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Eu estou com a Joana #2

por João Miguel Tavares, em 14.01.14

Estava eu a responder a um comentário da Joana Silva a propósito deste post, quando de repente percebi que a resposta que lhe estava a dar poderia ser ela própria um bom post para o blogue, na medida em que elaborava sobre uma coisa de que me tenho vindo a aperceber progressivamente e que não vejo muitas vezes comentada.

 

Podemos resumir a coisa desta forma: nós somos péssimos a corrigir certos defeitos dos nossos filhos quando sentimos que nós próprios tínhamos esses defeitos quando éramos da idade deles.

 

Não sei se me faço compreender, mas seguem exemplos para tornar isto mais claro.

 

Por exemplo, a Joana abordou a Teresa com o problema clássico de como conseguir tirar a chupeta a um filho, sobretudo quando ele há muito passou a idade de andar com um penduricalho na boca. Mas a Joana deixou também um link para o seu blogue onde aborda o assunto da chupeta de forma mais detalhada. A certa altura, ela conta isto:

 

Não quero tirar-lhe a chupeta à força, comigo correu mal e passei a chuchar no dedo até à adolescência. Sempre disse que quando chegasse a altura certa ele saberia entregar a chupeta, mas já percebi que vai ser um processo doloroso! 

 

Não quero estar aqui com reflexões freudianas de trazer por casa, até porque não percebo nada do assunto. Quero apenas consolar a Joana dando-lhe exemplos de como, cá por casa, nós temos o mesmo problema com coisas diferentes, mas que vão entroncar num padrão comum: damos um mega-desconto aos filhos sempre que reconhecemos que nós também sofremos com determinado assunto quando éramos pequenos.

 

Ora, isso eleva, demasiadas vezes, o nosso grau de tolerância em relação a certas coisas, e provavelmente não devia ser assim. Até porque nada obriga a que eles sigam os nossos passos.

 

Digo "provavelmente" porque há um lado bom nesta atitude: nós não queremos ser hipócritas. Não queremos exigir aos nossos filhos aquilo que não queríamos fazer quando tínhamos a idade deles. Parece-me um bom sentimento. Mas, em tais casos, talvez o melhor seja atribuir às respectivas caras-metades, que não partilham os nossos "traumas de infância", a resolução desses assuntos em específico.

 

Exemplos concretos muito cá de casa. Eu, por exemplo, tenho uma imeeeeeeensa tolerância com as esquisitices de guarda-roupa do Tomás. O Tomás morre de medo de ser envergonhado na escola por ter uma t-shirt demasiado bebé, um casaco demasiado colorido, uma calças com um padrão demasiado rebuscado, e sei lá mais o quê. Não suporta que alguém goze com ele. Só que aquilo é manifestamente excessivo, e ele às vezes já inventa gozos e vergonhas onde eles não existem.

 

Mas lá está - eu, que sou frequentemente um bruto, neste tema em particular sou 100% manteiga. Ao contrário da Teresa, que sobre isso é muitíssimo mais dura do que eu. Porquê? Porque eu passei exactamente pelo mesmo do Tomás quando tinha a idade dele. Olho para ele e vejo-me a mim. Também eu era super-tímido e envergonhado com porcarias que não tinham interesse nenhum.

 

A excelentíssima esposa tem o mesmo problema, só que com temas diferentes. A Teresa, por exemplo, tem uma tolerância, aos meus olhos incompreensível, com os medos nocturnos da Carolina e a paixão que ela tem por dormir com outras pessoas (salvo seja). Seja madrinhas, primas, mãe ou pai, a Carolina adora sentir-se acompanhada, e eu passo-me da cabeça com as fitas que ela às vezes faz para arranjar companhia. Tal como me passo da cabeça com o número (imeeeeeenso) de vezes que a Teresa cede e fica um bocadinho na cama com ela até adormecer (como a excelentíssima esposa é sofisticada, ela argumenta que está a ter conversas "muito importantes" com a filha).

 

De onde é que vem todo esta tolerância para com o adormecimento mariquinhas de uma miúda que tem quase 10 anos? Lá está: da própria história pessoal da Teresa, que dormiu acompanhada durante muito tempo na sua infância e que sentia os mesmos medos que a Carolina. Eu, que nunca passei pelo mesmo, tenho bastante menos compreensão em relação a este tema em particular.

 

Eis a razão, Joana, porque acho que toda esta situação lhe está a ser tão difícil: a Joana projecta com grande facilidade no presente aquilo que tanto lhe custou no passado. Como eu a compreendo. Duvido é que nesta altura do campeonato consiga tirar a chucha da boca ao seu filho sem haver um par de noites complicadas. Mas se ele não a usa na escola é optimo sinal: significa que é sensível à pressão social e que, a bem dizer, já não precisa dela para grande coisa.

 

Mas conselhos mais fundamentados só mesmo oriundos da mamã que é médica. Ou de sábios leitores que já passaram pelo mesmo. Venham daí as partilhas, que eu prometo dar-lhes a minha melhor atenção aqui no blogue.

 

publicado às 10:19


36 comentários

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De Marta Brito a 15.01.2014 às 11:30

Eu chupei no dedo até muito tarde (tenho vergonha de dizer até quando) e os meus pais usaram todas as estratégias possíveis e imaginárias para me impedir. Quanto mais ralhavam comigo, mais vontade eu tinha de chupar. Ameaçaram-me tanto com a ideia de ser apanhada e gozada pelos colegas que eu só chupava em casa, mas vingava-me e, enquanto estava em casa, não largava o dedo. Como chupava no polegar esquerdo conseguia fazer os trabalhos de casa ao mesmo tempo:)
Quando o meu segundo filho começou a chupar no dedo fiquei aflita. A estratégia foi não dar muita importância e ele largou o dedo mais cedo do que os três irmãos deixaram de usar chupeta.
Boa sorte, Joana!

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