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Sobre as praxes #4

por João Miguel Tavares, em 06.02.14

Tenho lido nas caixas de comentários - como já vai sendo felizmente habitual - excelentes textos sobre as praxes. Deixem-me salientar a honestidade do texto da Carolina (a 05.02.2014 às 21:17) e a elaboração do texto da margo (a 06.02.2014 às 20:53), que vale a pena ler integralmente, mas cujos argumentos não resisto a trazer parcialmente para aqui, até porque me farão poupar imenso latim. Ora reparem:

 

Gostei bastante desta metáfora de ser do Benfica e querer ir às Assembleias Gerais do Sporting [NR: a leitora refere-se a um comentário anterior do Pedro Silva I (convém estar atento, porque há um Pedro Silva II), que escreveu: "Porque raio é que alguém, no seu perfeito juízo, diz-se contra uma coisa (a praxe) e quer participar nas actividades dela? Isto é como eu ser do Benfica e querer ir às Assembleias Gerais do Sporting."].

 

Servindo-me das linhas gerais, imaginemos que uma pessoa se mudava para a freguesia de Alvalade. No primeiro dia, aparecia-lhe um grupo de pessoas do Sporting a exigir o pagamento da quota no clube. Se a pessoa fosse do Sporting e quisesse ser sócio do clube, ficaria toda contente por não ter de se deslocar ao estádio para se tornar sócio. O problema surgiria se a pessoa em questão não gostasse nada de desporto ou fosse um acérrimo benfiquista. Uma pessoa pode ir viver no bairro de Alvalade porque diversas razões, seja porque escolheu ou porque não conseguiu encontrar uma casa na sua primeira opção. O grupo de Sportinguistas devia apenas deixá-lo em paz (pedir desculpa pelo incómodo também seria de bom tom). 


Em todos os códigos de praxe que li pela internet fora nestas últimas semanas, assume-se à partida que todo o caloiro está sujeito à praxe, excepto se se afirmar anti-praxe. Acho que essa é a fonte do problema. Para que o estatuto anti-praxe lhe seja formalmente reconhecido tem de informar os veteranos ou, em alguns casos, formalizar o pedido junto de um conselho de veteranos. Ora, para um caloiro anti-praxe, um veterano não tem mais autoridade – nem moral, nem jurídica – sobre um caloiro do que um administrador do Sporting sobre um habitante de Alvalade.

Acho que o problema da praxe deixaria de existir (mas preservando a praxe enquanto instituição) se, ao invés de existir a possibilidade de dizer não à praxe, quem quisesse ser praxado tivesse de dizer sim à praxe. Podiam, por exemplo, montar uma banquinha junto à repartição académica nos dias das matriculas, dando a conhecer o código porque se regem e as vantagens de pertencer ao clube de praxistas. Se o caloiro, já esclarecido ao que ia, quisesse fazer parte do clube, bastar-lhe-ia inscrever-se. Até lhe podiam dar uma t-shirt no momento da inscrição para ser inequivocamente identificável pelos praxadores na primeira semana (certamente que conseguiriam o patrocínio de alguma cervejeira para fazer as t-shirts) e depois era só fazerem o que fazem agora, sabendo que toda a gente estaria a participar porque achava a experiência divertida e enriquecedora e ninguém viria argumentar que foram coagidos.

 

Se quiserem, podem continuar a ler o resto na caixa de comentários, porque vale a pena. Eu daqui a umas horas voltarei com aquele que se espera ser o último texto meu sobre o tema (sim, imagino que já estejam um bocado enjoados).

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publicado às 22:55


15 comentários

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De Anónimo a 07.02.2014 às 09:46

Eu por acaso gostava de saber mesmo era em relação ao traje. Faz-me mesmo confusão.
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De Carlos Duarte a 07.02.2014 às 10:12

O quê em relação ao traje? Se pode usar traje? Pode, é de uso livre. Aliás, nem sequer (actualmente) é de uso exclusivo aos alunos do ensino superior.

Quando eu praxava (e quando fui membro de uma comissão de praxe, no último ano do curso) faziamos questão de explicar aos caloiros que era mentira que alguém que fosse anti-praxe não pudesse trajar. Poder, pode. Mas - na nossa opinião - fazia pouco sentido (um bocado como se alguém resolvesse andar de sotaina - poder, pode, mas é algo sem sentido).
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De Anónimo a 07.02.2014 às 10:50

Pode até ser sem sentido.
Mas para os pais que "sempre sonharam" ter um filho trajado (leia-se licenciado), é de real importância.
E muitos são os que se sujeitam à praxe apenas e só por isso. Para dar esse orgulho aos pais que andam a fazer o esforço de os ter a estudar.
Aconteceu com muitas amigas minhas.
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De Carlos Duarte a 07.02.2014 às 10:56

Caro/a Anónimo/a (peço desculpa, mas não dá para perceber...),

Não discuto isso e, como disse, nada impede essa pessoa de usar o traje. No entanto - e o que não faz sentido - é que essa pessoa pode usar o traje, mas não terá (pelo menos na FEUP, na minha altura) imposição de insígnias, participação oficial no Cortejo, algures jantares de curso "académicos", etc. E o motivo porque não terá é porque essas actividades são organizadas pelos "praxistas", para outros "praxistas" (que os caloiros também são, já agora).
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De Anónimo a 07.02.2014 às 10:52

Mas é sem sentido porque? Não, não estou a criticar, nem a implicar.
Nunca andei na universidade e não sei mesmo como são essas coisas e gostava de perceber.
Sempre pensei que o traje era uma "coisa obrigatória". Anda na universidade, tem um traje (tipo farda...). Sei que sou inculta, mas como nunca andei não faço ideia e gostava de perceber melhor... só isso.
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De Carlos Duarte a 07.02.2014 às 10:59

Cara Anónima,

Não, o traje não tem regulamentação legal (já teve, mas não tem). A regulamentação que existe é feita pelos Conselhos de Veteranos das diversas academias, via Código de Praxe.

Ou seja, quem traja sem querer pertencer à praxe está, de facto, a "imitar" os praxistas, o que para mim é algo estranho...

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