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Os conhecimentos geográficos de alguns leitores nunca deixam de me espantar. A propósito da resposta a esta questão, a Rita acertou na mouche, com impecável rigor:
Posto de vigia florestal na Serra das Talhadas, junto ao Chão do Galego.
É mesmo isso. Para quem não sabe, o Chão do Galego fica ao pé dos Montes da Senhora, onde a Teresa foi criada, que por sua vez faz parte do concelho de Proença-a-Nova, distrito de Castelo Branco.
A vista do posto florestal das Talhadas é incrível. No dia em que lá fomos conseguia-se ver a Torre, na Serra da Estrela, que fica a uns bons 100 quilómetros de distância.
Há muito que a Teresa queria subir com os miúdos ao cimo da serra do Chão do Galego, e nestas férias aventurámo-nos a isso, tendo como guia de luxo o meu sogro, que ainda ali guardou muitas ovelhas quando era criança e conhece todos os recantos (incluindo essa espécie de gruta chamada Buraca da Moura, que o JMCF também refere nos comentários).
Levantámo-nos às seis e meia da manhã (sempre uma excitação para os miúdos) e aproveitámos a fresquinha para uma caminhada de uma hora, hora e meia, até lá a cima. A Rita é que teve de ficar em casa com a avó, porque aquilo ainda era um grande esticão para ela.
Foi bem divertido. Uma manhã passada no meio da natureza dá sempre dez a zero ao melhor jogo de iPad.
Já agora, quem adivinha onde é que isto é? Foi tirada no mesmo síto da foto do post anterior.
A vista é esta:
E esta:
Ah, e já sabem: eu não dou prendas a vencedores. Isso é a fofinha da minha mulher.
Há coisa de dez dias começámos a ver em família a série Band of Brothers (Irmãos de Armas, em português, mas eu gosto muito mais do título original), que tanto eu como a Teresa adoramos.
Trata-se, para quem não sabe, da história de um grupo de soldados americanos pertencentes à 101.ª divisão aerotransportada, que desempenhou um papel fundamental na Segunda Guerra Mundial após o Dia D e que ainda hoje continua a ser uma das unidades mais prestigiadas - e condecoradas - do exército americano. A série, produzida por Steven Spielberg e Tom Hanks para a HBO, foi premiadíssima e é considerada um marco na história da ficção televisiva.
Por isso, e dado o fascínio que a Segunda Guerra Mundial provoca em qualquer miúdo, decidimos que tinha chegado a hora de ver a série em família. Quer dizer: não é bem, bem em família. É mais 66,6% em família. De um modo geral, nós vemos - nos dias em que dá tempo, claro - um episódio entre o final do jantar e a ida para a cama, o que significa que a Rita já está a dormir. E quanto ao pacifista Gui, ele recusa-se sabiamente a ver a série:
- Tem tiros?
- Sim, tem tiros, Gui. Muitos tiros.
- Então não quero ver! Não gosto de tiros.
E lá se vai ele embora para o quarto de brincar, ver um filme de que goste mais. E que não tenha tiros, claro.
Mas os dois mais velhos adoram ver a série, ainda que a Carolina o faça acompanhada da sua - e cito - "almofada de choro". Ela chora invariavelmente de cada vez que morre alguém de quem ela gosta muito, e a almofada do choro é uma fonte de consolo.
Já o Tomás vive aquilo de forma completamente diferente. Ou seja, vive como eu vivia quando tinha a sua idade e papava todos os filmes de guerra e de cowboys que passavam pela televisão. Ele gosta é de ver os tiroteios, as armas, os uniformes, as patentes, para depois fazer as suas próprias guerras com os seus soldados miniatura. Ele gosta tanto, aliás, que leva metade do tempo a pensar nisso.
Este é o cartaz que eles ontem tinham nas mãos à minha chegada ao aeroporto.
Notaram alguma coisa de estranho ali do lado direito? Vamos então fazer um zoom, para ver melhor:
Ora cá está o pormenor mais divertido do cartaz: o Band of Brothers Mendonça Tavares, uma unidade de elite caseira, devidamente equipada com capacetes, pistolas e metralhadoras. Até a Ritinha está preparada para a invasão da Normandia, neste belo desenho de amor paterno-materno-fraterno-filial em tempos de guerra. Adorei. Se nos encontrarem na rua, já sabem: não se metam connosco, que isto é uma família de paraquedistas pronta para tudo.
O título de cima pode parecer uma pepineira e aquilo a que Nelson Rodrigues chamou o óbvio ululante - claro que viajar é giro porque estamos juntos. Mas eu pergunto: será assim tão claro? Nós cá em casa já viajámos com os miúdos imensas vezes, mas só agora, vá lá saber-se porquê, é que adquiri plena consciência deste simples facto: o mais importante numa boa viagem em família não é sair com ela mas entrar dentro dela. Ou seja, nós saímos de casa para estarmos mais próximos uns dos outros.
Paradoxal? Não para quem olhe para o frenesim diário de uma família de seis elementos em tempos de escola e de trabalho. É muito fácil estarmos a vários quilómetros de distância ao mesmo tempo que esbarramos uns nos outros na mesa da cozinha. Isso não acontece quando viajamos. Viajar, na verdade, não é ir. Viajar é, sobretudo, parar. E eu acho que descobri isso com clareza quando andei aos tiros com os meus filhos nos dois quartos do hotel da Disneyland.
O Tomás comprou uma espingarda e dois revólveres de cowboy, o Gui duas pistolas do seu Buzz Lightyear, a Carolina o fato da heroína do filme Brave (com arcos e flechas incluído), e a certa altura nós aproveitámos este imenso arsenal para uma sessão de coboiada à moda antiga, que meteu barricadas com cadeiras, reféns desprotegidas (a pobre mamã), duelos à filme de Hollywood e flechas espetadas no tecto do quarto. Foi muito divertido, e sei que esses 15 ou 20 minutos de brincadeira à faroeste se irão tornar numa das recordações mais especiais desta viagem.
Os miúdos pediam com frequência para voltar para o apartamento, sobretudo quando os obrigávamos a andar com fartura em Paris. A Teresa sentia quase sempre isso como um desperdício - afinal, como é possível estar em Paris e "não aproveitar"? Mas a verdade é que estar num quarto de hotel pode ser uma forma de aproveitar, desde que estejamos concentrados neles.
Claro que temos de os estimular, e empurrá-los para ver coisas que à partida não lhes apetecem - a cultura geral às vezes tem de ser mesmo metida a martelo. Mas, de facto, para eles sentirem que estão num sítio especial não precisam sequer de sair do hotel. Podíamos dormir na Brandoa ou na Bobadela e para eles seria igualmente especial.
Paris, como tão bem explica o Bogie à Ingrid, é um estado de espírito. Será sempre especial desde que estejamos juntos, fora do sítio do costume, sem as preocupações do costume, e com uma disponibilidade para eles que não costumamos ter.
Regressado ao lar doce lar e às maravilhas do wi-fi a preços comportáveis, queria deixar aqui algumas meditações sobre a nossa experiência na Disneyland de Paris. Nós já tínhamos ido com a Carolina e com o Tomás há quatro anos, mas ir com dois miúdos de quatro e de seis não tem nada a ver com ir com quatro miúdos de seis, oito, 10 e 11. Aliás, a própria Disney me pareceu diferente (não sei se sou eu que estou mais velho), e para pior: o merchandising tomou conta de tudo, os próprios funcionários parecem estar mais desleixados naquela sua alegria encenada e, pelo menos na minha cabeça, havia mais animação nas filas de espera.
A bem dizer, para quem já se libertou do imaginário do Rato Mickey e já é mais adolescente do que criança, diria que uma viagem até Port Aventura é bem mais proveitosa do que uma ida à Disney. Claro que nós fomos no Verão a Barcelona e à Disney no Inverno (não é bem a mesma coisa), mas a verdade é que enquanto parque de diversões puro e duro, o Port Aventura é melhor.
Mas uma das coisas que desta vez me fez mais impressão foi a falta de civismo generalizada, que eu não atribuo propriamente à decadência da civilização ocidental mas ao galinhismo crescente de papás e mamãs - o que faz com que tudo pareça permitido desde que se arraste uma criança pela mão. Eu já tinha sentido isso da única vez que me apanharam num Festival Panda - há progenitores que se tormam verdadeiros selvagens quando se trata de circular com a sua prole no meio de uma multidão.
Nós, pais, estamos mal habituados. Como a maior parte das vezes andamos com os nossos filhos por lugares onde as crianças não estão em maioria, as pessoas tendem a ser simpáticas, seja no metro ou no meio da rua. Mas a Disney é o império das crianças, há putos por todo o lado, e atrás dos putos um par de pais ciosos das suas crias, da mesma forma que uma mamã urso capricha na protecção do seu bebé.
Foi por pouco que não assiti a batatada nas filas de espera, ou na luta por um melhor lugar para ver a parada, ou simplesmente para sair de um autocarro. Ter o cuidado de deixar passar toda a gente de uma família antes de entrar onde quer que seja? Ah, ah, ah, boa piada. Os miúdos até se podem divertir muito, mas escola de bons valores é que a Disney não é. A gentileza não circula por ali, e o espírito é de competição assolapada pelo melhor pedaço de felicidade.
A família chegou ao final do dia a Lisboa, e desde então:
1. Esqueci-me de uma prenda muito especial e valiosa que comprámos para a minha mãe no banco de um dos táxis (nós precisamos de dois) que nos trouxeram a casa. Como não pedi recibo (desculpa, Maria Luís), nunca mais a vou ver.
2. Tinha na caixa do correio três cartas das Finanças a informar-me que tenho de pagar um valor obsceno até ao início de Abril, ainda respeitante ao IRS de 2010 (tenho um velho conflito com os senhores da Autoridade Tributária, que acham que os meus textos não devem ser considerados ao abrigo da criação artística e literária, mesmo que posteriormente já tenham sido publicados em livro).
3. Numa mini-jogatana de futebol na sala, partiu-se (mais uma vez) uma peça de que a excelentíssima esposa gosta muito.
Se calhar é melhor voltar para Paris.
Serve este post para avisar os nossos fabulosos leitores que amanhã à tarde eu e a Teresa partimos com três filhos e uma super-sobrinha para aqui:
Ah pois é. Após alguns anos de insistência, acedemos regressar à Disneyland de Paris. O Gui nunca lá esteve, o Tomás tinha para aí quatro anos e já nem se lembra bem, e como eles fazem todos anos entre Fevereiro e Março (excepto a Ritinha) fizemos o seguinte negócio: não havia festas de anos nem prendas para ninguém, juntava-se tudo e marcava-se uma viagem para a Disney em época baixa, seguido de um pulinho de dois dias a Paris (esta foi uma borla que lhes demos, porque estando lá, é preciso subir à Torre Eiffel).
Assim, eles só faltam um dia às aulas, na sexta-feira (vez sem exemplo), e parece-me uma bela forma de passar o Carnaval. A mãe queria levar a Rita, mas o seu marido ameaçou-a com um colete de forças e uma denúncia no Júlio de Matos. Portanto, a Ritinha vai fazer birras e amuos para casa dos avós alentejanos durante cinco dias.
A má notícia é que vai ser mais difícil estar sempre a actualizar o blogue. Tentaremos tirar fotografias e pedir autógrafos ao Pato Donald e respectiva família, mas não prometemos a regularidade do costume. Quer dizer: eu não prometo a regularidade do costume. A excelentíssima esposa de certeza que vai conseguir manter a regularidade do costume. (Desculpem, não resisti.)
Disneyland, aqui vamos nós.