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E se ter filhos não for assim tão giro? #5

por João Miguel Tavares, em 27.06.14

Partes IIIIII e IV. Hoje, a parte V.

 

PARTE V

 

Sim, a vida dos pais. A nossa vida. Nós. Homens. Gajos. Os tipos que se riem com as piadas do Louis C.K. e o Go the Fuck to Sleep de Adam Mansbach. Por que raio é que tão pouca gente pensa nas nossas naturalíssimas crises existenciais perante a total reconfiguração da lógica familiar contemporânea? Porque é que tanta gente tem dificuldade em perceber que nós partilhamos as mesmas angústias das mães (ou pior: outras angústias, menos estudadas, já que a academia e o jornalismo lhes liga pouco), e que da mesma forma que o mundo das mulheres mudou radicalmente quando elas saíram de casa, o mundo dos homens mudou radicalmente quando eles entraram em casa?

 

 

Atenção: não entraram em casa para se estenderem no sofá e pedir à esposa para ir buscar uma cerveja ao frigorífico. Entraram em casa para dar banho aos filhos, para dar de jantar aos filhos, para estudar com os filhos, para deitar os filhos, para executar todas aquelas tarefas que durante 200 mil anos, desde o aparecimento do tal homo sapiens, nunca haviam sido tarefa sua. Nós, homens, que estamos geneticamente programados para caçar mamutes, acabámos elefantes no meio da sala – e ninguém parece reparar em nós.

 

 

São muito poucos – escandalosamente poucos – os estudos que se preocupam em analisar o papel do pai na família moderna. Em 2001, Leonor Segurado Balancho publicou em Portugal uma tese de mestrado intitulada O Novo Papel do Pai na Educação dos Filhos: Coparentalidade e Diferenciação, à qual se seguiu, dois anos depois, um pequeno livro na Editorial Presença chamado Ser Pai, Hoje. O facto de esse livro já ir na sua nona edição confirma que ser pai hoje é mesmo um problema.

 

Desde logo, há a questão básica do tempo que o pai passa dentro de casa. Informa a autora:

 

Nos anos 60, nos países ocidentais, os pais das crianças com menos de cinco anos passavam em média, diariamente, 12 minutos com elas; em meados dos anos 70 esse número aumentava para 17 minutos, e estava em 43 minutos diários nos anos 80. Os valores mais recentes mostram que o nível de interacção se elevava, nos finais dos anos 90, a cerca de 2-3 horas por dia, correspondentes a dois quintos do tempo passado pelas mães.

 

 

O resultado dessa presença crescente é a alteração do papel do pai, de disciplinador a cuidador, de simples ganha-pão familiar a fonte indispensável de afectividade. O livro de Leonor Segurado Balancho é sobretudo didáctico e, em certo sentido, paternalista: ela identifica o papel eficaz do pai moderno e estimula o macho ibérico a adaptar-se a ele. Mas o mais interessante não é isso – é identificar que impactos essa presença causa nos pais e a forma como o novo papel doméstico modifica as suas próprias expectativas de vida.

 

E para sabermos isso, temos de viajar novamente até à América, e em particular até ao Center of Work & Family do Boston Colegge (uma universidade privada propriedade dos Jesuítas), departamento onde em 2009 começou a ser realizado o pioneiro estudo The New Dad, que logo na primeira frase da introdução clarifica aquilo que realmente está em causa: “Nos lares da América, os pais iniciaram uma revolução silenciosa.” Finalmente, alguém nos dá a devida importância. Até porque não foi só nos lares da América.


(Parte V de VII. Continua amanhã.)

 

publicado às 09:39


2 comentários

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De Sílvia a 27.06.2014 às 16:45

Quero introduzir aqui uma questão, que pode ser levado a sério, ou nem por isso! E serve para desanuviar um pouco desta situação toda!

A palmada educativa/pedagógica nos meninos (diferente de tareia, repito), que muitos pais são contra, mesmo sendo nos filhos dos outros! Agora esses mesmo pais, vamos partir do princípio que têm uma vida sexual activa e bué da louca com os respectivos, e em pleno acto dão ou recebem A (ou as, para os mais danados!) palmada não tão pedagógica! A força será mais ou menos a mesma, talvez mais nesta última do que na criança... E então, também são contra??!! Afinal também é violência física, segundo o argumento dos defensores!

Sim, sou eu que sou um pouco tarada, fazer o quê??!!
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De Sofia Lopes a 27.06.2014 às 17:07

AHAHAHAHAHAHAHAHAH muito bom :D

Ó Sílvia, aí já estamos a falar de uma coisa completamente diferente, estamos a falar do chamado "tau-tau maroto", são conceitos distintos, não confundamos as coisas...

E supostamente quem recebe, aceita de bom grado :D

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