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Nos últimos dias, os vírus da época fizeram muitos estragos cá por casa. À conta deles, o Gui teve que faltar à escola. Como eu passo todo o dia no hospital, num desses dias insisti com ele para que escolhesse um livro que gostasse muito, fizesse uma cópia de uma página e treinasse a leitura. Combinei com ele que o ouviria ler antes de dormir.
À noite, quando cheguei a casa, ele pegou-me logo na mão e mostrou-me o seu árduo trabalho do dia, que me garantiu ter sido feito com muita dedicação, apesar de se sentir muito doentinho.
E o seu trabalho era este:
Fiquei um bocado estonteada a olhar para o caderno, sem perceber nada do que era aquilo. Mas que raio de gatafunhos eram aqueles?!? Palavras em inglês? Números esquisitos? Nomes incompreensíveis a saltar de linha em linha?
Resolvi não me descoser logo, pois o Gui continuava ao meu lado de sorriso escancarado, muito orgulhoso e expectante.
Até que olhei para a caixa que estava mesmo ao lado do caderno e comecei a encontrar algumas semelhanças com a cópia do Gui...
Claro! Qual livro, qual quê!
Para o Gui, nada melhor do que copiar todas as palavras da caixa do seu adorado quadricóptero (o excelentíssimo esposo está a querer iniciá-lo no mundo dos drones, provavelmente para em breve poder começar a espiar as vizinhas), com o qual ele não se cansa de brincar, mas que o papá só o deixa utilizar quando está ao seu lado.
Tantas vezes o Gui olha para a caixa, a namorá-la, que a achou perfeita para a cópia que lhe foi exigida. A criatividade do Gui continua imparável. Tal como a sua resistência em fazer banalmente as coisas mais banais.
Pergunta número 4 do teste de 1.º ano de Estudo do Meio.
Autor da resposta: Guilherme Mendonça Tavares.
Tecnicamente pode estar errado.
Mas quem conhece bem o Gui sabe que está certíssimo.
Cá em casa tenho três tipos de loucos por futebol:
- Um, que adoraria ser um verdadeiro craque (leia-se "verdadeiro craque em potência", cujas hipóteses de sucesso foram goradas por um pequeno problema de balneário e pela falta de vontade dos seus papás em que ele se transformasse num menino cujo cérebro fosse uma brazuca), a quem chamam mini-Ronaldo na escola, e que passa o dia com uma bola nos pés. Uma "a sério", na escola, e outra em casa, bibelôs-da-mamã-friendly, made by IKEA, que o acompanha em todas as suas deslocações e tarefas domésticas (seja comer, dormir, estudar ou idas ao WC).
- Outro, mais pequenote, que adora o seu mano-craque da bola e que, apesar de não ter uma pinguinha de jeito para manobrar o esférico, não desiste de seguir o seu irmão para a escola com uma bola igual à dele, mas em miniatura, e umas gigantes luvas para ajudar o mano na necessidade permanente de ter à sua disposição um guarda-redes.
- Outro, mais entradote, que não perde uma oportunidade para dar uns chutos na bola, seja com mini ou macro-craques, e organiza toda a sua agenda (e a da sua família) de acordo com as marcações dos jogos do Benfica (mas nem pensar em assumir isso em voz alta). E de cada vez que o seu clube perde um jogo fica mais rabugento do que o capitão Haddock quando lhe roubam a garrafa de rum.
No meio disto tudo, passo o dia a levar com bolas na cabeça, a tratar feridas resultantes dos combates pelo esférico, a calar choros por fintas mais entusiasmadas e rasteiras por falta de fair play, a aturar rabujices por ter a veleidade de sair de casa para alguma actividade em família e não voltar a tempo do início do jogo do Benfica...
Help!!!
O problema com o nosso Gui, agora que ele entrou para a escola primária, é que a sua criatividade, e as maluquices que lhe passam pela cabeça, vão com frequência longe demais.
Ontem de manhã a Teresa sentou-se para o ajudar a fazer os trabalhos de casa, pediu para trazer o seu estojo, e quando o abriu, para além do habitual conjunto de lápis todos roídos, encontrou isto:
Isto, para o caso de alguém não perceber, até porque mais parecem cogumelos laminados, são os restos da falecida borracha do Gui, que ele decidiu cortar às postas, vá lá saber-se porquê.
Este início de primeiro ano tem sido para nós uma preocupação constante. O Gui, como seria de esperar, não tem nada a ver com os outros irmãos, e é tão difícil conseguir que a sua cabeça aterre como a sonda Philae acertar num cometa que viaja a 510 milhões de quilómetros da Terra. Em termos estritamente pedagógicos, não é uma coisa consoladora.
A Teresa acha que ele é o astronauta Spiff: mesmo quando olha para nós, não é a nós que ele está a ver.
Acho que a Teresa tem razão.
É só para avisar os visitantes cá de casa que as regras para entrar no quarto do Gui, já antes definidas neste post, alteraram-se durante o dia de ontem. Dado nem sempre ser fácil acompanhar a velocidade a que a tecnologia evolui dentro da sua cabeça, eu faço o papel de livro de instruções.
Como se explica neste desenho, afixado na porta e produzido com a sofisticação e o cuidado habituais, não se pode entrar no quarto de qualquer maneira.
A imagem da esquerda significa (pedi-lhe que me traduzisse os gatafunhos) que a Carolina não pode abrir a porta rodadando simplesmente a maçaneta. Ela tem de marcar o código. E que código é esse?
Este código:
Quem tem a sorte de possuir este código super-exclusivo, pode então introduzi-lo no teclado que se segue, sem dúvida uma das grandes criações do maluco cá de casa (atentem só na pachorra):
Depois de introduzido o código, basta carregar no botão vermelho.
Que botão vermelho? Este botão vermelho:
E pronto, é isto. Se nos vierem visitar, já sabem.