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Quem foi o gajo que inventou os bichos da seda?

por João Miguel Tavares, em 29.04.13
Como se não bastasse ter de arrastar quatro putos até ao litoral alentejano, num monovolume com malas até ao tecto, eis que a nossa última viagem em família foi acompanhada de uma caixa de sapatos furada. Com o quê lá dentro? Eu sei que vocês já adivinharam. Sim, bichos da seda.


Eu adorava bichos da seda quando era pequenino. Mas entretanto aprendi a odiá-los, desde que se tornou obrigação dar-lhes hospedagem doméstica a cada Primavera. Primeiro, era só em casa. Mas agora também já fazem excursões: eis a nossa simpática família de 10 bichos da seda, em pleno Zmar. Ainda bem que eles foram introduzidos clandestinamente na nossa Zvilla - de outra forma, cobrar-nos-iam a estada.

E pergunta o caro leitor muito inteligentemente: mas por que raio foram vocês acartar com uma dezena de lagartas para o Alentejo? Boa pergunta. Fomos acartar com lagartas porque sexta à tarde já não havia mantimentos para os bichos, que são muito dados ao alimento. Donde, não os pudemos deixar à míngua durante dois dias inteiros. E assim, na sexta-feira, antes de sairmos de Lisboa, a excelentíssima esposa e o excelentíssimo esposo tiveram de andar à cata de folhas de amoreira, já com os putos todos enfiados no carro.


Ora, eu percebo tanto de árvores como de bilhar às três tabelas (minto: percebo mais de bilhar às três tabelas), de modo que preciso sempre de ser assistido nessa nobre tarefa de descobrir que raio é uma amoreira, antes que envenene os bichos com uma folha de qualquercoiseira. Felizmente, a excelentíssima esposa não só parece ter descoberto o que era uma amoreira após investigar o assunto (nem imaginam como acho isso admirável), como vislumbrou um espécimen perdido a um quarteirão da nossa casa.

Claro que quando chegou a altura de atacar a folha da única amoreira na zona da Avenida de Roma, adivinhem a quem coube a tarefa? Ah, pois. E então, estava eu em pleno processo de gamar folhas de amoreira, já juridicamente indeciso se aquilo era legal ou não (ó juristas que visitam o Pais de Quatro: a malta pode roubar folhas a árvores públicas ou incorremos num qualquer delito?), quando sou verbalmente atacado por uma senhora muito velhinha, acabada de sair de um prédio vizinho da maltratada amoreira.

E a senhora velha começa logo a queixar-se, brandindo a bengala. Que as pessoas estragavam a pobre amoreira, que aquilo era uma vergonha, coitadinha da árvore, tão raquítica e tantas vezes transformada em banco alimentar. Eu pedi imensa desculpa e tentei confundir a velhinha com um paradoxo existencial: está bem que a árvore não gosta que lhe tirem as folhas, mas se as folhas não lhe forem tiradas, do que é que se alimenta um bicho da seda? O que vale mais aos olhos da Deus: uma família de bichos da seda famintos ou uma amoreira aliviada de uma dúzia de folhas?

Mas já se sabe: as velhinhas, embora com certa queda para a filosofia, não são muito dadas a este género de reflexões. Razão pela qual ela se afastou a resmungar e a chamar-me nomes. Resultado: como se já não me bastasse ter a casa invadida por bichos vegetarianos e bulímicos, ainda vou ter de passar por humilhações sempre que for à procura de comida para eles, espreitando por cima do meu ombro, a ver se não me aparecem mais senhoras velhas. Se ser pai de quatro já é lixadíssimo, por que raio tenho ainda eu de andar a criar lagartas? Que caraças. É que no meio de tanta gente e de tanto bicho, quem está a precisar mais de construir um casulo sou mesmo eu.

publicado às 23:08


1 comentário

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De Gigi a 30.04.2013 às 14:58

Ora bem, não é que esta sábado, andava eu a passear no parque das nações, na zona norte, ali quase por baixo do inicio da ponte vasco da gama e encontrei uma amoreira e lembrei-me que quando era miúda o que eu não teria dado por aquela árvore tão vistosa, cheia de folhas para alimentar os meus bichos.

Para o leitores que andem à procura destas árvores, há mais 3 exemplares, na estrada nac. 10, entre Alverca e Alhandra, em frente ao Max Mat (passo a publicidade).

Boa sorte para a criação.

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