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Caros senhores professores que adoram mandar trabalhos para casa:

 

Após ter passado um serão inteiro a construir um Pai Natal com cartolina e algodão, seguido de uma madrugada a recortar e imprimir fotografias da família para um manual de Português, enquanto a excelentíssima esposa preparava com sofisticação universitária uma aula especial sobre água para a semana da Ciência, venho por este meio propor a grelha análise que se segue, com três curtos pontos, que deverão ser cuidadosamente ponderados antes de enviarem trabalhos para casa, ou simples pedidos académicos, às criancinhas:

 

1. Assegurem-se que essa criancinha não pertence a uma família numerosa. É bué giro fazer trabalhos de casa com um filho único, mas não tem graça nenhuma ter de responder às solicitações de quatro putos diferentes, três dos quais têm uma montanha de actividades extra-curriculares. Às tantas não há mãos, estão a ver? Um gajo não consegue estar trinta minutos com a mulher. Não consegue ver uma série. Não consegue testar as molas do colchão. E porquê? Porque está a fazer recortes. 

 

2. As citadas actividades extra-curriculares são outro detalhe importante, a que convém prestar muita atenção. Há pais chanfrados (olhem para mim a levantar o braço) que entendem que a aprendizagem não se esgota na escola, e que acreditam que os filhos devem experimentar outras coisas além do Português e da Matemática. Lembrem-se, se faz favor, que essas outras coisas existem, são fixes, e que a minha filha mais velha, por exemplo, por ser doida e achar graça a demasiadas cenas, tem quase tantas disciplinas extra-curriculares como disciplinas curriculares. Por isso, ela não chega a casa para ficar a ver três horas de televisão como um nababo. A miúda mal tem tempo para se coçar.

 

3. Nunca - mas nunca - enviem trabalhos de casa que eles não consigam fazer sozinhos! Perdoem-me o sublinhado, mas este é o ponto mais importante. Eles não são auto-suficientes para fazer aquilo? Não mandem! Claro está que não me refiro às dúvidas que surgem ao tentar resolver um exercício de Matemática ou de Português. Isso é naturalíssimo e estou cá para ajudar. Refiro-me àqueles trabalhos manuais de encher o olho, àqueles projectos especiais hiperbólicos que estimulam imenso a competitividade dos pais, porque não será o meu filho a ter um globo terrestre em alto relevo mais pobrezinho do que o do Asdrúbal.

 

Não, não não! Nãããããooooo!!!! Eu já não tenho trabalhos manuais desde o sexto ano! E não quero ter! Terminaram em 1984! Não quero trabalhos manuais! Não quero recortes! Não quero colagens! Quero que um juiz impeça qualquer cartolina de se aproximar a menos de 10 metros da minha pessoa!

 

Desculpem-me os pontos de exclamação e os sublinhados, que eu costumo prudentemente manter afastados da escrita. Mas isto tem sido demais. Eu só quero descansar a partir das dez da noite, antes de cair para o lado às onze. Dá para ter uma hora para mim? Dá para ter um momento em paz com a excelentíssima esposa? OK, é verdade que ela prefere a produção de cristais com bicarbonato de sódio à minha companhia. Mas eu prefiro definitivamente a sua companhia à construção de pais natal.

 

Senhores professores, tenham muita, muita atenção a estes três pontos, está bem? Eu estou meeeesmo a precisar da vossa ajuda.

 

Agradeço por antecipação,

 

João Miguel Tavares 

 

DIY-Easy-Toilet-Paper-Roll-Santa-Claus.jpg

 

publicado às 10:01


302 comentários

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De mdb a 28.01.2015 às 15:26

Uma ideia radical: deixar os miúdos fazer os trabalhos sozinhos. Sim, mesmo que não entendam patavina. Não é suposto os trabalhos estarem 100% correctos, deixem os miúdos falhar. Deixem os miúdos aprender que é impossível ser-se o melhor a tudo e não há vergonha nenhuma em pedir para alguma parte da matéria ser explicada outra vez. Deixem os miúdos (e os professores) identificarem aquilo que precisa de ser trabalhado.
Se com essas idades têm este tipo de problemas, muito pior vai ser quando chegarem ao ensino secundário.
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De Paula F. a 22.01.2015 às 12:58

Nem sei como acabei neste blog pela primeira vez... O que eu sei é que o facto de não ser mãe vai originar provavelmente anticorpos ao meu comentário. Pois é, não sou nem mãe nem professora. Mas já ajudei muitas vezes, muitas crianças da família e amigos a fazer trabalhos. Gosto muito de o fazer mas, muitos dos pequenos, habituados a pais que confundem "ajudar" ou "ensinar" com "fazer", não gostam da minha ajuda e geralmente não repetimos a experiência...
É que eu não faço o que lhes compete fazer. Apenas AJUDO. Oriento, explico, reflicto em voz alta com eles até que cheguem às suas conclusões. E respeito as suas decisões mesmo quando, na minha opinião de adulto, o trabalho vai ficar pior...
A título de exemplo: o meu afilhado, na altura com pouco mais de 4 anos, teve que fazer um trabalho sobre o Japão (sim... pasme-se: 4 anos e calhou-lhe o Japão); Como é um menino muito inteligente e a madrinha tinha ido ao Japão... pediu-me ajuda. Fizemos - juntos - uma pesquisa de imagens, mostrei-lhe fotos minhas e ele escolheu quais queria usar, expliquei-lhe cada uso e costume representado nas fotos e, ele, recortou (a certa altura, doíam-lhe os dedos da tesoura e eu aceitei ajudar a recortar, com a condição dele não desistir de continuar a recortar mesmo com dores nos dedos e arestas imperfeitas), escolheu como queria colar na cartolina e foi para a "apresentação" do seu trabalho a fazer a vénia habitual dos japoneses, a saudação dos lutadores de sumo e terminou com um "arigato" :D
Deu algum trabalho... Aliás, deu muito mais trabalho do que fazer eu ;) Mas o importante é vê-los crescer. Fazer o seu caminho. E quando se escolhe ser pai... É bom que se saiba que educar é gastar tempo (não é perder, é investir tempo) a ensiná-los a ser autónomos e a não desistirem mesmo que a tarefa pareça demasiado grande para as suas capacidades. Um ensinamento muito mais útil para a vida do que andar no ballet ou aprender a tocar piano.
Quanto ao argumento da multiplicidade de crianças... De um lado tenho 4 sobrinhos (uma família grande) e o meu afilhado tem duas irmãs gémeas... Se as pessoas têm mais do que um ou dois filhos, sabem, com certeza, que terão que investir em cada um deles, como se fossem filhos únicos. Digo eu. Que não sou mãe. Nem professora. Mas sei o que são valores e sei o que me aflige uma geração de pessoas que estão habituadas a serem levadas ao colo, porque os pais lhes fazem os trabalhos, lhes compram o primeiro carro, etc. sem lhes explicar que só com esforço é que conseguimos o que queremos. Depois?! Bom, depois crescem e manifestam-se a dizer que o mundo lhes deve. Porque não aprenderam que também devem ao mundo...
Adoro crianças e acredito na sua capacidade para fazer tudo. Desde que não haja adultos a dizer-lhes que não são capazes...
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De DR a 03.12.2015 às 11:56

Thumbs up para este comentário (a para outros, mas não tenho tempo para tudo). Não tenho filhos também, mas concordo em pleno com o raciocínio. Além de que... tenho um fraquinho pelo Japão! :-D
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De Paula F. a 04.12.2015 às 10:45

O Japão, ou melhor Tóquio que foi onde estive, é absolutamente encantador.
E ver um garoto tão pequenino a aprender a saudação e a agradecer em japonês deixou-me embevecida. Irra que o meu afilhado é lindo e inteligente! :D
Ensinar é a mais nobre função que um ser humano pode assumir. E não é preciso ser professor. E querer aprender é uma grande virtude que espero manter até à morte.
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De alexandra a 03.12.2015 às 22:46

Eu sendo mãe, concordo com tudo o k disse, porque a escola não é um depósito e onde os deixamos e buscamos no final de mais um dia de trabalho exaustivo, se nós decidimos ter filhos é pra os ajudar porque nem tem que ser só os professores a ajudá los é nós pais que temos tmb de ter essa obrigação...
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De Paula F. a 04.12.2015 às 10:49

Infelizmente é mesmo isso: há pessoas que fazem das escolas depósitos de crianças. Mas se ensinar é principal função da escola, educar é a função dos pais. E isso não se faz largando as crianças em frente à televisão ou no apoio escolar para fazerem os trabalhos de casa. Dá trabalho. E não é um trabalho lindo ajudá-los a crescer? :-)
Claro que, pelo que é dado a ler, os donos do blog o fazem e fazem-no muito bem. Mas esta reclamação dos trabalhos de casa pode até ser um desabafo com graça mas não é, naturalmente, uma reflexão de valor absoluto e aplicável na generalidade dos casos.
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De 2w a 17.01.2015 às 16:59

Há uma coisa que temos que ter SEMPRE em mente, sempre.
Salvo excepções à regra, tanto os pais como os profissionais de educação amam os miúdos, não tenho duvidas disso.
É um tipo de amor diferente claro ! não o quero comparar, porque nem tem comparação possível, onde eu quero chegar é que as boas intenções estão presentes de todos os lados.
Cada um faz o que realmente acredita ser o melhor para a criança.

Provavelmente as pessoas esquecem isso, o que faz com que haja incompreensão e intolerância de ambos os lados.
Pelos vistos no caso dos TPCs. Há pais que acham os TPC óptimos, há outros que acham horrível, há professores que acham essencial , outros dispensável.

Solução satisfatória para todos é quase impossível, mas uma coisa é certa, ofender ou ridicularizar os professores ou os pais como eu já li muitas vezes ( principalmente nestes últimos anos), só diminui todos os envolvidos .

Mais uma vez ( exceptuando alguns casos) todos querem o melhor para os miúdos. Nunca esquecer isso.
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De Catarina Martins a 28.12.2014 às 16:21

Não posso deixar de comentar este post que acho traduzir em pleno o sentimento de quem não é professor.
Estou a espera do meu primeiro filhote.. Ainda não tive de participar nestes ditos trabalhos.. No entanto, porque a minha idade ainda não avançou muito, a minha experiencia escolar é relativamente recente. Nunca fui muito estudiosa, sempre tive facilidades de aprendizagem e lembro-me que os meus pais, pais de outro tempos que não faziam comigo os trabalhos de casa, sempre receberam "queixinhas" porque eu não fazia os trabalhos em casa, etc. Não foi por não fazer esses ditos trabalhos, que continuo a considerar excessivos, que não concluí os meus estudos com bastante aproveitamento e hoje considero que sou uma profissional muito competente naquilo que me formei. Talvez até mais, do que os professores e educadores, que enviam imensos trabalhos para casa para que as crianças estejam ocupadas em casa, quando não preparam convenientemente as suas aulas, usam as mesmas técnicas de ensino, apontamentos, etc, durante anos a fio. Se calhar, esses professores também necessitam de trabalhos de casa.
Este é meramente o meu sentimento em relação ao ensino português. Não quero de todo ofender ninguém apenas mostrar que também não concordo!!
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De Carlos a 15.12.2014 às 02:03

Eu estou a viver no Reino Unido e o meu filho esta no equivalente a segunda classe.
Por ca nao ha material escolar para trazer para casa alem da lancheira e do mini termo para a agua. Dez vez em quando, a sexta, o pequeno traz uns livrinhos com 14 ou 20 paginas para ler e trabalhos manuais sao esporadicos.
Os miudos aqui nao me parecem menos desenvolvidos cognitivamente e no futuro as universidades para eles sao muito boas tambem.
Com estes factos podem-se fazer varias analises, porem nao arrisco a faze-lo. Ha, no entanto, uma sugestao que gostaria de deixar, alias duas:
1- Sejam mais educados a trocar opinioes e na forma como se tratam. A educacao e o que nos destingue.
2- Este blog era suposto ser um desabafo em tom de piada, no entanto suscitou imediatemente uma discussao de valores. Para os pais e professores indignados tenho a dizer que se unao e facam-se ouvir de forma formal e inteligente. Se ninguem vos ouvir mesmo assim mudem o vosso voto eleitoral ou mudem de pais, como eu fiz.
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De Manuela Pina a 13.12.2014 às 17:10

Pais: continuem a enviar para o jardim-de-infância os vossos filhos. Mesmo que as turmas estejam cheias com 24 ou 25 crianças entre os 3 e os 5 anos. Haverá sempre uma educadora para curar uma mazela do corpo ou da alma, ensinar a recortar e a escorrer o pincel, a contar a história preferida do vosso rebento ou a fazer um teatrinho da mãe cabra e dos 10 ou 20 cabritinhos. Estará sempre disponível para ensinar a pular ao pé-coxinho ou a completar um puzzle ou uma gincana. E quando se aproxima o dia do pai e da mãe ou o Natal, essa mesma educadora ajudará cada um dos seus (muitos) alunos a construir uma prenda única para os pais. Porquê? Resposta simples: gosta das crianças que lhes são confiadas como se fossem seus filhos.
Por isso, papás, façam lá um esforço e façam os trabalhos de casa que de vez em quando vêm do jardim. Lembrem-se: essa regalia acaba quando eles fazem 6 anos. E o tempo passa num instante! Manuela
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De Anónimo a 16.12.2014 às 20:00

Não diga asneiras, os pais em casa fazem as actividades que quiserem com os filhos e não é por fazer outras actividades que não cortar cartolinas que deixam de gostar dos filhos, não se esqueça que eles são os PAIS!! Quer mandar trabalhos de casa mande mas coisas que para as crianças fazerem e que são capazes de fazer, ou são trabalhos de casa para os Pais?!? Portugal é dos paises com mais trabalhos enviados para fazer em casa e não é por isso que vejo que sejamos um Pais com maior sucesso escolar que outros, pelo contrario.
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De Anónimo a 09.12.2014 às 11:50

Bom, o texto está a começar a ficar viral e ainda bem.
Já chega tarde, pois pelas minhas mãos passaram:

Pressepio (inteiro com burrinhos e tudo a que este tem direito!!)
Pai natal
Reis magos
Postal Natal
Poema de Natal
Bolas de Natal (a mais bonita fica na arvore da escola)
até a "#$da do azevinho..

Depois de 1 dia de trabalho em que queremos estar um pouco sossegados levar com isto é obra!
Quero acreditar que os Sr. Professores tenham filhos nas mesmas condições .
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De Marta Dionísio a 07.12.2014 às 00:51

Fico feliz que tenha tido a coragem e segurança de dizer em voz alta o que eu ando, há algum tempo, a remoer em silêncio. Ámen.
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De rsalvado@sapo.pt a 06.12.2014 às 17:39

Eu já fui assim, muito stressada, por falta de tempo, estar em familia era ao fim de semana. Tenho uma filha de 21 meses que anda na creche, um filho com 7 anos que anda no 2°ano. A minha prioridade durante a semana é ao final do dia estarmos em familia 30 min que seja pois às 21h30 estão na cama. Eles passam o dia todo na escola e no ATL. No final do dia precisam de conversar do dia, de brincar com os pais, de estar com os pais....são crianças, bolas, precisam e tem de brincar, já lhes chega o dia todo na escola. Quando é enviado um trabalho extra curricular ou manual para casa, se houver tempo de o fazer em conjunto, pois bem faz se, senão nao se faz. É a minha prioridade ao final do dia, estar em familia.
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De Anónimo a 05.12.2014 às 23:45

Pois...
Adorei todos os comentários e só me faz rir para não chorar a pensar na falta de professora colocada na escola que se lembra de em 2 semana marcar um teste que conta para nota, total de 17 páginas para estudar, mas não faz mau, podemos apresentar um trabalho de casa que conta para a nota e ajuda na média final. ok
Isto é bonito quando o menino se lembra as 21:30 de dizer -"ahh mãe é verdade, tenho que entregar amanhã este trabalho, ajudas me ?? "
OOOOOOOOOO NNOOOOOOOOOOO !!!!!!
Bem, tenho de ir, ainda falta imprimir algumas fotos para o trabalo, afinal foi assim que vim cá parar nos comentários... Desviei a pesquisa de imagens um pouco ;)

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