe das suas mãozinhas de carteirista. 

 

publicado às 08:34


4 comentários

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De Ssssstress a 21.10.2013 às 16:45

Essa coisa de o farmaceutico fazer 3 viagens por cada receita...
Porque não entregar a receita e o dinheiro ao mesmo tempo? Ou será que acreditam que o farmaceutico se refugiará numa qualquer prateleira com o troco e que não o entrega junto com o medicamento?
Quanto a cavalheiros... Eles "andem" por aí. A dificuldade está em encontrá-los!
Cumprimentos. (i 1 beijo à Rita)
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De Teresa Mendonça a 21.10.2013 às 19:34

Também me perguntei sobre o porquê de tantas viagens: a primeira para confirmar com a receita se tinha a medicação, a segunda para preparar o recibo e saber o valor a pagar, depois de confirmar com o doente qual o genérico ou marca que preferia e a última para fazer o troco/trazer o aparelho de multibanco portátil antes da emissão da factura. Complicado.
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De momentosdisparatados a 21.10.2013 às 09:11

Bem, a Rita pode ser uma "terrorista" mas faz a mãe criar um post que nos faz rir do principio ao fim. Olha sorte do pai em não estar em casa.
Boa semana
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De Ricardo a 26.10.2013 às 13:47

Enquanto ela não mexer na carteira e chaves dos pais, eles estão com sorte

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