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No meio da maluquice que foi a minha vida no passado mês de Setembro, nunca cheguei a agradecer (publicamente, claro está) este post da minha mulher, cheio daquelas palavras que todos adoramos ouvir, mesmo quando possam não ser verdade exactamente a todas as horas e em todos os dias da nossa vida. Quer dizer: a correria do dia-a-dia e a responsabilidade de criar quatro crianças em Lisboa, com todos os avós a mais de 200 quilómetros e uma pilha de afazeres profissionais e burocracias infindas, que vão desde pagar contas, arquivar facturas, digitalizar isto e imprimir aquilo, pode ser uma tarefa altamente desgastante, que tritura a paciência a qualquer um.
Nos momentos em que precisamos desesperadamente de largar vapor, quem apanha com ele é sempre a pessoa que está mais à mão, e nesse campeonato tanto eu como a Teresa já coleccionamos queimaduras do terceiro grau. Os casais não fazem apenas amor - fazem também ódio, em momentos descontrolados em que as pessoas perdem a cabeça, e podem ser profundamente injustas e cruéis. Aquilo que me parece distinguir os casais que verdadeiramente funcionam de todos os outros, é a capacidade para dissolver as erupções de fúria quando elas entram em contacto com um enorme volume de amor, que corre sempre por baixo de uma relação feliz, como um rio subterrâneo. O tempo passa e a lava dos sentimentos turvos petrifica, sendo novamente submergida pelos melhores sentimentos que um membro do casal sente pelo outro.
A importância de momentos como Nova Iorque - cinco breves dias sem crianças nem ninguém, só eu e a Teresa - está mais do que explicada na frase que Humphrey Bogart diz para Ingrid Bergman no filme Casablanca:
- But what about us?
- We'll always have Paris.
Eu e a Teresa teremos sempre Nova Iorque. Não por ser apenas uma memória que nos conforta nas noite de maior frieza de um para com o outro, mas porque eu sei que Nova Iorque não é passado - é presente e, com sorte, será futuro. Nisso, temos bastante mais sorte do que Bogart e Bergman. Nova Iorque está sempre ao alcance da nossa mão, porque tanto eu como a Teresa sabemos que quando estamos os dois juntos, sem burburinhos, stress ou confusões, somos extremamente felizes um com o outro. Para termos novamente Nova Iorque basta-nos ter novamente cinco dias a sós, e nem sequer precisa de ser em Nova Iorque. Pode ser em Braga. Ou na Brandoa. O nosso amor não está dependente da geografia.
É curioso quando tanta gente opõe o amor à paixão. Vocês já ouviram de certeza essa história: a paixão é aquela coisa que se tem no início de uma relação mas que nunca mais volta, comida pelas traças do tempo. Com sorte, resta o amor, coisa saborosa mas devidamente pacificada. Pois bem, eu proponho-vos esta experiência (a maior parte das pessoas não se atreve a fazê-la, com medo dos perigosos efeitos secundários): escolham bem o marido ou a mulher, arranjem uma catrefada de filhos, misturem tudo num quotidiano frenético, onde quase não há tempo para estarem sozinhos um com o outro, e ao fim de muitos anos tirem de repente do caminho, por poucos dias que sejam, todo o frenesim, todo o trabalho, todos os filhos, todo o stress. Eu garanto-vos - vão parecer novamente adolescentes de 18 anos. Com a vantagem de terem a experiência de 40.
Sim, Nova Iorque foi assim tão bom.