por Teresa Mendonça, em 11.01.13
Uma leitora escreveu: "O meu filho de 4 anos, que mamou em exclusivo até aos seis meses e mamou até aos 12, odeia leite. Ja tentei com sabores, batidos de fruta, de soja, sem lactose e não consigo que passe o copo dos lábios. Também nada de iogurtes, queijo e afins. O único leite que consigo que beba, e tem de ser pontualmente, é o da Mimosa, com chocolate, light. De manhã, o pequeno almoço é sempre farinha láctea. Ao lanche mando dia sim dia não o leite mas nos restantes dias, apenas sumo ou água. Como ele gosta de pudins, mousse, arroz doce, podem estes ser opção ou aqui os benefícios do leite são anulados pelo açúcar?"
Algumas crianças, nos primeiros anos de vida, passam por fases em que não querem beber leite e/ou os seus derivados. Quando isso acontece (até lhe costumam chamar "greve aos lacticínios") e a criança não apresenta sinais que façam suspeitar da existência de uma doença (e isso o seu pediatra dir-lhe-á), geralmente trata-se de um mecanismo fisiológico de auto-regulação do metabolismo do cálcio e da gestão que o corpo faz dele. A esmagadora maioria dos nutricionistas e pediatras dizem que nestes casos se deve respeitar as vontades biológicas da criança, desde que estas não correspondam a birras ou caprichos (e para isso a criança vai ter que ingerir cerca de 15-17 vezes o alimento antes de poder ter "autoridade" de dizer que não gosta dele).
Não podemos, no entanto, esquecer que as proteínas e o cálcio são indispensáveis na infância e adolescência para o crescimento e desenvolvimento da massa óssea. Há então que variar, reagindo positivamente, oferecendo-lhe o leite sob outra forma. Existe uma variedade enorme de cereais no mercado, já experimentou vários para perceber se ele gosta de algum (misturado com leite) que não contenha muito açúcar? Papas de aveia ou muesli, por exemplo. Utilize leite para fazer sopas em substituição da água e pode cozinhar os legumes (legumes gratinados com creme de leite costuma resultar), as massas, os purés com leite em natureza ou em pó. Batidos de leite ou vegetais (já tentou vários?), sorvetes caseiros (podendo limitar-lhe o conteúdo calórico), requeijão, cremes gelados, queijo pouco curado e de sabor menos intenso.
Claro que as farinhas lácteas, os pudins, mousses e arroz doce também são uma opção, mas por geralmente conterem açúcar em quantidades exageradas não devem ser consumidos com frequência. E nunca entre as refeições, pois a ingestão de doces antes das refeições principais pode saciar e "tirar o apetite" às crianças com a consequente redução de ingestão de frutos, legumes, carne e peixe ou cereais. Na moderação é que está o ganho.
Na verdade os produtos ricos em sacarose só deveriam ser ingeridos quando fosse preciso uma reposição energética rápida, o que acontece depois de exercício físico vigoroso ou uma crise de hipoglicémia, uma raridade nesta fase da vida. E não nos podemos esquecer das cáries dentárias, da obesidade e diabetes, consequência de um consumo abusivo de açúcar. Mas a glicose (a sacarose que existe no "açúcar de mesa" desdobra-se em glicose) tem um papel muito importante para o organismo pois é o combustível mais rápido e eficaz e essencial para as células do sistema nervoso e sanguíneo. Só os excessos fazem mal.