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A propósito do meu post sobre as pulseirinhas, a Paula comentou o seguinte:
Não mentir NUNCA aos filhos é um excelente princípio.
Mesmo que obrigue a andar com pulseirinhas ridículas...
Sim, é verdade. Não podia estar mais de acordo. Todos nós temos algum tipo de fundamentalismo, e o meu é este: nunca mentir às crianças (na verdade, nem às crianças, nem aos adultos, mas isso é tema para outra conversa). Nunca me dei mal com este princípio, nunca me arrependi, a fama de desbocado só me tem dado alegrias, e - cereja em cima do bolo - facilita brutalmente a nossa vida, porque nunca somos apanhados na curva nem somos obrigados a rotações impróprias da espinha.
Claro que em relação às crianças não é um fundamentalismo completamente fundamentalista. De outro modo teria de os informar aos dois anos de idade que o Pai Natal não existe. O lado onírico, sonhador e imaginativo está sempre bem activo, e quando se está em modo brincadeira é perfeitamente possível - e até aconselhável - aldrabar o máximo que se puder. Mas apenas - e só - em modo de brincadeira. Quando o tom muda para sério, a mentira deixa de ser permitida. Já lhes disse várias vezes: "Só há uma coisa pior do que portarem-se mal: mentir."
Eu levo isto tão a peito que no infantário faço sempre questão de me despedir da Ritinha e dizer que me vou embora, mesmo que as pobres professoras e auxiliares fiquem depois com a criança a chorar ao colo. Nos primeiros dias é sempre uma chatice, porque ela ainda não conhece o ambiente e detesta sair do colo do pai. Daí que a maior parte das pais (e educadoras, já agora) prefira virar costas, distrair as crianças, dizer "olha ali aquele brinquedo", enquanto a mamã ou o papá se pisgam a grande velocidade. Eu não: prefiro que a Rita chore mas veja o meu adeus. Ao fim de algum tempo ela percebe que eu parto mas depois volto, e a partir daí deixá-la na sala passa a ser uma actividade bastante pacífica.
Utilizei essa táctica com todos os meus filhos e resultou. Aquela coisa de dizer aos putos "a mamã vai só ali e já volta" não me entra na cabeça. Graças ao fundamentalismo do "não mentir", o que acontece é que as crianças confiam em mim, e sabem que cumpro aquilo a que me comprometo. Isso pode causar-lhes, no início, alguma tristeza e algumas frustrações quando lhes digo na cara "sorry, não dá, desta vez o papá não vai poder" fazer isto ou aquilo. Mas, feitas as contas, acredito - e, mais do que acreditar, tenho provas - que isso lhes dá uma imensa segurança.