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Viagem a Óbidos - as gravações originais

por João Miguel Tavares, em 20.12.13

A bem da reposição da verdade, e depois de ter sido alvo de um vil ataque neste blogue, decidi divulgar as gravações integrais da viagem em família à Aldeia Natal de Óbidos, há coisa de duas semanas. O registo começa ainda em Lisboa:

 

João: VAMOS EMBOOOOOORA! Já passa das três da tarde e devíamos ter almoçado no caminho. Quando lá chegarmos já é quase de noite, vai estar um frio do caraças, e os miúdos vão constipar-se. Será que nós nunca conseguimos chegar a horas a lado nenhum? Por uma vez, só uma vez, uma única vez? Porque é que é sempre tudo TÃÃÃOOOOO difícil? VAMOS EMBOOOOOORA!

 

Uma hora depois, em plena A8.

 

Teresa: É esta a saída para Óbidos.

João: Não é nada esta a saída para Óbidos. A saída para Óbidos é lá mais à frente.

Teresa: O telemóvel diz que é aqui.

João: Não achas que se fosse aqui havia uma indicação na auto-estrada a dizer que era aqui?

Teresa: É agora, é agora! Sai! Por aqui é de certeza mais perto.

 

Vinte minutos depois, parados num caminho de cabras no meio da Estremadura.

 

João: Não me parece que seja por aqui.

Teresa: Pois não. É melhor voltar para trás.

 

Vinte minutos depois, após chegarmos a Óbidos de forma muito old fashioned, seguindo placas em vez de telemóveis.
João: Chiça! O Sol já se está a pôr.
Teresa: Pelo menos têm bilhete de entrada para família numerosas.

 

 

Teresa: Olha, estão ali as caixas do correio para os miúdos colocarem as cartas para o Pai Natal.

 

 

 

 

João: Fixe, está feito. Podemos ir embora?

Teresa: Oi?

João: Isto está insuportável. Logo hoje é que a SIC tinha de se lembrar de vir para aqui fazer um programa em directo..

Miúdos: Papá!, papá!, queremos ir ver a casinha do Pai Natal!

João: Com uma fila destas? Vocês estão é malucos!

Miúdos: Vá lá, vá lá!

João: Só se for mais tarde. Não querem antes ir deslizar no gelo?

Miúdos: Sim! 

 

 

João: Bolas, isto é alto. Olha o Sol a pôr-se, tão bonito... Vamos embora?

Teresa: Oi?

Gui: Papá, ajudas-me a levar a bóia até lá acima? Eu não consigo.

João: Porque é que não chateias a mamã?

Gui: Ela está a tomar conta da Rita.

Teresa: Eu estou a tomar conta da Rita.

João: Ok, Ok, eu vou.

 

Quatro bóias mais tarde.

 

Carolina: Aqui vou eu!

Tomás: Aqui vou eu!

Gui: Aqui vou eu!

João: Bom, já que estou aqui em cima, e tendo em consideração que a maneira mais rápida de descer, de modo a ir a correr para junto dos meus filhos, e assim continuar a ajudá-los a divertirem-se imenso, é deslizando em cima de uma bóia, vou deslizar em cima de uma bóia. Não por prazer, mas por dever. Aqui vou eu, com uma postura séria, profissional e não particularmente divertida.

 

 

João: Já pratiquei actividades mais espectaculares.

Miúdos: Papá!, papá!, queremos ir outra vez!

João: Outra vez?

Miúdos: Sim!, sim!, sim!

João: Mas só mais uma vez, ok?

 

Dezasseis bóias mais tarde.

 

João: Já não aguento mais isto. Adeus, Óbidos!

 

 

 

 

Teresa: Estás bem, amor?

João: Snif, snif. Quero ir-me embora!

Todos: Ainda falta uma coisa.

João: O quê?

Teresa: A casinha do Pai Natal.

João: NÃÃÃÃOOOOO!!!

 

Quarenta minutos depois, na fila para a casa do Pai Natal.

 

João: A sério, não aguento mais! Estão cinco adultos à nossa frente. Eles acreditam mesmo no Pai Natal ou acham que isto é uma casa da luz vermelha cheia de mães Natal em trajes menores? Óbidos, a Vila Delírio... Eu próprio já não me estou a sentir nada bem...

Carolina: O que se passa, papá?

João: Lálálálálálá, lalálálálá, lálálálálá...

 

 

Carolina: Mamã, o papá não está nada bem.

Teresa: Parece-me uma intercorrência de delirium secantum, psicose que dá às pessoas stressadas quando estão a apanhar uma grande seca. Isso depois passa.

Carolina: Coitadinho.

João: Uuuuhh, uuuuuhh, sou uma rena louca! Dança comigo, Carolina.

 

 

Vinte minutos depois, dentro da Casa do Pai Natal.

 

Teresa: Estás melhor?

João: Aqui dentro já não é tão aborrrecido. É simplesmente parvo. Aquilo é um duende humorista? Mas mais meia hora nesta vila e eu enlouqueço de vez.

 

 

Meia hora mais tarde.

 

João: Preciso de um sítio normal onde haja menos de 18 pessoas por metro quadrado. O meu reino por um sítio normal, onde consiga estar dois segundos sem dar três encontrões!

Teresa: Está ali uma livraria.

João: Sim, sim, uma livraria. Preciso disso.

 

 

João: Tem algum livro do Vasco Pulido Valente? Preciso de textos cínicos, desencantados, que acham que o mundo é uma desgraça e que o Pai Natal não existe.

Senhora da loja: Que lhe parece este?

João: O País das Maravilhas. Perfeito. Era mesmo aquilo que precisava.

Senjora da loja: Aqueles dois miúdos selvagens que estão à beira de destruir a minha loja são seus filhos?

 

 

João: Não.

Teresa: Amor!

 

E foi assim que as coisas se passaram, como poderei testemunhar em sede própria. Tudo o resto são calúnias de felicidade.

 

publicado às 09:50


5 comentários

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De Inês Monteiro a 20.12.2013 às 20:02

Q fofo a Teresa chamar-lhe "amor" depois de tantos anos e tantos filhos! E o João, trata-a por Teresa?

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