por João Miguel Tavares, em 16.08.13
Os meus filhos nunca foram muito de gatinhar, e um deles até passou directamente do sentar para o andar. Mas a Rita é a primeira a desenvolver uma técnica original, a que podemos chamar de "rabinhar". Rabinhar não é andar nem é gatinhar - é movimentar-se arrastando o rabo pelo chão, numa sofisticada articulação de pernas e braços, que até poderia ser motivo de orgulho para um pai não fosse a opção ser - como dizer? - um bocado parva. Afinal, a Rita move-se muito mais devagar e gastando muito mais energia do que se simplesmente gatinhasse (até porque já percorre longas distâncias rabinhando), e não se percebe bem porque continua a varrer o chão com a fralda.
Já lhe perguntei isso mesmo - "Rita, por que não gatinhas?" -, pois é mais do que altura para gatinhar (no próximo dia 30 ela vai fazer um ano). A Rita respondeu: "Bágágádádábá", alojando-me três perdigotos no olho direito. "Bágágádádábá" significa, numa tradução optimista, que a Rita entende que andar de quatro é um bocado animalesco, preferindo arrastar o rabo pelas várias assoalhadas a ter de andar com ele empinado à vista de todos. É certo que não é uma opção muito prática, e que às vezes - visão particularmente desconfortável - parece que anda de cadeira de rodas (sem a cadeira). Mas enfim: podemos sempre admitir que é um esforço extra, em nome do estilo e da classe.
Para quem não está a ver bem a ideia, a técnica que ela usa parece-se mais ou menos com isto (mas com a perna esquerda mais esticada):
Só que a um pai cinéfilo é inevitável que faça lembrar isto:
"Freaks" (1932), de Tod Browning, o mais bizarro filme de todos os tempos