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Todos os anos a Teresa vai à escola dos miúdos dar uma aula sobre o corpo humano, que pelo que sei (infelizmente, sou grande e não posso assistir) é sempre um sucesso.
Como já terão percebido as pessoas que passam por este blogue, a Teresa quando se aplica é imparável. E quando ela se aplica imparavelmente, eu vou a reboque. As suas capacidades de persuasão, no que me dizem respeito, sempre foram muito eficazes.
Por isso, no dia de hoje, e embora alegadamente nada tivesse a ver com a aula de corpo humano, eu já...
...acordei às seis e meia da manhã para desenhar um sistema circulatório em papel cenário, no qual os miúdos conseguissem andar...
...fui à farmácia comprar um pacote de máscaras cirúrgicas...
...fui ao supermercado comprar Cheerios, porque parece que depois de passados por corante ficam parecidos com glóbulos vermelhos...
...e, de caminho, trouxe também umas gomas para servirem de plaquetas e uma caixa de mirtilos.
...além de uns cogumelos que, à falta de melhor, poderiam fazer (pareceu-me a mim) de glóbulos brancos...
... depois fui ao talho, buscar a encomenda que a Teresa já tinha feito no início da semana: as entranhas de um porco, todas ligadinhas - língua, traqueia, pulmões, coração, fígado. Poupo-vos à fotografia e só espero que não haja crianças vegetarianas na turma do Tomás...
... regressei a casa para o inevitável apoio informático na hora de sacar e imprimir imagens...
... e quando pensava que poderia largar o sistema circulatório e começar a trabalhar, ainda fui informado que os cogumelos eram péssimos glóbulos brancos e tive de ir a correr comprar umas bombas de açúcar brancas a uma loja de doces...
...quando tudo isto acabou, eram 11 da manhã, e a Teresa saiu disparada para a escola. Eu, pelo meu lado, fiquei a olhar para as paredes, mais uma vez confrontado com o velho problema de estar a trabalhar em casa e ser envolvido nos hiperbólicos planos da minha querida mulher. A consequência é esta: o trabalho propriamente dito fica sempre para trás, porque há urgentíssimas 345.726 coisas para fazer.
Para a excelentíssima esposa, os assuntos familares têm sempre, mas sempre, prioridade - mesmo que esses assuntos sejam uma simples aula sobre o corpo humano, que ela prepara com a devoção de uma apresentação em Oxford. Gosto tanto que ela seja assim - e lixa-me tanto ela ser assim.
Porque 80% daquilo que a Teresa considera ser dever familiar é, pura e simplesmente, um luxo que oferecemos a nós próprios, por termos algum tempo e algum dinheiro. Ou seja, não é, em bom rigor, dever nenhum, ao contrário do meu trabalho, que deveria ser claramente considerado prioritário - mas fazer a excelentíssima esposa aderir a esta magnífica teoria é o cabo dos trabalhos. Ando há 10 anos a tentar, sem sucesso.
Felizmente, a aula deve ter sido do caraças.