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Sobre bater (ou não bater) nas crianças #12

por João Miguel Tavares, em 25.06.14

Lamento, lamento, lamento. A culpa não é minha, mas da Paula N., que deixou a seguinte pergunta:

 

E lá voltámos ao tema da palmada!! Daqui a pouco o blog muda de nome para "palmadas a quatro"... eheh, estou a brincar! Mas já que estamos novamente a falar sobre esse assunto, gostaria de lhe pedir a sua opinião sobre um assunto: a palmada em público!! Deve ser dada? Devemos de esperar até chegar a casa? Nesses casos, NUNCA aplicamos a palmada e temos apenas uma conversa com a criança?

 

No outro dia, quando fui ao Continente, vi uma rapariga talvez nos seus 10/11 anos a ser um pouco mal educada e a ter uma discussão com a mãe que acabou com duas palmadas bem dadas no rabo. Se no início estava com raiva da miúda e até a mim me apetecia ir lá aplicar-lhe um par de estalos, assim que a miúda apanhou até me deu pena a forma como ela se sentiu envergonhada e humilhada. O que faria nesta situação? Um ralhete? Uma palmada? Ignorar?

 

Devo dizer-lhe, cara Paula, que uma das maiores humilhações da minha vida aconteceu no Centro Comercial Colombo, quando a Carolina tinha para aí três ou quatro anos. Ele começou a fazer uma birra louca, já não sei porquê, e eu decidi agir tipo árbitro de futebol: isolá-la das outras pessoas e puxá-la para um canto, só para ver se ela se acalmava. Não lhe toquei com um dedo, mas só por causa do gesto de agarrar nela e tirá-la dali a espernar, houve uma senhora de idade que começou aos gritos comigo de "pai mau!, pai mau!" e a dizer que ia chamar a polícia.

 

Visto à distância a coisa tem uma certa graça, mas na altura não teve piada nenhuma, porque um pai que está numa situação dessas não tem forma de se sair bem. Ou começa a chamar nomes à senhora e a manda para o raio que a parta e lhe diz para se meter na sua vida, coisa que a mim me custaria sempre fazer porque acho que há casos em que temos mesmo a obrigação de nos meter na vida dos outros, ou então convida a senhora a chamar a polícia, e ficamos a conversar com a autoridade sobre González vs Estivill, ou então sai rapidamente dali para fora com a família. Seja como for, nenhuma solução é boa. Felizmente, a Teresa estava lá e acabou por pegar ela na Carolina e a situação acalmou. Mas nós acabamos sempre humilhados em público.

 

Tudo isto para dizer o quê? Em primeiro lugar, que ser pai é estar preparado para passar vergonhas. Ou seja, se tiver que ser, se tivermos mesmo de corrigir um filho naquele momento, se não pudermos deixar passar, se ele estiver mesmo a ultrapassar todos os limites, eu acho que devemos estar preparados para o fazer em público e arcar com as consequências de uma má interpretação social. A conveniência de manter as aparências só pode ir até um determinado limite - porque se cedermos a tudo por estarmos rodeados de desconhecidos, um filho mais dado à chantagem será sempre rei e ditador assim que colocar um pé fora de casa. Não pode ser.

 

Só mais um acrescento: no meu livro de pediatria mental, palmadas no rabo é só para aí dos dois/três aos quatro/cinco anos, quando eles começam a testar os limites, por vezes exageram nas birras, e ainda não é possível ter uma conversa decente com eles, ou aplicar-lhes um castigo (perdão, um reforço positivo) eficaz. A partir daí, há uma compreensão do certo e do errado e instrumentos que dispensam, em princípio, a nalgada. E tudo isto varia, como é óbvio, em função da personalidade dos filhos. Há alguns a quem basta dizer que estamos tristes com eles para se porem na linha.

 

Por isso, muito sinceramente, não me imagino a enfiar um estalo - até porque nunca dei estalos - ou uma palmada numa filha de 10 ou 11 anos. A não ser, claro, que ela passasse todos os limites - mas aí não seria um estalo educativo, mas uma punição por um enorme desrespeito, que tanto poderia dar a uma criança como a um adulto. Claro está que isto sou eu a falar agora. A minha filha mais velha tem 10 anos, portanto ainda não sei o que a adolescência me reserva. Se calhar daqui a três ou quatro anos ando por aqui de cabeça perdida a defender as virtudes da palmada até aos 18, para grande horror da Maria e da Helena Araújo.

 

 

publicado às 15:26


1 comentário

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De Lourenço Bray a 26.06.2014 às 10:07

ah, sobre a situação do Colombo, eu não teria batido na minha filha acho eu, mas teria pedido à minha filha para bater com força na velha enquanto eu a manietava e lhe torcia um braço. Era father-daughter bonding e íamos comer um gelado depois.

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