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A vacinação e o surto de tosse convulsa nos Estados Unidos

por João Miguel Tavares, em 18.09.14

Via Facebook, a Filipa Varela chamou-me a atenção para esta notícia do jornal Sol sobre um surto de tosse convulsa em Los Angeles e o facto de ele estar relacionado com a moda da anti-vacinação nos Estados Unidos, sobretudo entre as classes mais abastadas. Resumo:

 

É em Los Angeles que se situa o epicentro de um inédito surto de tosse convulsa que já vitimou três bebés. Pelo menos 72 casos foram acompanhados pelo Hospital Pediátrico de Los Angeles. “Tossem com tanta força que vomitam e fracturam costelas, acabando intubados e ventilados”, descreve o especialista de infecciologia da instituição, Jeffrey Bender, citado pelo Hollywood Reporter.

 

Pelo menos 8.000 casos foram diagnosticados por toda a Califórnia desde o início do ano. Desde os anos 50 que os EUA não enfrentava um surto de tosse convulsa desta dimensão, graças a décadas de vacinação. O esforço, no entanto, parece estar agora a ser revertido pela recusa dos pais em vacinarem os filhos. Também o número de casos de rubéola nos EUA se encontra no nível mais alto dos últimos 20 anos.

 

As autoridades sanitárias de Los Angeles criticam os pais que recusam vacinar os seus filhos, argumentando que não são apenas as suas crianças que ficam em perigo, mas também as dos outros pais.

 

Nestas coisas convém ter sempre algum cuidado, e fazendo uma pesquisa encontrei esta notícia no Washington Post em que um outro surto atingiu 16 crianças de Montgomery County na primeira semana de escola - só que aparentemente todas elas haviam sido vacinadas.

 

Em LA, contudo, parece que existe efectivamente aquilo a que já chamam uma "crise de vacinação". É ver aqui ou aqui.

 

O assunto não pode ser mais sério, e ele já foi abordado aqui há uns meses no PD4. Sobretudo este A Mamã É Médica da Teresa (que saudades dos tempos em que ela escrevia estas coisas...) parece-me bastante esclarecedor. Há coisas sérias com as quais não se devia brincar, atirando pela janela décadas de progresso científico.

 

publicado às 09:31


A mamã é médica #10.1

por Teresa Mendonça, em 16.04.14

O excelentíssimo marido resolveu encostar-me à parede: 

 

Eh pá, sabem o que é que era mesmo fixe? Era eu estar casado com uma médica, e ela também ter um blogue tipo Pais de Quatro, estão a ver? Assim poderia discutir a questão das vacinas, dar a sua opinião informada, e tal. Seria tão proveitoso para os leitores do blogue... Enfim, sonhar não custa, não é?

 

A questão da vacinação está longe de ser consensual, mas sendo uma questão de saúde pública (e não individual, como se poderia suspeitar por alguns comentários ao post sobre o artigo de Daniel Oliveira), não pode deixar de ser discutida com profundidade.

 

A vacinação em Portugal, através do Plano Nacional de Vacinação (PNV), é universal e gratuita e tem um carácter orientador e incentivador. O PNV foi revisto e actualizado diversas vezes, a última das quais em 2012, de acordo com as alterações do padrão epidemiológico das doenças, o comportamento dos doentes perante medidas preventivas, o desenvolvimento social e dos serviços de saúde e o desenvolvimento científico e tecnológico que ditam o aparecimento de vacinas mais eficazes e seguras e terapêuticas mais eficientes.

 

Só existem duas vacinas que são obrigatórias em Portugal - contra o tétano e contra a difteria, através de uma lei de 1962 que nunca foi revogada. Mas até essas podem não ser administradas se os pais das crianças assinarem um termo de responsabilidade próprio para o efeito. O PNV é, em alguns grupos especiais (doentes imunodeprimidos, profissionais de risco, viajantes para áreas endémicas, entre outros), adaptável a normas próprias de acordo com as suas necessidades.

 

Os benefícios da vacinação superam largamente o simples benefício da pessoa imunizada, visto que a existência de crianças não imunizadas afecta a comunidade de diferentes formas, aumentando o risco da própria criança contrair a doença mas também o risco de contágio a outras crianças imunizadas ou susceptíveis (que não podem receber determinadas vacinas por questões relacionadas com a sua saúde ou dificuldades económicas, no caso de vacinas não incluídas no PNV), comprometendo a cobertura igual ou superior a 95% para as vacinas do PNV, percentagem fixada internacionalmente como necessária para garantir a imunidade da comunidade (há uma excepção a este objectivo de cobertura, que é a vacina contra a infecção pelo vírus do papiloma humano - HPV).

 

A decisão da não vacinação de uma criança tem de ser bem fundamentada e é obrigação dos pais procurar, junto dos profissionais de saúde competentes para o assunto, o acesso a informações credíveis e fundamentadas que exponham os riscos e benefícios da vacinação. A criação de movimentos anti-vacinação em todo o mundo, mas de modo preferencial na Europa, fez proliferar a disponibilidade de informação errada, sem qualquer comprovação científica, que é apresentada como irrefutável e essencial para quebrar a "suposta" pressão da indústria farmacêutica que, sem olhar a meios para atingir os seus fins comerciais, expõe a comunidade a "perigos incalculáveis".

 

Existem milhares de blogues e sites que divulgam dados que não têm qualquer fundamento, mas são esses dados que chegam mais facilmente aos olhos dos pais honestamente preocupados em procurar o melhor para os seus filhos, que não querem tomar essa decisão de ânimo leve. E é fácil de perceber porque os media preferem dar tempo de antena num horário nobre a uma linda e famosa actriz, que encabeça uma forte campanha para a libertação/recalendarização da vacinação nos EUA, e não a um pediatra que explica, com dados comprovados, os benefícios da vacinação.

 

Em 2007-2008, na sequência da exibição de programas com imensa visibilidade como o Oprah Winfrey Show, Larry King Live e The Ellen Show, que convidaram em sequência a actriz Jenny McCarthy - mãe de uma criança diagnosticada como autista aos 3 anos de idade e que responsabilizou a vacinação pelo diagnóstico do filho -, a percentagem de pais que recusaram vacinar os seus filhos nos EUA aumentou significativamente.

 

Assistiu-se à ocorrência de verdadeiros surtos de doenças evitáveis pela vacinação, nomeadamente sarampo e tosse convulsa, com ocorrência de raras mas muito graves complicações associadas a estas entidades. Actualmente a mesma actriz (que publicou um livro bestseller na altura da mediatização) já veio a público afirmar que recusa ser associada a movimentos anti-vacinação, e até mesmo que a doença do seu filho foi reclassificada e que não pertence às doenças do espectro do autismo. Infelizmente, o efeito devastador das suas anteriores declarações é irreversível.

 

Outro dos factos que mais prejudicou a vacinação foi a publicação, em 1998, de um artigo na revista The Lancet pelo cirurgião Andrew Wakefield relacionando autismo e vacinação. O artigo foi posteriormente retirado pela conceituada revista científica por ter ficado provado que o referido cirurgião (que entretanto perdeu a sua licença médica, e que na altura não declarou ter sido pago por uma empresa de advocacia que tinha em curso vários processos contra empresas produtoras de vacinas) alterou as histórias clínicas de todos os 12 doentes que fizeram parte deste estudo que deliberadamente relacionou, através da falsificação de dados, as vacinas e o autismo.

 

Este estudo não foi reprodutível por mais nenhum outro e anos mais tarde, depois de muito dinheiro gasto na repetição de ensaios que não mostraram qualquer relação entre as vacinas e o desenvolvimento de autismo (dinheiro e energia que não foram empregues na tentativa de obter respostas sobre as causas reais do autismo e sobre como ajudar as crianças e familiares que vivem com ele), o seu trabalho foi definitivamente comprovado como errado. Mas o impacto do estudo ultrapassou largamente o da sua refutabilidade e ainda hoje há imensas pessoas que acreditam nos dados por ele apresentados.

 

Existem vários sites credenciados que devem ser consultados pelos pais que se preocupam em proteger os seus filhos dos riscos das vacinas. Não existem vacinas 100% seguras nem eficazes e essa preocupação é compreensível. Por isso, discutirei nos próximos posts alguns dos problemas sobre vacinas que mais preocupam os pais.

 

No entretanto, deixo aqui vários sites credíveis onde as pessoas mais preocupadas com este tema devem procurar informação que depois devem discutir com os pediatras das suas crianças:

 

O site Vacinas, e o Portal da Saúde, em português.

Centers for Disease Control and Prevention.

American Academy of Family Physicians (colocar na janela de busca o termo "vaccines" - para quem não domina o inglês, também existe uma versão do site em espanhol).

American Academy of Pediatrics.

Infectious Diseases Society of America (conhecido como IDSA).

Institute for Vaccine Safety, da Universidade John Hopkins.

O portal Allied Vaccine Group, precisamente dedicado a reunir informação de sites credíveis sobre vacinação.

National Foundation for Infectious Diseases.

O site da Organização Mundial de Saúde, com muitos dados globais sobre o tema.

Vaccine Information You Need, bem organizado e bastante "amigo do utilizador".

Por fim, a conhecida FDA, US Food and Drug Administration, popular em filmes e série de televisão, e que também sem preocupa com vacinas.

 

 

publicado às 09:43


Se ao menos houvesse uma médica neste blogue...

por João Miguel Tavares, em 03.04.14

Eh pá, sabem o que é que era mesmo fixe? Era eu estar casado com uma médica, e ela também ter um blogue tipo Pais de Quatro, estão a ver? Assim poderia discutir a questão das vacinas, dar a sua opinião informada, e tal. Seria tão proveitoso para os leitores do blogue... Enfim, sonhar não custa, não é?

 

publicado às 22:30


Será que os pais devem poder não vacinar os filhos?

por João Miguel Tavares, em 03.04.14

Na sua habitual coluna do Expresso online, o Daniel Oliveira escreve hoje um excelente texto sobre esta nova moda de alguns pais acharem que não devem vacinar os filhos. A sua crónica chama-se "Não vacinar os filhos, uma moda que põe todos em perigo" e levanta questões muito interessantes sobre o tema da responsabilidade individual versus responsabilidade colectiva. Este é mais um assunto onde eu também sou muito pouco liberal. Aconselho todos a irem lá ler e depois, se quiserem, voltarem aqui para discutir o assunto.

 

Deixo apenas uma citação, para abrir o apetite:

 

Enquanto, por esse mundo miserável milhões de humanos lutam desesperadamente por não morrer de doenças banais, muitos europeus e norte-americanos surfam numa onda "New Age", feita de mitos e de teorias pseudocientíficas, onde a convicção vale o mesmo que a ciência. Mas não vale. E foi graças à ciência e à generalização das vacinas que ganhámos esta sensação de segurança que, curiosamente, tem ajudado a crescer o estranho movimento antivacinas.

 

O resto pode ser encontrado aqui.

 

publicado às 09:52



Os livros do pai


Onde o pai fala de assuntos sérios



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