por João Miguel Tavares, em 29.07.13
Esta é a primeira vez que passamos férias em família com quatro miúdos, e à saída de Lisboa a nossa Sharan estava num estado inacreditável. Não cabia uma agulha no porta-bagagens. Por um lado, tive imensa pena da Teresa ao vê-la organizar as malas todas - vamos estar 20 dias fora de casa, e aquilo são autênticos trabalhos forçados. Por outro, tive imensa pena de mim, por ter subido e descido o meu prédio 32 vezes para enfiar 437 objectos no carro. Os números talvez sejam um pouco exagerados, mas demorei para cima de hora e meia, e pelo simples facto de eu ter conseguido fechar a porta da bagageira merecia que me fosse atribuído um doutoramento
honoris causa em Tetris por uma universidade da Ivy League.
Mas claro está, dito isto e tendo eu elogiado a capacidade organizativa da minha excelentíssima esposa, devo dizer que ela nunca simplifica coisa nenhuma. A Teresa está sempre preparada para ter de sobreviver três meses sem água nem alimento se o apocalipse desabar sobre nós. No final, sobre a Terra restarão apenas a família Mendonça Tavares e as baratas. Bom, mas o que interessa para aqui é que a certa altura olhei para o material da praia e vi seis baldes de praia. "Seis baldes de praia?", perguntei eu. Sim, seis baldes: quatro para nós, mais dois para o Daniel e para o Ben, os filhos da maninha dela que chega da Irlanda. E olhem que nós nem sequer vamos para a praia. É só para brincarem numas praias fluviais da Beira Baixa, que nem areia têm. Ah, que tamanha capacidade para amar o próximo - geralmente à custa da minha sanidade mental.
É que, infelizmente, a excelentíssima esposa tem um problema: ela ainda não percebeu que tem quatro filhos. A sério. Eles saíram todos da sua magnífica barriguinha, mas ela não reparou nisso. E, portanto, a Teresa não age como tendo quatro filhos. A Teresa age como tendo quatro vezes um filho. O que não é, de todo, a mesma coisa. Ter quatro filhos, é ter quatro filhos. Simplifica-se, desenrasca-se, eles tomam contas uns dos outros, e está a andar. Ter quatro vezes um filho são para aí 12 filhos; é como se cada um fosse um filho único muito mimadinho, mas quatro vezes. Ou seja, é uma loucura todos os dias. Quando chega a altura das férias, então, só quero que me internem num hospício. No preciso momento em que escrevo, já estou doido e as férias ainda mal começaram. Durante os próximos 20 dias, se virem passar o Napoleão, já sabem: sou eu.