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Histórias dos meus livros

por João Miguel Tavares, em 31.01.13
A Olga Reis, do blogue O Rei Vai Nu, postou esta lindíssima foto da sua Nônô a ler um dos meus livros infantis, Uma Baleia no Quarto:


Adoro o seu ar compenetrado. E de caminho aproveito para um anúncio em primeiríssima mão: daqui a coisa de um mês estará nas bancas o meu terceiro livro infantil, O Pai Mais Horrível do Mundo, com fantásticas ilustrações do João Fazenda. Certamente irão ouvir falar bastante dele por aqui, que eu não vou resistir. Como aperitivo, deixo um dos estudos do João para a capa final, que ficou bastante próxima disto:


Pode ser que a Nônô também venha a gostar dele.

publicado às 23:00


Liliana, a igualdade e o amor

por João Miguel Tavares, em 31.01.13
Ainda a propósito do caso Liliana (que, como previ aqui, rapidamente se evaporou no espaço), um leitor deixou várias observações pertinentes na caixa de comentários deste post, que vos convido a ler. A última é esta:

Sejam então coerentes com as vossas convicções, estabeleçam uma ordem de prioridades (já agora deixem a Liliana em paz por uns tempos), e criem um abaixo assinado, para que se cumpra a Convenção sobre os Direitos da Criança e se tirem todos os menores de 18 anos aos pais ciganos. É que salvo raras excepções, não há notícia de que cumpram nada da listinha de conformidades que consideram imprescindíveis para os progenitores manterem os filhos. Preparem-se já agora para levarem logo famílias inteiras já que aquilo é malta que se casa e tem filhos ainda antes da maioridade...

A par, podem igualmente formular um projecto de lei que preveja a esterilização compulsiva de todos os cidadãos beneficiários do RSI. É que com o valor que recebem, as actuais perspectivas de futuro e claro está, a irresponsabilidade moral "desse tipo de gente", são malta para ainda se entreter a procriar, imagine-se!

Por fim, só mais duas maçadas:

- olhar para a vossa infância e pensar (com honestidade intelectual) se gostavam de ter sido tirados aos vossos pais se a certa altura eles tivessem caído em situação de pobreza e não vos pudessem ter assegurado o nível de vida mínimo.

- Ir passar um dia (ou vários) com miúdos institucionalizados e tentar perceber (se conseguirem!) o nível de stress, tristeza e angústia em que esses miúdos vivem TODOS OS DIAS e que se manifesta em TUDO O QUE DIZEM. E já agora perceberem o tratamento negativamente diferenciado que recebem, por exemplo, em creches.


Como o leitor não me conhece de lado nenhum pressupõe que este tema é para mim só teoria. Não, não é só teoria - o tema das crianças institucionalizadas interessa-me por questões teóricas e por questões muito práticas, que não vou estar a explicar no blogue, porque há coisas que não posso nem quero estar a explicar em público.

Aliás, esse é precisamente um dos problemas centrais do caso Liliana: quando o Conselho Superior de Magistratura e as autoridades responsáveis começaram a alertar para o facto de não ser a ausência de uma laqueação de trompas que levou à retirada dos filhos, logo as próprias advogadas da senhora vieram criticar os magistrados por estarem a comentar o caso, e assim falharem no seu "dever de reserva". Ou seja, o "dever de reserva", acham elas, é só para um dos lados: a mãe pode dar 50 entrevistas agarrada a peluches, mas o Estado não pode justificar os seus actos (e, de facto, não pode, se isso prejudicar as crianças).

Deixem-me sublinhar que é com imenso pesar que parece que estou a defender a Justiça neste caso. Já disse aqui, e  volto a dizer, que as crianças são muito maltratadas pelo nosso sistema de justiça, porque sobre elas é todos os dias cometida a mais abominável barbaridade: a demora estúpida, inadmissível e em última instância criminosa nos processos de decisão, que conduzem a prolongamentos inconcebíveis na institucionalização de crianças. Quem está no terreno queixa-se frequentemente de falta de meios, e este é um caso em que o Estado teria de assegurar todos - absolutamente todos - os meios que fossem necessários. Se um país nem sequer acode às necessidades das suas crianças mais frágeis, então o Estado realmente não serve para nada.

Dito isto, e indo agora de encontro aos argumentos do leitor, obviamente que eu não defendo a aplicação cega de todas as leis ou de todas as convenções, desligadas de um contexto. É por isso que quem aplica a justiça é um juiz e não um computador - porque sem bom-senso, sensibilidade e empatia nada se consegue. Mas isso não significa que fechemos os olhos à complexidade dos problemas, e nesse aspecto a questão dos ciganos é bem interessante.

Não sei se o leitor conhece este relatório sobre a comunidade cigana. Vale a pena olhar para ele com atenção. O alerta é claro: se há questões profundas de identidade que têm de ser respeitadas, não menos profundas são as questões de igualdade. Deve o Estado deixar que uma criança cigana não cumpra, por exemplo, a escolaridade obrigatória? A minha opinião é um rotundo "não", na medida em que entendo que há valores civilizacionais que se sobrepõem à identidade cultural de determinadas comunidades.

O Estado tem a obrigação de proporcionar uma educação a um cigano, como a um caboverdiano, como a um ucraniano, como a um chinês que habite o seu território nacional. E a meu ver tem também a obrigação de procurar encontrar soluções junto de uma comunidade como a cigana, para que esse ensino possa ser o mais possível compatível com o seu modo de vida. Mas abdicar de exercer o dever da escolaridade obrigatória seria colocar fora da sua jurisdição menores que têm direito às mesmas oportunidades que todos os outros.

O meu ponto é este: há um limite para o relativismo e para o multiculturalismo. Há um determinado número de direitos que eu considero serem universais, e universalmente bons, independentemente de raças ou credos. A escolaridade é um deles. Tal como a saúde ou a alimentação. E o amor de um filho por um pai, ou de uma mãe por um filho, NÃO SE SOBREPÕE (para utilizar as capitulares do leitor) a eles. Jamais.

As mulheres que praticam a excisão sobre as suas próprias filhas também as amam profundamente. Um pai pode espancar um filho e amá-lo profundamente. Uma mãe pode matar os filhos e amá-los profundamente (ainda esta semana aconteceu), e sobre isso há até um filme extraordinário chamado Será que Vai Nevar no Natal?, em que o espectador não só não culpa a mãe, como se torna cúmplice dela. Só que o ponto é este: os sentimentos também podem ser extremamente enganadores quando se trata de avaliar a justeza de um acto.

É por isso que me apetece voltar a um dos primeiros posts deste blogue, escrito a propósito do último filme Michael Haneke, mas que se pode estender ao caso Liliana e a cada dia da nossa vida: Aquilo que fazemos por outra pessoa é mais importante do que aquilo que sentimos por ela. Se alguém nos diz "amo-te", nós dizemos "então prova". E é assim que deve ser.

publicado às 10:13


Sim, às vezes é mesmo isto

por João Miguel Tavares, em 30.01.13
A propósito do post abaixo, reparei agora que o Engledow tem novas fotos. Acho que esta retrata ainda melhor o que quis dizer (e o meu dark side paternal):

publicado às 11:04


Vai para a cama, sff

por João Miguel Tavares, em 30.01.13
Há uns dias encontrámos um colega da Teresa que ainda tem mais filhos do que nós, e ficámos a reflectir em conjunto sobre qual a conjugação de idades em que a nossa vida ficou mesmo um lodo. Cá em casa, por exemplo, foi quando o Gui era recém-nascido, o Tomás tinha dois anos e a Carolina quatro. Nenhum deles era verdadeiramente autónomo, portanto era uma loucura de fraldas, de roupas, de acordar à noite, e de sei lá mais o quê. Hoje em dia, apesar de serem quatro, é bastante mais fácil do que em 2010, o ano do contacto com o além (ou quase).

Mas depois a conversa continuou para a questão que mais me interessa neste momento, e não, não é acerca da existência de Deus: é como manter a sanidade mental e encontrar tempo para mim, me time, eu sozinho, sem ninguém a chatear, tempo para recarregar as baterias interiores. E aí o colega da Teresa foi taxativo: "Lá em casa está tudo na cama às nove da noite. Os mais novos a dormir, e os mais velhos a ler."

E esta foi a minha reacção interior: "SIM! SIM! SIM! É ISSO QUE EU QUERO PARA MIM!"

É isso que eu quero para mim, que eu tento há anos e anos, e que não consigo. Eu bem tento convencer a Teresa da importância disso, lanço-me aos seus pés, rogo-lhe para ela ter piedade, mas há sempre mais uma coisa, e mais uma, e mais uma, um TPC por fazer, uma música para tocar, um capítulo de Os Cinco para contar, e de cada vez que um puto adormece antes das dez e meia da noite eu lanço um foguete na direcção do lustre da sala só para comemorar.

O problema é este: a Teresa parece que nunca se cansa de ser mãe. Não sei se é uma coisa das gajas. Mas eu, aí pelas 21 horas, já estou cansadíssimo de ser pai. A minha paternidade está esgotada, precisa de ir dormir, e sobretudo o eu-João-Miguel-que-não-sou-só-pai precisa de acordar, viver três ou quatro horas, ver as vistas, ler uns livros, até o corpo desabar em cima de um colchão. Preciso tanto disto. E então se fosse antes de eles irem para a faculdade, seria estupendo.

  Da série World's Best Father, por Dave Engledow

publicado às 10:57


Os verdadeiros direitos das crianças

por João Miguel Tavares, em 30.01.13
Ainda a propósito do caso Liliana, e diante da proliferação de textos que sublinham que os seus filhos não eram "vítimas de maus-tratos" (tese subscrita por gente tão respeitável e ponderada quanto o padre José Tolentino Mendonça, num texto recente no Expresso), eu gostava de sublinhar um ponto que parece demasiado esquecido, e que se resume em meia-dúzia de palavras: Convenção sobre os Direitos das Crianças (CDC).

Esta convenção foi adoptada pelas Nações Unidas a 20 de Novembro de 1989 e ratificada por Portugal menos de um ano depois. É o documento central que regula toda a intervenção sobre crianças em Portugal e onde se fala do tão badalado Superior Interesse da Criança (SIC, para os amigos), sendo claríssimo que os direitos que ela consagra vão muito além do não ser vítima de violência por parte dos pais. Ou seja, uma criança tem, no nosso país, direitos que superam extensamente o ser acarinhada pela mãe ou o escapar-se das nódoas negras.

Os românticos que me desculpem mas o amor, por si só, não chega. A CDC impõe (artigo 27) "o direito a um nível de vida suficiente" (por isso, sim, a pobreza pode ser um problema), impõe o ensino obrigatório (artigo 28), impõe "o melhor estado de saúde possível" (artigo 24), e poderia continuar por aí fora. Um pai ou uma mãe tem efectivamente a obrigação de pôr o seu filho a frequentar a escola, a tratar-lhe da higiene, a assegurar que as vacinas estão em dia - e quaisquer falhas nessas obrigações são traições ao espírito e letra da CDC.

publicado às 00:02


A vingança serve-se fria

por João Miguel Tavares, em 29.01.13
Durante o nosso passeio pela serra de Estrela, o Tomás e o Gui decidiram combater as placas de gelo que se acumulavam em cima de uma ponte de madeira. Eis a razão:


Tradução para quem tiver o ouvido menos apurado:

Teresa: Meninos, o que é que vocês estão a fazer?
Gui: Estamos a matar os icebergues...
Tomás: ... os icebergues que mataram o Titanic!

Jack, Rose, demorou 100 anos, mas o vosso amor foi finalmente vingado.

publicado às 08:14


Regresso ao trabalho

por João Miguel Tavares, em 29.01.13


Hoje é dia de voltar ao trabalho, e o último texto que publiquei na revista de domingo do CM ganha mais actualidade. Aqui estão os dois primeiros parágrafos:

Com o nascimento da Rita, tirei pela primeira vez um mês de licença de paternidade, que todos os pais portugueses passaram a ter opção de gozar após os quatro meses de licença da mãe. Eu estava cheio de vontade para me baldar a tal coisa, com o patriótico argumento de que Vítor Gaspar precisa mais da minha maminha do que a Rita, mas a excelentíssima esposa tem um olhar que me mete mais medo do que as avaliações da troika – e não teve pudor em usá-lo. Eu fiquei de imediato em sentido, o que se traduziu em quatro semanas enfiado em casa.

Na verdade, nem enfiado em casa estou, porque continuo a ter uma boa e potencialmente interminável colecção de actividades que me ocupam os dias. Mas, mesmo assim, o tempo que estou junto da lovely Rita é mais do que suficiente para me sentir um fracasso como pai e como homo familiaris. Isto dito por um gajo que tem quatro filhos pode parecer um bocado bizarro, mas, de facto, não só tenho uma estranha incompatibilidade estrutural com bebés, como a minha vida profissional é essencial para eu largar o vapor da minha vida familiar, da mesma forma que a minha vida familiar é essencial para eu largar o vapor da minha vida profissional. Sem uma dessas partes parece que coxeio – e acumulo gases na caixa craniana.

O resto do texto pode ser encontrado aqui. A ilustração, como sempre, é do José Carlos Fernandes.

publicado às 00:18


Casa das Penhas Douradas

por João Miguel Tavares, em 29.01.13
Um leitor pediu para saber como se chama o hotel das Penhas Douradas onde nós ficámos de domingo para segunda. Chama-se simplesmente Casa das Penhas Douradas. O nome pode não ser muito original, mas o espaço é - e muito. Nós encontrámo-lo ao pesquisar na net, adorámos as imagens, e na verdade só conseguimos quarto nesta altura do ano porque fugimos à sexta e ao sábado.

Chegámos por volta das 19 horas de domingo, já noite cerrada e um frio de rachar, e a entrada parece escavada no meio da rocha, o que dá aquele ar de casinha de chocolate encontrada por acaso no meio da floresta, com a vantagem de não haver bruxas lá dentro. Pelo contrário: atendimento cinco estrelas, com a mistura certa de familiaridade e profissionalismo. Para mais - coincidência das coincidências -, os donos do espaço são também os responsáveis pelo desenvolvimento de uma marca portuguesa que a Teresa adora: a Burel.

A Burel abriu no ano passado (se não estou em erro) uma loja no Chiado (Rua Serpa Pinto 15B), e ela tem vindo a trilhar o caminho mais interessante dos produtos portugueses, aliando a preservação dos métodos artesanais dos lanifícios de Manteigas (onde têm um fábrica) com um design contemporâneo. Os resultados são magníficos e estão espalhados por todo o hotel.

É esse nível de detalhe que coloca a Casa das Penhas Douradas num patamar muito elevado, e que justifica os seus preços, que não são baratos. Como nós somos uma família numerosa, tivemos de reservar dois quartos contíguos, a 120 euros cada (havia uma suite a 190 euros, onde cabíamos todos, mas estava ocupada). O pequeno-almoço está incluído (além de fruta, sumos e queijos ao longo de todo o dia), mas a esse valor convém somar o jantar, porque ninguém vai sair dali à noite para ir comer a outro lado (a não ser que se goste muito de descer e subir uma serra gelada, escura como breu e com estradas mais estreitas do que a cintura da Naomi Campbell). O preço do jantar é de 30 euros para adultos e de 10 euros para as crianças. Mas, mais uma vez, o preço está justificado: a cozinha tem a consultadoria do chef Luís Baena e posso garantir que comemos à grande e com um nível de requinte que não se está à espera de encontrar no meio do nada, a 1500 metros de altitude.

Resumindo, em apenas duas palavras: altamente recomendável.


À hora de deitar, tínhamos um presente à espera no quarto

 O banho matinal do Tomás e do Gui. Não se tem disto todos os dias...

publicado às 00:03


Invejem-me, vá lá (ou então não)

por João Miguel Tavares, em 28.01.13
Foi mais ou menos isto o meu dia de hoje: carregar com miúdos montanha acima para depois poderem deslizar montanha abaixo. Uma despedida em grande da minha licença de paternidade.

O gajo pequenino que está a alombar com o trenó sou mesmo eu

publicado às 22:51


Acordar

por João Miguel Tavares, em 28.01.13

publicado às 09:24

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Os livros do pai


Onde o pai fala de assuntos sérios



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