Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Isto que vocês podem ver na imagem
é (além da minha mão) uma pulseirinha bastante ridícula que me foi oferecida pelo meu filho Tomás. Ele passou uma fase, juntamente com a Carolina, dada ao artesanato, que metia muitos fios de lã que se entrecruzavam, e tal. Às vezes ainda passam horas naquilo, fio para cá, fio para lá.
A Carolina faz isso bastante bem e as pulseiras dela parecem pulseiras. O Tomás faz isso muito mal e as pulseiras dele não se parecem com nada. Mas como, em compensação, o Tomás é bastante mais generoso do que a Carolina, e está sempre a tentar agradar aos pais (um bonito hábito), certo dia ele apareceu-me com a pulseirinha que vêem em anexo, e que basicamente consiste em quatro fios entrelaçados sem graça nenhuma. "É uma pulseira para ti, papá." E o papá lá teve de fazer um sorriso amarelo de "oh, muito obrigado, Tomás, que querido", ao mesmo tempo que assistia à pulseira a ser presa ao seu pulso com um terrível nó cego.
Felizmente, poucos dias depois um dos quatro fios cedeu e eu animei: "Fixe, isto vai partir-se depressa." Qual quê. Desde então não houve um único pedaço que tenha cedido, e eu sou obrigado desde há três ou quatro meses a andar com um fio laranja, um fio branco e um fio azul pendurados do pulso, como se fosse um adolescente de 16 anos. Eu sempre gozei com aquelas pulseirinhas que os turistas trazem quando regressam de Salvador da Bahia, e que têm de aguardar que se esfarelem e caiam de podres porque cortá-las dá azar - e, de repente, eis que me vejo na mesma situação, sem sequer ter tido direito à viagem ao Brasil.
Há pessoas atinadas que me dizem, diante das minhas queixas pulseirísticas: "E que tal cortares isso com uma tesoura?" Ao que eu respondo: "Mas assim o Tomás ficava triste." Ao que me replicam: "Duuuuhh... o Tomás não tinha de saber. Dizes-lhe que a pulseira caiu e pronto."
Só que este "pronto" não é nada pronto para mim. É que eu, por princípio, não minto. E muito menos aos meus filhos. Não há cá mentirinhas piedosas, caridosas, fogosas, melindrosas ou gasosas. Eu não lhes minto, ponto. Certamente que não lhes digo tudo, com certeza que omito muito e obviamente que guardo numerosas opiniões para mim, mas dizer que uma pulseira caiu quando fui eu que a cortei não entra no meu enquadramento mental nem nos valores que lhes quero passar.
E assim, cá continuo a arrastar esta pulseira, como uma grilheta. É o meu pequeno sacrifício pelo amor à verdade e ao meu filho Tomás.