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Não confundir prenda com encomenda, sff

por Teresa Mendonça, em 02.01.14

Eu só posso mesmo estar pírulas (como me classifica o meu excelentíssimo esposo na opção b do seu último e enviesado post) por estar a estas horas da madrugada, mais morta do que viva após 16 horas de banco (e a reiniciar mais 16 daqui a nada), a dar-me ao trabalho de vir aqui repor (mais uma vez) a verdade das coisas. Mas lá vai ter de ser.

 

Depois da história do Gustavo, das compras do mês, da seca da Vila Natal, da covinha do queixo da Rita, da questão dos cortinados, da roupa dos miúdos que insiste em aparecer à luz do dia do avesso quando a vestimenta é supervisionada pelo papá... agora o excelentíssimo esposo vem para aqui mandar vir comigo por causa dos mimos que mando aos miúdos quando estamos sem eles uma semana inteira. Haja paciência.

 

Antes de mais: a tradição da prendinha não existe.

 

Existe, sim, a tradição da encomenda (o nome foi a Carolina que o criou e os manos continuaram a adoptar). E a encomenda não tem nada a ver com o conceito de mãe que deseduca os miúdos com prendas constantes e sem propósito nenhum. Desde que a Carolina começou a passar férias longe de nós, e já tinha consciência disso, comecei a mandar-lhe, a meio da semana, uma encomenda cujo conteúdo variou sempre muito.

 

A encomenda já constou de um postal, de um caderno de fichas de trabalho, de um livro, de uma flor, de linhas para aprender a bordar ou lãs para aprender a tricotar ou, sim, como desta última vez, de uma prendinha. O importante é saber identificar em cada momento aquilo que eles mais gostariam ou precisariam de receber. E eles esperam ansiosamente por essa encomenda, como se fosse uma visita dos seus papás, que, mesmo estando longe, e entregues aos seus afazeres, não se esquecem dessa forma de reservar uns momentinhos para eles.

 

É um miminho muito especial e com efeitos na auto-confiança de cada um, a longo prazo. Por acaso o excelentíssimo esposo não reparou que no quarto dos rapazes está pendurado, na janela do roupeiro do Tomás, desde o ano passado, um postal com um panda? 

 

 

O postal foi lá colocado pelo Tomás, não por ele achar graça especial ao panda, mas sim porque esse foi o postal que lhe enviei no Verão do ano passado, mesmo antes de ter começado a aprender a ler. Como o Tomás ansiava por poder lê-lo sem qualquer ajuda, guardou-o religiosamente até ser capaz de o fazer sozinho. Não deve ter dado valor nenhum à "encomenda", não é assim?

 

Dito isto, se me fosse posta a questão tal como o João a pôs, provavelmente escolheria a opção b (porque de vez em quando é bom que haja lugar para um devaneio maternal). Mas, mais uma vez, o rapaz foi parcial e puxou a brasa à sua sardinha - ou seja, para a imperiosa e habitual necessidade de demonstrar que a sua esposa é uma mãe obcecada pelos seus filhos e que não liga nenhuma ao seu pobre maridinho.

 

Hoje é dia de chegar a encomenda aos Montes e à Urra. É pena não poder filmar a entrega, para que pudessem ver como a Carolina se sentirá estimulada a ter ideias criativas para fazer pulseiras que ela quer vender na escola, juntamente com as suas amigas, para recolherem dinheiro para a sua viagem de finalistas; como o Tomás ficará feliz por os papás terem encontrado o único cavaleiro que faltava para a sua colecção ficar completa; e como o Gui se sentirá perdoado por ter perdido o pirata que os papás lhe tinham dado quando ele aguentou estoicamente as picadas das vacinas dos 5 anos (mandámos-lhe um igual).

 

A Rita, essa, obviamente não perceberá nada, mas a prenda que seguiu para ela não foi bem para ela. Se não existisse lugar na encomenda para a Ritinha, os seus manos, bem ensinados na igualdade de direitos para todos, iriam achar uma injustiça e ficariam com dúvidas sobre a irrefutabilidade desse direito que lhes ensinámos. É, portanto, uma prenda muito educativa.

 

Espero que, com estes argumentos expostos às três da manhã, o excelentíssimo esposo possa agora dar por bem empregues os 20 minutos que na terça-feira teve que roubar ao seu retiro literário, para poder pôr no correio a encomenda que os miúdos tanto vão gostar de receber hoje. Eu sei que foi um giganteeeeesco sacrifício. Mas valeu a pena.

publicado às 02:54


13 comentários

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De Paula a 02.01.2014 às 07:54

Tenho a certeza que os miúdos adoraram e não ficaram "estragados de mimos" com isso.
Aliás, não acho que se possa estragar de mimos um filhos. Os mimos nunca são demais.
O que estraga é a falta de pulso firme quando é preciso. Amor e impor limites em partes iguais!
vidademulheraos40.blogspot.com (http://vidademulheraos40.blogspot.com/).

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