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A Teresa foi a um congresso em Paris. Após a sua partida, a Rita apareceu ao pé de mim com uma mini-mamã em papel, muito bem desenhada e recortada. Eu distingo as mini-mamãs das simples princesas pelos óculos. As princesas não têm óculos. As mini-mamãs têm.
Disse a Rita:
- Fiz este desenho para ti. Põe ao teu lado na almofada à noite. Assim não tens de dormir sozinho.
A nossa última filha disse adeus ao seu primeiro dente.
Aula de geometria para crianças de quatro anos.
Professora da Rita - O que é isto?
Rita - Um triângulo.
Professora da Rita - O que é isto?
Rita - Um círculo.
Professora da Rita - O que é isto?
Rita - Uma almofada.
Estudo dos pontos cardeais para o teste de Estudo do Meio do 3º ano.
Teresa - O Sol nasce a Este e põe-se a Oeste. Se ao meio-dia o Sol estiver nas nossas costas, o que é que temos à nossa frente?
Gui - Uma sombra.
No próximo sábado, vou matar saudades de conversar sobre putos ranhosos em particular, e sobre a família em geral. Vai ser na Biblioteca Municipal de Oeiras, pelas 17 horas, com a minha amiga Sónia Morais Santos e com a Marta Moncacha. Apareçam, minhas senhoras e meus senhores - e tragam os putos, que a malta não se importa com barulheiras.
Há três dias que durmo, pela primeira vez na minha vida, com uma quarentona. Tem sido uma experiência muito agradável.
Esta senhora aqui em cima fez 40 anos no domingo, mas por causa deste senhor aqui em baixo, passámos o dia a celebrar um baptizado, em vez de termos passado o dia a celebrar um aniversário.
O baptizado foi óptimo e a festa que se lhe seguiu também, mas eu não concordei com a opção da Teresa. Só que, como por esta altura já bem sabe toda a gente que passa pelo PD4, eu não mando nada. Os meus protestos por o baptizado, ao contrário dos anos, poder perfeitamente ser noutro dia foram por água abaixo, com o argumento tereséfilo de que o Tomás faz parte de um grupo coeso de catequese, a paróquia marcou o baptizado para aquele dia juntamente com outras crianças da idade dele, e isso era mais importante do que a festa dos 40 anos.
Eu percebo, discordando. Passámos os meus 40 anos em Nova Iorque, foram uns dias inesquecíveis, com 40 velas apagadas num maravilhoso muffin de chocolate. Para os seus 40, a Teresa tinha escolhido viajar em família (vá lá saber-se porquê, ela prefere andar com os miúdos atrás em vez de viajar só comigo) e tínhamos já combinado passar uns cinco ou seis dias nos Açores, aproveitando os belos preços das low cost (com um rebanho de seis não pode ser de outra forma). Mas com a marcação do baptizado para 26 de Abril foi tudo por água abaixo.
Ainda pensei em fazer uma coisa bué romântica, tipo arrancá-la no domingo à noite e viajar para qualquer parte, mas a nossa actual logística doméstica e profissional é tão complicada que assassina qualquer romantismo. Mais do que isso: continuo a ser demasiado tímido para impor a minha presença à minha própria mulher. Fazendo ela tanta questão de ir com as crianças, não ia estar a armar-me em Don Juan, já que era impossível arrastar os miúdos em semana de escola. Donde, o romantismo foi obrigado a ficar em suspenso até aos meses do Verão. Esperemos, pelo menos, que dê para nos vingarmos aí. Acho os 40 demasiado importantes, em termos simbólicos e psicológicos, para não serem devidamente celebrados.
De tudo aquilo que tinha imaginado restou o quê? Restou um anel, que eu queria muito, muito que fosse especial. Felizmente, encontrei, no meio de uma investida pelo El Corte Inglés, uma marca portuguesa de joalharia chamada Eleuterio e foi amor à primeira vista. Ignorante como sou nestas coisas, desconhecia por completo a marca, que fui googlar mal cheguei a casa. Fiquei fã para a vida: eles trabalham a filigrana em estilo déco, com uma originalidade e um requinte extraordinários, e não havia uma única peça pela qual não apetecesse partir a montra e levar para casa.
Além de ter colares de cair para o lado, a peça mais impressionante era um anel em ouro rosa, mas como custava a módica quantia de oito mil euros, achei que era melhor deixar para os 80 anos. É este aqui em baixo, mas garanto-vos que a imagem não faz minimamente justiça àquilo que é o anel ao vivo.
Portanto, tive de optar por uma das jóias mais modestas da marca, mas que tinha todo o simbolismo que eu desejava para esta ocasião. É um anel da linha Blossom, uma flor dourada, que na verdade eu gosto de imaginar ser um trevo de quatro folhas, para dar mais sorte: quatro pétalas, quatro filhos, quarenta anos. E 23 minúsculos diamantes, que juntos compõem a data mais importante da nossa vida em comum: 2/3, 2 de Março, o dia em que começámos a namorar, em 1992. Ou seja, há... 23 anos.
O 2 de Março é também o dia em que nasceram os nossos dois rapazes, o Tomás (2 de Março de 2006) e o Gui (2 de Março de 2008). Bonitos mistérios. Vão-se as viagens, ficam os anéis: os designers e artesãos da Eleuterio não fazem ideia, mas este anel foi obviamente feito a pensar na Teresa e na nossa relação.
Eu gosto muito destes jogos simbólicos, e do esforço de corporizar ideias e sentimentos. E por isso gosto tanto desta jóia, e de tudo aquilo que ela representa: a enorme sorte de ter encontrado há 23 anos a mulher da minha vida. A minha Teresa. A minha quarentona.
Este senhor aqui em baixo baptizou-se no domingo (nós cá em casa optamos por baptizar as criancinhas na altura da primeira comunhão, que é para já terem alguma noção do que lhes acontece quando a água lhes cai na moleirinha).
Olhem só a pinta:
Os meus dois filhos rapazes não saem ao pai: adoram produzir-se, o que inclui andar, nas ocasiões especiais, de blazer, de gravata e de... (respirar fundo)... sapatos vela. A sério. O Tomás adora sapatos vela. Adora tanto, aliás, que pediu à mãe para lhos comprar especialmente para este dia.
Há uns meses já tinha pedido para lhe comprarmos pólos, e eu olhei para ele como se tivesse sido adoptado, após ser descoberto num berço abandonado junto ao campo de golfe da Quinta da Marinha. E agora - pimba - sapatos vela. Só falta mesmo começar a tratar-me por você e a dar beijinhos solteiros na bochecha direita.
Acho incrível como nós criamos filhos betinhos sem sequer nos apercebermos disso. Enfim, suponho que faça parte da vida, e da tão desejada ascensão social.
Mas será que não podíamos ascender de ténis e de t-shirt?
- Tira a chucha da boca, Rita. A chucha é só para dormir.
- (...)
- Tira a chucha, da boca, Rita. Tu és bebé?
- (...)
- Rita! Tira a chucha da boca! Tu não és crescida?
- Sou uma bebé crescida.