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Hoje alguém me perguntava sobre os miúdos e eu explicava que esta semana tinha estado sozinho em Lisboa, com os filhos todinhos na província. Sucedeu-se o seguinte diálogo:
- Já tem saudades deles, não é?
- Não. Por acaso não tenho.
- Ah, ah ah, está a brincar.
- Não, não estou. Eles estão óptimos. Falamos ao telefone.
- Mas sente-se sempre um bocadinho a ausência.
- Não.
- Parece que falta alguma coisa em casa.
- Não, está lá tudo. Ouça, só passaram cinco dias desde que os vi pela última vez. Para eu ter saudades têm de passar pelo menos 15.
A pessoa ficou a olhar para mim como se eu fosse muito brincalhão, ou meio parvo, e ela não quisesse acreditar.
Mas que caraças. Será que um bom pai tem de ficar perdido de saudades dos seus filhos dois minutos depois de lhes tirar a vista de cima?
Tenho quatro filhos. Estou junto deles, contas altas, 350 dias por ano. Sobrarão uns 15 em que consigo estar sem nenhum deles (quando eles são bebés, nem isso). Isto dá uma média de 95,89% dos dias do ano junto dos meus filhos de manhã, à noite e muitas vezes no meio.
Será que me permitem passar os restantes e depauperados 4,11% dos dias em paz e sossego, a recarregar baterias, a ler e a escrever, e sem o mais leve vestígio de problemas de consciência, nem a menor saudade, nem o mais ínfimo suspiro, nem nadica de nada que não seja uma vaga lembrança e um estado de perfeita solidão e espírito zen?
Eu não fui para a guerra, caraças. Eles estão a divertir-se à bruta, longe de mim. Os avós estão a estragá-los com mimos, que também é uma coisa importante. Estão a aprofundar laços e a saborear o facto de haver mais gente no mundo, além dos pais, que gosta muito deles, o que é uma coisa fundamental. E eu estou a aproveitar as minhas mini-mini-mini férias paternais, que deveriam ser um direito constitucional.
Posso? Obrigado.
E agora vou agarrar no carro, que tenho de ir buscar três deles a Portalegre.