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Num daqueles acontecimentos em cadeia que só a blogosfera pode proporcionar, e que no final descamba num lindo feastim de coincidências, aconteceu isto:

 

A Ana Garcia Martins, a.k.a. A Pipoca Mais Doce, imperatriz da blogosfera portuguesa e grande companheira de antigas aventuras na Time Out, colocou no seu blogue uma foto da sua árvore de Natal. Esta foto, mais precisamente:

 

 

Ui, o que ela foi fazer. A desvantagem de ter um blogue todo fashion é que, subitamente, uma simples e inocente fotografia sobre uma árvore de Natal se transforma muito depressa numa enxurrada de comentários (nem todos simpáticos) não sobre a árvore propriamente dita, mas sobre a beleza dos sofás e - sobretudo - sobre... a ausência de cortinados na sua sala.

 

Oh, sim, os cortinados. Sempre os malditos cortinados. O horror de uma catrefada de leitores menos encantadores do que aqueles que frequentam o Pais de Quatro desceu de repente sobre a sua cabeça, e a Ana sentiu-se obrigada a escrever um post sobre o facto de... não gostar de cortinados!

 

E eu pensei cá para mim: "Grande Pipoca, é isso mesmo, atira-te às cortinas! Tu percebes disto, pá, explica ao mundo que os cortinados são a maior foleirice portuguesa desde a última vez que a Paula Bobone saiu à rua!"

 

Mas a pressão social é uma coisa terrível. O post da Ana começava muito bem, assim desta maneira:

 

Ontem descobri que há um decreto-lei na legislação portuguesa que obriga as pessoas a terem cortinados nas suas casas. Quer dizer, pelo menos foi isso que eu depreendi depois de ter publicado uma foto da minha sala e haver gente verdadeiramente indignada e pronta a soltar-me os cães por, tcharaaaaan, a minha janela estar despidinha da silva, sem uma única cortina à vista. UL-TRA-JE! O que eu fui fazer! Como é que quebrei essa regra tão elementar do manual da boa dona de casa? Como? Se há janela tem de haver cortina, como é óbvio! Mas pronto, tenho boas e más notícias para vocês. Comecemos pelas más, para ficarem já despachadas:

 

Más notícias (preparem os corações):
ODEIOOOOOOO CORTINAS!!! Pronto, já disse, ufa, que peso que me saiu de cima. Guardava este segredo há anos, era uma cruz que carregava, mas agora já disse, está dito! Tirando em casa dos meus pais, nas minhas três últimas casas não entrou um cortinado, nem um!

 

Portanto, estas, que segundo a Pipoca eram as más notícias, eram obviamente as melhores notícias do mundo. Eu estava à beira de encontrar uma ilustre presidente para a recém-fundada APOC - Associação de Pessoas que Odeiam Cortinas. Mas - claro - era bom demais para ser verdade. Porque o post continua:


E eu achava que era feliz assim. Estava a enganar-me a mim mesma, claro, porque já percebi que ninguém pode ser verdadeiramente feliz numa casa sem cortinas.

 

Boas notícias (preparem os confettis):
Na foto não dá para ver tudo, mas há um varão pendurado no cimo da parede. UHHH-UUUUUUUHHHHH!!!! Ah, pois é, não desistam já de mim que ainda há esperança! O meu sogro foi lá a casa pendurar o varão há alguns meses, mas houve um problema qualquer e uma das pontas ficou por fixar à parede, actividade que o meu homem se comprometeu a finalizar. Pois, até hoje. Eu até já tenho os cortinados, a minha mãe até lhes fez uma bainha, até estão (estavam!) passadinhos a ferro e tudo, é só mesmo pendurar, mas sem varão pronto, nada feito! São umas cortinas branquinhas, do mais simples que há, translúcidas, e só as comprei e me rendi à ideia porque no lugar da árvore de Natal costuma estar uma mesa de apoio com livros que eu não quero ver carcomidos pelo sol. E se entra sol por ali, meus amigos! Mas pronto, são só mesmo estas, também não comecem a embandeirar em arco! Ah, desculpem, no quarto do Mateus também pus, amorosas, às estrelinhas. Mas agora olho para o resto da casa e sinto este peso que se abateu sobre mim. Vou ter de arranjar cortinados para os restantes quartos, para o escritório, para o closet, para a cozinha, para as casas-de-banho e para a sala de jantar, porque viver numa casa sem cortinas é mais ou menos o mesmo que viver numa casa com ratos. Intolerável, uma vergonha. Se é de cortinados que eu preciso para cair nas vossas boas graças, é cortinados que vou ter.

 

Não. Não! NÃO! As boas notícias são péssimas notícias. Isso é traição à causa da APOC, Ana! Tirando a parte de o sol comer livros, argumento altamente compreensível, e que eu próprio acompanho, nada a não ser fotões fogosos justifica encher uma casa de cortinas.

 

Nunca, mas nunca, se pode ceder ao reposteiro em Lisboa City, esta cidade eternamente elogiada pela sua luz, que merece entrar dentro das casas sem o foleiríssimo impedimento de panos. Pôr cortinas é fechar os olhos às casas. Elas impedem os vizinhos de olhar cá para dentro? Sim, com certeza. Só que me impedem também a mim de olhar sem impedimento lá para fora.

 

Não te rendas, Ana. Vá lá, resiste à pressão social. A APOC precisa de ti!

 

publicado às 10:40


17 comentários

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De João Miguel Tavares a 03.12.2013 às 17:13

Só isso já faz de ti membro honorário da APOC.
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De Neuza Padrão a 03.12.2013 às 17:27

Pode dizer-me onde pago as cotas da APOC?
Já agora deixo uma sugestão: com o cartão de membro poderia vir também um argumentario para Sogras e Avós.

Obrigada
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De Anónimo a 04.12.2013 às 10:25

Concordo.
Não tenho cortinas na sala que é relativamente pequena (gosto de dizer suficiente) e com uma janela com 3 m de largura do tecto até ao chão que ocupa quase uma parede inteira e não sentimos necessidade de colocar cortinas porque tem uns estores eléctricos que permite regular a luz e proporciona isolamento térmico.
Pois a minha sogra até já se ofereceu para pagar os cortinados que é uma vergonha não termos.

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