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O contrato

por João Miguel Tavares, em 30.07.13

Isto que vêem aqui em cima é um contrato, estabelecido entre Carolina Mendonça Tavares e Tomás Mendonça Tavares. Para o caso de alguém não perceber bem a letra, passo a descrever o seu conteúdo:

ACORDO

Dou-te uma pulseira de quatro se depois me deres a tua varinha do Harry Potter.

Ass: Tomás Tavares
Ass: Carol

Ora bem. Uma pulseira de quatro é uma pulseira de quatro fios em plástico colorido. Os fios compram-se nas lojas chinesas e os meus dois filhos mais velhos, entre pulseiras e porta-chaves, hoje em dia não fazem outra coisa. Sendo que a Carolina é mais habilidosa, claro, e controla os meios de produção - daí ser a responsável pela elaboração de tal "acordo", que parece um daqueles contratos de PPP em que uma das partes fica com quase todas as responsabilidades e a outra retira todas as vantagens.

Se repararem bem, o acordo está colado com fita-cola porque depois de o Tomás o ter assinado, para conseguir que a Carolina brincasse com ele, o meu filho n.º 2 tentou rasgá-lo aos bocadinhos (tipo novo governo que se depara com o preço dos swaps) para não ter de lhe dar a varinha do Harry Potter.

Não sei bem o que pensar disto. Eu sempre disse que a minha filha mais velha ia para Direito, tendo em conta a sua capacidade argumentativa e o facto de continuar a inventar desculpas mesmo quando é apanhada em flagrante delito. Acho que isto vem reforçar a minha tese.

O meu único medo, diante de tanto profissionalismo jurídico aos nove anos de idade, é que brevemente venha a sentir necessidade de contratar um advogado para regular a minha relação de parentalidade com a Carolina. Um dia destes ponho-a de castigo e ela mete-me um processo em cima.

publicado às 09:02


Diálogos em família #18

por João Miguel Tavares, em 29.07.13
- Papá, o Marcelo e a Judite são namorados?
- Não, Carolina. Que ideia. Porque é que dizes isso?
- Ele está sempre a dar-lhe presentes.

publicado às 02:02


Quatro vezes um filho

por João Miguel Tavares, em 29.07.13
Esta é a primeira vez que passamos férias em família com quatro miúdos, e à saída de Lisboa a nossa Sharan estava num estado inacreditável. Não cabia uma agulha no porta-bagagens. Por um lado, tive imensa pena da Teresa ao vê-la organizar as malas todas - vamos estar 20 dias fora de casa, e aquilo são autênticos trabalhos forçados. Por outro, tive imensa pena de mim, por ter subido e descido o meu prédio 32 vezes para enfiar 437 objectos no carro. Os números talvez sejam um pouco exagerados, mas demorei para cima de hora e meia, e pelo simples facto de eu ter conseguido fechar a porta da bagageira merecia que me fosse atribuído um doutoramento honoris causa em Tetris por uma universidade da Ivy League.

Mas claro está, dito isto e tendo eu elogiado a capacidade organizativa da minha excelentíssima esposa, devo dizer que ela nunca simplifica coisa nenhuma. A Teresa está sempre preparada para ter de sobreviver três meses sem água nem alimento se o apocalipse desabar sobre nós. No final, sobre a Terra restarão apenas a família Mendonça Tavares e as baratas. Bom, mas o que interessa para aqui é que a certa altura olhei para o material da praia e vi seis baldes de praia. "Seis baldes de praia?", perguntei eu. Sim, seis baldes: quatro para nós, mais dois para o Daniel e para o Ben, os filhos da maninha dela que chega da Irlanda. E olhem que nós nem sequer vamos para a praia. É só para brincarem numas praias fluviais da Beira Baixa, que nem areia têm. Ah, que tamanha capacidade para amar o próximo - geralmente à custa da minha sanidade mental.

É que, infelizmente, a excelentíssima esposa tem um problema: ela ainda não percebeu que tem quatro filhos. A sério. Eles saíram todos da sua magnífica barriguinha, mas ela não reparou nisso. E, portanto, a Teresa não age como tendo quatro filhos. A Teresa age como tendo quatro vezes um filho. O que não é, de todo, a mesma coisa. Ter quatro filhos, é ter quatro filhos. Simplifica-se, desenrasca-se, eles tomam contas uns dos outros, e está a andar. Ter quatro vezes um filho são para aí 12 filhos; é como se cada um fosse um filho único muito mimadinho, mas quatro vezes. Ou seja, é uma loucura todos os dias. Quando chega a altura das férias, então, só quero que me internem num hospício. No preciso momento em que escrevo, já estou doido e as férias ainda mal começaram. Durante os próximos 20 dias, se virem passar o Napoleão, já sabem: sou eu.


publicado às 01:57


166

por João Miguel Tavares, em 28.07.13
Hoje é um dia especial, porque foi o último em que assinei a página "Os Homens Precisam de Mimo", na revista Domingo do Correio da Manhã. A partir de agora, os escritos sobre a família vão ser exclusivos do Pais de Quatro. Na primeira metade do próximo ano, se tudo correr como previsto, lançarei as crónicas do CM em livro. Eis o meu texto de despedida:

Ilustração de José Carlos Fernandes 

Embora os homens continuem – hoje, como sempre – a precisar de mimo, esta é a minha última crónica para o ‘Correio da Manhã’. Nestas ocasiões, os colunistas costumam sair meio acabrunhados, deixando um agradecimento aos editores (obrigado Fernanda, obrigado Paulo), umas indirectas aos directores (não há necessidade), e tchau, adeusinho, até nunca. Contudo, esta página aos costumes sempre disse nada, e por isso invoco o direito à diferença para, em vez de me queixar, celebrar o número que encontram no título: 166.

Durante 166 semanas, sem excepção, eu tive o privilégio de fazer da minha família e dos meus estados de espírito matéria de crónica, trazendo para aqui dúvidas, angústias, tristezas, incertezas, alegrias ou descobertas, cujo destino natural seria ficarem confinadas às paredes da minha casa – ou nem isso, porque nós, gajos, partilhamos tão pouco, que o mais provável é que tudo ficasse confinado às paredes da minha cabeça, acabando por se perder nos caminhos esconsos da memória, sempre tão selectiva.

Nesse sentido, esta página, e esta minha atitude rara (reflectir sobre a vida pessoal ainda é um hábito pouco comum entre os cronistas portugueses), teve uma dupla intenção: fixar histórias e perplexidades à medida que os filhos iam crescendo, para que o esquecimento não desabasse sobre elas; e partilhar aquilo que se ia passando na minha vida, porque somos todos mais parecidos uns com os outros do que provavelmente gostaríamos.

O resultado superou em muito as minhas expectativas. Destas crónicas nasceu um livro bem-sucedido e nasceram centenas, milhares de mails, mensagens, abordagens na rua, sempre com uma simpatia e uma generosidade que estou longe de merecer. Foram essas reacções que me provaram estar no caminho certo, quando no início duvidava se deveria fazer isto, se não seria uma exposição excessiva da minha família, se não pareceria ridículo. Só que aos poucos, em torno de ‘Os Homens Precisam de Mimo’ nasceu uma comunidade de leitores fiéis – e isso é o máximo a que um cronista pode aspirar.

Permitam-me um derradeiro abraço ao meu amigo José Carlos Fernandes, que por 166 vezes tornou as minhas crónicas melhores com as suas óptimas ilustrações. E reservo uma última palavra para si, caro leitor, que me leu semana após semana: acredite que aquilo que você me deu é bem mais do que aquilo que lhe dei a si. Muito, muito obrigado.

publicado às 21:46


O sms da Carolina

por João Miguel Tavares, em 26.07.13
A Carolina está a passar a semana na Beira, na casa das madrinhas, como ela gosta de lhes chamar. E então pôs-se a espiolhar o Pais de Quatro. Encontrou o post sobre o passarinho - que eu preferia que ela não tivesse lido, mas enfim - e mandou-me o seguinte sms:

Obrigado pelo post que fizes-te [sic] sobre o passarinho. E sim foi uma grande lição para mim.

Tirando o facto de ir escrever 20 vezes "fizeste" da próxima vez que a encontrar, e de eu ter de lhe explicar para que é que servem as vírgulas, foi querido da parte dela. Na verdade, não sei que lição terá sido essa nem para que é que lhe servirá, porque a gente nunca sabe bem o que vai na cabeça das crianças, mas foi querido, mesmo assim.

publicado às 09:19


Viva o baby boy!

por João Miguel Tavares, em 24.07.13
Um amigo meu que estava a ver televisão na noite de segunda-feira enviou-me esta mensagem por sms: "Uma noite de sonho para o espectador progressista: papa e príncipes." Mas como nem eu nem ele somos particularmente progressistas (eu mais do que ele, ainda assim), devo confessar que tenho gostado de tudo desde segunda-feira até hoje, muito em particular da forma como Kate e William apareceram à porta da maternidade para mostrar o seu bebé.


Eis as coisas de que gostei:

1. Gostei que mostrassem o bebé com pouco mais de um dia de vida. É certo que é suposto ele vir a ser rei de Inglaterra, e portanto em certa medida é um bebé de todos os ingleses, mas celebro quem ainda expõe os seus filhos numa altura em que, por causa da defesa da privacidade e de medos de sei lá o quê, as crianças vão aos poucos desaparecendo das câmaras e, por consequência, dos espaços públicos.

2. Gostei do casal, acho que eles estão mesmo felizes, e do ar nada cagão com que se apresentaram, com o pai, na hora da saída, a colocar a cadeirinha do bebé no carro e a ser ele próprio a conduzir. É ridículo fazer o elogio da normalidade, mas tratando-se de príncipes e princesas, parece-me significativo.


3. Gostei da Kate continuar boa como o milho, e de aparecer com um cabelo esvoaçante que parecia patrocinado pela Linic. Adoro mamãs.

4. Gostei sobretudo que ela já ali estivesse de pé ao fim de tão pouco tempo, e que exibisse orgulhosamente a sua barriga pós-parto, ainda que num lindíssimo vestido azul e branco. Não houve aquela vergonha do "se calhar ainda não estou muito apresentável", ou "só apareço daqui a dois meses já no topo da minha forma", ou então "vou pôr um grande casaco para não se perceber que a minha pança ainda está super-inchada". Tudo ao natural. Bravo.

Em resumo, neste meu pequeno post cor-de-rosa, diria que começaram muito bem, sim senhor. Com sorte, William aprendeu com os papás tudo aquilo que não devia fazer quando crescesse. Às vezes essa é mesmo a melhor das lições.

publicado às 14:30


A vida é curta, pá. Bora ter um caso?

por João Miguel Tavares, em 23.07.13
Se anda à procura de uma relação extraconjugal, mas quer ao mesmo tempo manter o seu casamento (suponho eu, que por vezes sou tristemente conservador e tenho alguma dificuldade em acompanhar estas modernices), parece que a partir de agora há uma resposta para si, através da rede social Ashley Madison, cujo mote é "Life is short. Have an affair." Ou, em português - que passou agora a existir -, "A vida é curta. Tenha um caso." O Público traz hoje a história toda. O título da peça/ entrevista é: "O negócio da infidelidade é à prova de recessão." Bom, ao menos que haja alguma coisa a sobreviver a esta crise.


publicado às 20:42


Casa Arrumada

por João Miguel Tavares, em 23.07.13
Uma leitura colocou nos comentários deste post um poema de Carlos Drummond de Andrade chamado "Casa Arrumada". O poema é tão bonito, tão verdadeiro e vem tão a propósito que, para não ficar esquecido numa caixa de comentários, resolvi trazê-lo para aqui, com a devida vénia - porque uma casa arrumada é, de facto, tudo isso. Ora leiam:

Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia. Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.

Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.


publicado às 09:48


Oh, que horror! Faz só mais um bocadinho!

por João Miguel Tavares, em 22.07.13
O que achei mais curioso neste vídeo


não é a traquinice em si, embora o irmão mais pequenino seja um amor, mas a reacção da mãe. Ela está a fazer aquela voz do "deixa-me fingir que estou zangada contigo enquanto filmo esta cena absolutamente hilariante para a posteridade". Com o progresso tecnológico, os blogues e as redes sociais, o desejo de partilha de um episódio tão bom como este sobrepõe-se muitas vezes ao primeiro dever de uma mãe e de um pai, que é dizer convictamente "isto não se faz!".

Tem acontecido comigo algumas vezes, e no final fico sempre dividido entre o divertimento de ter captado um momento óptimo e os problemas de consciência que advêm do facto de os miúdos estarem certamente a perceber que há ali uma mistura de "não faças isto!" com "mostra, mostra, mostra!", e de isso não ser propriamente brilhante para a sua educação.

Esta coisa do "oh, que horror!, faz só mais um bocadinho!" é um problema muito actual, com o qual nós, pais digitais, ainda temos bastantes dificuldades em lidar. Eu tenho, pelo menos. Por um lado, é meeeesmo divertido. Por outro, se a gente se entusiasma excessivamente, tenho a sensação de que um dia destes um filho parte-se todo, nós filmamos primeiro e só depois é que ligamos para o 112.

publicado às 08:06


Agora põe isso na boca de um adulto 7

por João Miguel Tavares, em 22.07.13
Entretanto, já saiu a conclusão do episódio da etiqueta nas calças. Vale muito a pena:

publicado às 07:51

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Os livros do pai


Onde o pai fala de assuntos sérios



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