por João Miguel Tavares, em 14.03.13
Fartíssimo de ter uns jantares que se resumiam a variações de "come a sopa, pá!", "não te levantas da mesa antes de acabar!" e "não, não há água enquanto não engolires dez colheres!", decidi tornar-me professor de História às refeições. Nos anos do Tomás oferecemos-lhe um livro sobre a Segunda Guerra Mundial, e agora ele é a nossa companhia diária.
E porquê começar logo com uma coisa levezinha, tipo bombardeamentos aéreos e Holocaustos? Bom, porque é preciso manter o público interessado, senhoras e senhores. E a Segunda Guerra Mundial sabe, de facto, agarrar uma audiência (além de que percebo muito mais dela do que da Guerra dos Cem Dias).
Começámos as lições com a ascensão de Hitler ao poder e a perseguição aos judeus, avançámos para a Blitzkrieg, estacionámos na evacuação de Dunquerque e já começámos a preparar a Batalha de Inglaterra. E sabem que mais? Está a funcionar maravilhosamente. Demasiado maravilhosamente, diria eu, sobretudo nos dias em que há bola e os tenho de informar que os embates entre Spitfires e Messerchmitts estão em suspenso em virtude do Benfica ir jogar a Bórdeus. Infelizmente, eles estão tão fascinados com o passado que demonstram uma certa insensibilidade ao presente.
Mas devo dizer-vos que estou mesmo espantado com o interesse deles no tema, e é extraordinário como os miúdos são uma esponja que absorve tudo. A Carolina ficou tão sólido-historicamente documentada, que no outro dia chegou indignadíssima a casa porque um miúdo lhe tinha chamado nazi na escola.
- Eu perguntei ao menino: "tu sabes o que me estás a chamar?" Tu estás a dizer que eu fui responsável pela morte de milhões de pessoas!
Uau, nada como indignação erudita. Claro que no dia seguinte estava a divagar sobre a invasão da Europa pelas Divisões Pâncreas (ela queria dizer "Divisões Panzer"). Mas passo a passo chegaremos lá. Até ao Dia D e à vitória final!