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A educação para o desprazer #3

por João Miguel Tavares, em 30.04.14

Queria terminar a minha resposta aos leitores do post sobre a educação para o desprazer procurando clarificar uma passagem do meu texto, que dizia o seguinte:

 

Estou com [os meus filhos], em média, seis horas por dia (excepto aos fins-de-semana, claro), e as nove em que não estou com eles são muito mais calmas, repousadas e self-fulfilling. Eu sou, de facto, um pai de quatro criançofóbico (...). Daí a importância da tal educação para o desprazer.

 

Por favor, não confundam este "desprazer" com a tradicional cultura católica do "sacrifício". O sacrifício, dito de forma bruta, lembra-me sempre gente que coloca o cilício numa perna para se mortificar, e a sua prática cai muitas vezes no lado oposto ao que aqui me quero colocar - uma espécie de recalcamento do "eu" que só serve para causar frustrações e não dá proveito a ninguém, incluindo ao próprio. Não é a isso que me refiro.

 

A Teresa Power, de quem eu já aqui falei anteriormente, respondeu a esta passagem do meu post (comentário de 23.04.2014 às 14:07), argumentando o seguinte:

 

O que é self-fulfilling? O que é o prazer pessoal? E já agora, a noção de sacrifício... A que tu avanças no teu post não é a noção católica, mas a noção popular tradicional, ok? Porque sacrifício é tornar sagrado, libertar da escravidão do... prazer! Aprender o desprazer, como tu dizes, é de facto essencial - mas não para aprendermos a aguentar! É essencial para aprendermos a encontrar felicidade e verdadeira realização pessoal naquilo "que tem de ser", naquilo que é a nossa vida real, e não idealizada. A educação para o desprazer é verdadeiramente a educação para a felicidade.


Cuidar de seis filhos é a maior fonte de felicidade que encontro na minha vida. Há muitos anos que deixei de sentir genuíno prazer em coisas que antes me davam prazer, e descobri prazer em gestos rotineiros e sem graça... No meu caso, e por muito lamechas que isto soe, o saldo é francamente positivo. E não trocava os momentos que passamos juntos por nada deste mundo!

 

O Carlos Duarte entrou no debate da seguinte forma:

Realmente a descrição do sacríficio que o JMT fez não é nada "católica". O sacríficio não é masoquismo (i.e. tentar retirar prazer da dor ou ir atrás de dores e penas), mas sim aprender a vivermos e a pacificarmo-nos com os nossos problemas e incómodos. O resto do post (sobre o dever de "aturar" as crianças - nossas e dos outros - e da noção que o ganho final superará todas as perdas no passado) é que é uma excelente descrição do sacríficio cristão. A ideia (Mt 10:38) é aceitar a nossa cruz, não propriamente ir atrás de uma.

 

E a Teresa acrescentou, de seguida, mais um ponto:

 

Sim, mas há aqui outra coisa... Os santos não foram infelizes, nem se limitaram a "aguentar" a sua cruz, não é verdade? O sacrifício cristão traz verdadeiro prazer... São coisas que não se explicam, só se podem viver. Disse S. Paulo que, por Cristo, tudo considerava "esterco"... Não são palavras vãs, é a verdade: quando aprendemos a aceitar a nossa vida, a fantasia deixa de nos dar prazer, e encontramos verdadeiro gozo na nossa pobre rotina. É por isso que não consigo aceitar a ideia de que criar os filhos é uma maçada, por muito necessária que seja... Mas podemos discutir estas ideias no meu blogue (umafamiliacatolica.blogs.sapo.pt), que sobre cristianismo está mais apropriado!

 

Mesmo estando o blogue da Teresa mais apropriado para discutir ideias sobre cristianismo (e vale a pena visitá-lo também pelos testemunhos de vida em família que ela dá diariamente), ainda assim permitam-me o atrevimento de tentar aprofundar este ponto do sacrifício e do seu prazer.

 

Se repararem, eu tive o cuidado de colocar "tradicional cultura" antes da palavra "católica", e de seguida até exemplifiquei com o caso do cilício, que como bem sabem muito boa gente católica defende com argumentos bastante convictos (no Opus Dei, por exemplo). Evidentemente, para quem está de fora é algo difícil de compreender, tal como era difícil de compreender as imagens antigas de gente a arrastar-se em Fátima com os joelhos em sangue (isto na era pré-pedra polida e almofadas nos joelhos). Bem ou mal, eu diria que essa imagem de "sacrifício"ainda está marcada na mente de muitas pessoas, até porque a cada Páscoa continuamos a ver gente nas Filipinas a ser pregada a uma cruz.

 

Portanto, não só percebo o ponto da Teresa e do Carlos Duarte, como concordo com ele: existe uma diferença significativa entre o conceito "popular tradicional" de sacrifício e aquilo que um catolicismo instruído considera ser o verdadeiro sacrifício - que nunca é uma inutilidade, mas um dom.

 

Onde eu me afasto da Teresa, e daí este post, é no ponto seguinte: o de transformar o sacrifício em prazer. Deixem-me regressar aos seus argumentos:

 

Aprender o desprazer, como tu dizes, é de facto essencial - mas não para aprendermos a aguentar! É essencial para aprendermos a encontrar felicidade e verdadeira realização pessoal naquilo "que tem de ser".

 

A verdade é que eu sou um grande adepto do "ai aguenta, aguenta!" imortalizado pelo Fernando Ulrich (embora não pelas razões de Fernando Ulrich). O que a Teresa pede é um passo à frente: é encontrar o prazer no desprazer. Não é tanto libertarmo-nos das correntes que nos oprimem, para utilizar a linguagem marxista, mas passarmos a ter prazer nessas correntes, até porque elas se transfiguram e deixam de ser correntes. Ora, para mim, isso é mais ou menos o mesmo que para um budista encontrar o nirvana, esse estado de total comunhão e transparência - seria fantástico chegar lá, com certeza, mas não é para todos, e uma vida só não costuma ser suficiente.

 

E, portanto, a pregação entusiasmada dessa possibilidade pode, a meu ver, ser até contraproducente, ao dar a impressão de que se nos esforçarmos muito todos poderemos alcançá-la. E isto pela simples razão de que o processo é contranatura: se prazer e desprazer fossem a mesma coisa uma só palavra bastaria. Juntar os contrários e unificá-los é uma coisa muito bonita, mas 99% das pessoa falharão sempre. Eu falho, com certeza.

 

É por isso que a educação para o desprazer, de facto, advém, para mim, mais do estoicismo do que do cristianismo. É um aguenta, aguenta e não uma promessa de redenção, e muito menos uma promessa de redenção terrestre - coisa que a fé católica está, aliás, longe de dar como garantida. Na verdade, a Teresa sugere que há um caminho para a felicidade terrestre se nós nos entregarmos suficientemente a Cristo; como que um seguro de consolação já aqui, no planeta azul. Eu estaria disposto a rebater isso entusiasmada e biblicamente. A única consolação segura que os Evangelhos pregam advém da esperança de uma vida celeste - a felicidade desta vida é um bónus, e não uma garantia.

 

Daí eu entender que o "aguenta, aguenta" é muito mais útil, ao ajudar a uma gestão da frustração, que é aquilo que nós mais precisamos (eu preciso, pelo menos). Garantir a uma pessoa que ela consegue de certeza tirar a felicidade no que "tem de ser", tirar prazer no desprazer, é, aos meus olhos, demasiado ambicioso - quem o consegue fazer (e há quem consiga, com certeza) é um Cristiano Ronaldo da vida familiar. E, como todos sabemos, não é Cristiano Ronaldo quem quer. Só quem pode.

 

A educação para o desprazer, segundo esta minha teoria mal-amanhada, não é um caminho para a felicidade. É apenas um tampão contra a infelicidade constante. Não é sorrir na tempestade, não é dançar à chuva sobre o mastro partido. É apenas conseguir aguentar o barco na borrasca para poder sorrir quando os raios de sol aparecerem (porque aparecem sempre, graças a Deus).

 

É um projecto modesto de vida, é um pensamento débil, é uma gestão da dor, e não a promessa de uma epifania. É estar na cruz a cantar "always look at the bright side of life".

 

Não porque não custe, mas porque, dado o contexto, é a melhor das opções.

 

 

publicado às 10:19


A nossa juventude é ignorante?

por João Miguel Tavares, em 30.04.14

O título não é meu, mas de um excelente texto que o Henrique Monteiro assina hoje no Expresso online. Eu não poderia estar mais de acordo com o que ele escreve acerca da alegada ignorância da juventude, uma acusação que tem milénios. Não percam.

 

publicado às 09:57


Not available on the App Store

por João Miguel Tavares, em 30.04.14

Três estudantes americanos resolveram criar o autocolante "Not available on the App Store" e colá-lo em locais públicos frequentados por crianças. Steve Jobs fez maravilhas por mim, sobretudo quando inventou o iPad, mas as melhores coisas da vida não se encontram, de facto, na App Store.

 

A coisa até já tem um site, a partir do qual é possível imprimir os seus próprios autocolantes ou comprá-los por um dólar.

 

 

 

publicado às 09:34


Porque é que um gajo tem filhos?

por João Miguel Tavares, em 29.04.14

Perante o meu acumular de queixinhas, escreve uma leitora do blogue, já sem grande paciência para mim: 

 

Com todo o respeito tenho de dizer... que sim, é difícil educar crianças, e sim, a vida muda radicalmente... Mas com certeza que ninguém o obrigou a ter quatro crianças... foi uma opção sua! Elas não pediram para nascer...

 

Com certeza que não pediram, embora, a bem dizer, a Rita tenha sido intensamente pedida pela Carolina. Espero, no entanto, que ninguém olhe para os meus queixumes, por vezes excessivos, e veja neles alguma espécie de arrependimento por me ter metido nesta coisa de ser pai de uma família numerosa.

 

Quando eu falo numa "educação para o desprazer", e faço questão de a distinguir da noção mais comum de sacrifício, é exactamente para estarmos preparados para aguentar o embate do stress quotidiano sem sermos esmagados por ele, tendo em conta que o fazemos em nome de um bem maior, que são os nossos filhos.

 

Todos nós, crianças, adultos e outros animais domésticos, necessitamos de ser treinados para aquilo a que tecnicamente se chama "adiamento da gratificação". A "educação para o desprazer" é apenas um nome mais bonito para esse adiamento da gratificação, que no caso dos filhos pode significar penar durante muitos anos até eles deixarem de ser lagartas e se transformarem em lindas borboletas.

 

Simplesmente, quando muita gente gasta o seu tempo a fingir que tudo na paternidade é borboleta, os momentos-lagarta (que são imensos) podem ser devastadores. Eu gosto, de facto, de alertar para isso, porque numa certa fase da minha vida esse embate foi realmente difícil para mim, e cheguei a achar-me o pior pai do mundo por não conseguir retirar maior prazer da paternidade.

 

Agora, saltar daí para o argumento "as crianças não pediram para nascer" é um pulo argumentativo capaz de bater o recorde mundial do salto em comprimento. Não preciso, com certeza, de o dizer, mas digo na mesma: tenho o maior orgulho nos meus filhos e não estou a pensar vendê-los para ampliar a minha biblioteca, ok?

 

Uma pessoa tem filhos por inúmeras razões, e suponho que todas elas se misturem, desde as menos românticas - o relógio biológico que faz tic-tac - às mais românticas - um grande amor que deseja completar-se em forma de família. Todas elas são verdadeiras, acho eu.

 

Mas há uma coisa que me parece extremamente importante: a capacidade de nos projectarmos no futuro. Há uma espécie de teleologia familiar e amorosa que sempre me pareceu essencial, tanto para avaliar a firmeza de uma relação (será que eu quero ficar com esta pessoa até ao dia em que ambos tivermos dentaduras postiças enfiadas num copo da casa de banho?), como para avaliar a necessidade de uma família (será que se eu chegar aos 70 anos sem filhos sentir-me-ei realizado?).

 

E embora eu tenha sempre inúmeras dúvidas quanto ao presente, quando me projecto no futuro consigo responder com surpreendente facilidade àquelas questões. É até possível que me venha a enganar. É claro que tudo pode sempre desabar. É óbvio que ninguém deve dizer "desta água não beberei". Mas neste momento tenho suficientes certezas nas respostas àquelas perguntas, o que, sendo eu um filho da suspeita, não é coisa pouca.

 

Em resumo, não se confunda cansaço, frustração ou sofrimento com alguma espécie de arrependimento. Eu adoro estar sem eles, mas não consigo imaginar o que seria ficar sem eles.

 

O António Variações já explicou tudo há 30 anos:

 

publicado às 10:59


Como cortar melancia a alta velocidade

por João Miguel Tavares, em 29.04.14

Um dia eu vou ser assim na cozinha:

 

publicado às 09:54


A educação para o desprazer #2

por João Miguel Tavares, em 28.04.14

Vamos então às prometidas respostas a alguns leitores, após os meus dois posts sobre a educação para o desprazer e a paternidade recalcada. O problema deste blogue ter excelentes leitores - como diria um treinador de futebol, são bons problemas - é que de vez em quando há gente esperta que levanta o dedo para apontar contradições no nosso discurso. Portanto, comecemos com o caso do Anónimo de 26.04.2014 às 18:50, que escreve o seguinte:

 

Concordo totalmente consigo: de facto é ainda visto de mau tom (isto é um eufemismo) que se admita que nem sempre gostamos de ser pais. Mas pergunto se esta sua honestidade abrange a questão da maternidade. É que foi com muito espanto que vi uma sua entrevista no programa da manhã (não sei se é este o nome) na TVI em que depois das suas habituais gracinhas sobre como é difícil ser pai e como é um papel que nem sempre gosta de ter, com a rapidez de um relâmpago salvaguardou logo que isso já não acontecia com a sua excelentíssima esposa (seguido de imediato pelo seu co-entrevistado Tiago Cavaco que fez questão de afirmar o mesmo sobre a sua própria esposa).

 

Aliás, afirmou que nunca a tinha visto cansada do seu papel de mãe. Pergunto-me se não se apercebeu da incongruência que terá caído nesse momento: sim, porque deu à maternidade praticada pela sua esposa o tom cor-de-rosa (e que eu acredito que também nesse caso não será sempre verdade) que tanto critica... Pelos vistos ainda é mais tabu falar de como ser mãe também tem os seus dias maus e também elas, às vezes, se sentem cansadas de serem mãe (ui! Agora é que foi… que sacrilégio!). Pelos vistos ainda está para chegar o Salgueiro Maia da maternidade recalcada…

 

O vídeo a que o/a anónimo/a (suponho que seja uma senhora, mas se assinasse, isto seria mais fácil), é o que se segue, para quem não viu (aviso a quem está no trabalho: ainda são uns bons 20 minutos de conversa - mas vale sempre a pena ouvir o Tiago Cavaco).

 

 

A objecção é mais do que justa, e é absolutamente verdade que "ainda é mais tabu falar de como ser mãe também tem os seus dias maus". Eu sou um pai queixinhas de barriga cheia, porque vivendo ainda nós numa sociedade muito machista, um pai cansar-se de ser pai até é "giro", no sentido em que, pelo menos, está a falar da família, e se está a falar da família é porque se preocupa com ela. Não há maneira de uma mulher se escapar socialmente com este argumento tão básico. Nós, homens, sim.

 

É por isso, aliás, que eu me esforço tantas vezes por explicar que quando digo que acho que sou um pai com inúmeras limitações e não sou exemplo para ninguém não estou em modo fishing for compliments - é exactamente isso que sou e que penso de mim próprio. Não imaginam a quantidade de gente que insiste em me ver com os tais óculos cor-de-rosa mesmo quando digo coisas como "não acho graça nenhuma a bebés".

 

Mal digo isto, a tendência maternal do público feminino é acrescentar logo de seguida: "Ah, ele é tão fofinho [sou fofinho só porque estou a falar da família, note-se], é óbvio que está a brincar". E eu: "Não, não estou a brincar, caraças! Não gosto mesmo!" Gosto muito de crianças mas não acho piada nenhuma a bebés. Claro que os trato bem, faço cutchi-cutchi, mudo as fraldes, dou biberom, brinco com eles e gosto (imenso) de os ver a dormir, mas na lista de coisas com piada os bebés ocupam, literalmente, o lugar número 56 393 764.

 

Dito isto - e utilizando a clássica estrutura retórica de dar razão aos argumentos do interlocutor para depois não sairmos do lugar onde estávamos -, eu, ainda assim, mantenho-me fiel ao que disse: nunca vi a Teresa cansada do seu papel de mãe. O que é muito, muito diferente de nunca ter visto a Teresa cansada, até porque seria difícil, já que diariamente não vejo eu outra coisa.

 

Uma coisa é estar cansado. Outra coisa é estar cansado de se ser pai ou de se ser mãe. Eu estou frequentemente não só cansado como cansado de ser pai (acumulo, portanto, já que estão longe de ser actividades incompatíveis). A Teresa, não. Ela está frequentemente cansada, mas nunca de ser mãe. E se ela por acaso vier para aqui desmentir-me, e disser que sim, que de vez em quando acontece, eu garanto que só se for um cansaço espitirual, porque na prática não se vê nada.

 

Claro que ela também perde de vez em quando a paciência com os miúdos, mas não é a isso que eu chamo "cansaço de ser mãe/pai". Há vários níveis nisto. Quando eu coloquei neste blogue "A Canção Desnaturada" do Chico Buarque foi para fazer implodir qualquer réstia de politicamente correcto na relação pai/filho. Este tema - que está incluído numa opereta, e que tem, portanto, uma justificação dramática: trata-se de uma mulher jovem, mas adulta, que desobedece a um pai autoritário - não é sobre o cansaço de ser pai. É muito além disso - é raiva de ser pai. Isso eu nunca senti, graças a Deus, e penso que só sentirá quem concluir (um dia, mais tarde) que um filho cresceu para ser tudo aquilo que nós queríamos que ele não fosse.

 

Mas cansaço de ser pai, isso sim, sinto muitas vezes, daí a música me tocar tanto, e de ressoarem dentro de mim versos tão poderosos quanto:

 

Se fosse permitido
Eu revertia o tempo
Para viver a tempo
De poder (...)

Recuperar as noites (...)
Que atravessei em claro
Ignorar teu choro
E só cuidar de mim

 

Ui, quantas vezes senti isto em noites de desespero, naquele pára-arranca do sono quando os miúdos são bebés e não dormem de forma nenhuma? E o desejo de "só cuidar de mim"? Bem, com quatro filhos isso acontece-me para aí dia sim, dia não.

 

A excelentíssima esposa, contudo, é muito diferente de mim, e, sobretudo, muito mais generosa. Ela tem os filhos agarrados à pele, e acho que essa é uma das muitas razões pelas quais eu a admiro. E também pelas quais eu me irrito tanto com ela quando desespero por um fim-de-semana a sós, umas mini-férias a dois, três ou quatro dias de namoro ou de simples solidão, e esses dias tardam porque ela não quer sobrecarregar a família, porque há actividades extra-curriculares, por isto ou por aquilo.

 

Acho que a maior parte das mulheres são mais como eu do que como a Teresa; mas se eu acho efectivamente que ela é assim não lhe vou fazer aquilo que critico nos outros e inventar-lhe estados de espírito que ela não tem, para estarem conformes ao papel socialmente (ou até política-incorrectamente) aprovado.

 

Não é que a excelentíssima esposa tenha uma visão cor-de-rosa da maternidade. Mas ela transporta consigo os genes das antigas matriarcas, e eu sei que continuará a ser assim quando vierem os netos e, com sorte, os bisnetos, casa cheia aos fins-de-semana e eu a mandar vir com toda a gente por não conseguir ler em paz.

 

Portanto, e em resumo, a "incongruência" de que o/a anónimo/a me acusa é a incongruência própria de eu ser profundamente diferente da minha excelentíssima esposa neste aspecto das nossas vidas. A Teresa, para regressar ao título do post, sabe lidar de forma muito mais capaz do que eu com o desprazer, é uma especialidade na qual se doutorou há muitos anos - e, portanto, consegue assimilá-lo de forma a que o desprazer não seja assim tão desprazenteiro. Eu não. Eu preciso mesmo de me educar para ele, preparar-me para ele, aprender com ele.

 

Faço-me entender ou este post já saltou a barreira de senilidade psicanalítica?

 

 

publicado às 11:01


O martelo dos meus sonhos

por João Miguel Tavares, em 28.04.14

Quando é preciso fazer alguma coisa de macho por aqui - tipo arranjar torneiras ou tomadas ou furar paredes -, eu digo sempre à excelentíssima esposa: "Faz-nos muita falta um homem cá em casa." E, como é óbvio, o nosso único remédio é chamar mesmo um homem.

 

Mas isso é porque nunca antes fui apresentado a este martelo alemão, que embora eu não perceba nada de alemão se chama (acho eu) "latthammer". Reparem no vídeo de demonstração (é verdade, eu vejo as coisas mais esquisitas na internet):

 

 

O martelo tem um íman que segura o prego na sua própra cabeça, e aquele que é o maior receio de qualquer pregador - ficar sem a cabeça de um dedo ou com uma unha gótica - desaparece automaticamente. Há muitos latthammer, e de diferentes marcas, à venda na Amazon alemã, mas ó homens que visitam este blogue (e mulheres despachadas, vá, que eu não quero parecer sexista): isto vende-se por cá?

 

 

 

 

publicado às 10:15


Diálogos em família #38

por João Miguel Tavares, em 27.04.14

- Papá.

- Sim, Gui.

- E o contrário de dar comida é comer?

 

publicado às 11:20


Diálogos em família #37

por João Miguel Tavares, em 27.04.14

- Gui, tenho um jogo novo com antónimos. Sabes o que é que são antónimos?

- Não.

- São palavras que significam o contrário de outras. Por exemplo, o contrário de frio é calor. E o contrário de princípio é fim. Estás a perceber?

- Sim.

- Ok, então qual é o contrário de branco?

- Invisível?

 

publicado às 11:00


39 :-)

por João Miguel Tavares, em 26.04.14

Hoje é dia de festa: a excelentíssima esposa faz 39 anos. Eu podia estar aqui a dizer como ela continua magnífica e encantadora, mas como corria o risco de não acreditarem em mim, decidi recorrer aos desenhos que os nossos dois filhos mais velhos decidiram oferecer-lhe, logo ao acordar. Reparem como ela, aos 39, permanece jovem, elegante e bela. É impressionante.

 

Este é o desenho da Carolina:

 

 

E este é o do Tomás, ainda sob a influência da Revolução dos Cravos:

 

 

publicado às 11:56

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Os livros do pai


Onde o pai fala de assuntos sérios



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