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Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho

por João Miguel Tavares, em 29.10.13

Diante de casos como o de Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho há muita gente que torce o nariz e diz: "isto é vida privada". Sim, é vida privada, só que neste momento há queixas na polícia (a própria violência doméstica é um crime público, o que significa que a denúncia pode ser apresentada por qualquer pessoa e a vítima não tem direito a retirar a queixa, mesmo que queira), há comunicados de imprensa, há entrevistas a jornais, e a consequência de tudo isso é o inevitável circo montado em torno da família.

 

Além disso, a linha entre vida pública e vida privada sempre foi bastante maleável no caso de Bárbara e Manuel Maria. Se bem se recordam, nos tempos em que Manuel Maria Carrilho tentava conquistar a câmara de Lisboa, ele não teve qualquer pudor em utilizar a imagem da família e do (então único) filho para carregar no glamour e procurar ganhar as eleições.

 

 

Ainda assim, e como é bastante visível, a linha entre vida pública e vida privada não é, para mim, nenhuma vaca sagrada - basta olhar para este blogue, onde passo o tempo todo a falar dos filhos e da mulher. Donde, posso eu ter alguma coisa a dizer sobre aquilo que se está a passar? Na verdade, diria imodestamente que sim, porque há formas muito diferentes de fazer as coisas - e é porque as coisas estão a ser tão horrorosamente feitas neste caso que ninguém neste momento fala de outra coisa em Portugal.

 

Eu sou perfeitamente a favor de dar visibilidade aos filhos e à família, e de eles terem um papel de relevo em termos públicos. Numa época em que cada vez menos gente tem filhos, e em que ser mãe, mas sobretudo ser pai, parece ter-se transformado numa actividade semi-underground, na medida em que os homens com intervenção pública respeitável (chamemos-lhe assim) praticamente não falam da paternidade por ser "vida privada", eu faço absoluta questão de falar dela - porque gosto e porque acho que é preciso.

 

Ter filhos, constituir família, e falar das suas alegrias e dificuldades não tem de ser um feudo de revistas pirosas. E o que eu sempre tentei, assim que comecei a escrever sobre esta coisa de ser pai e marido, foi encontrar um caminho alternativo (ambição não me falta, como vêem) de dar visibilidade aos filhos e ao amor de uma família sem ser em tons cor-de-rosa foleiros.

 

Contudo, é absolutamente necessário traçar a linha entre aquilo que é vida privada, e que no meu caso não tenho nenhum problema em tornar pública (pelo contrário, até o faço com orgulho), e aquilo que é vida íntima e deve ser cuidadosamente preservada.

 

O que é que isto tem a ver com Bárbara e Manuel Maria? Tem tudo. Porque o problema deste caso não está na invasão da vida privada mas na forma desbragada como Manuel Maria Carilho decidiu trespassar a vida íntima da família. Mesmo deixando de lado a questão da violência doméstica, da qual eu não faço ideia se é culpado ou inocente, ainda que Joana Varela (a sua primeira mulher) já tenha vindo publicamente solidarizar-se com Bárbara Guimarães, de uma coisa eu sei que ele é culpado, porque o vi com os meus olhos - das declarações inacreditáveis que fez sobre a sua mulher e a sua família.

 

Até pode ser que Bárbara Guimarães tome dezenas de comprimidos por dia, esteja traumatizada com a chegada dos 40, se tenha enchido de silicone e botox, consuma uma garrafeira diariamente e tenha sido vítima de tentativas de violação. Nada disto seria novo, acontece todos os dias com milhares de mulheres no mundo inteiro, está em muitos livros e em muitos filmes. O que é inacreditável é Manuel Maria Carrilho vir para a praça pública dizê-lo, apregoá-lo em voz alta, disparando sobre tudo o que mexe, num imparável frenesim vingativo.

 

Ainda que ele estivesse a ser injustamente acusado, fosse um homem encantador e a sua mulher tivesse enlouquecido, Manuel Maria Carrilho parece ter-se esquecido de dois pequenos detalhes - os seus dois filhos. Mesmo que tudo aquilo que ele diz sobre Bárbara Guimarães fosse absolutamente verdade (e tenho algumas dúvidas), os seus dois filhos não podiam ser expostos a acusações daquele calibre sobre a mãe que cuida deles e com quem vivem.

 

É por isso que a inacreditável frase da jornalista da Correio da Manhã TV nesta peça, dita à frente de um filho de nove anos - "o seu marido diz que o seu ex-padastro a tentava violar" -, não deveria só encher de vergonha a jornalista e o canal que a transmite, mas sim, e em primeiro lugar, o homem que possibilitou que essa pergunta fosse feita. E esse homem foi Manuel Maria Carrilho. É ele o autor da pergunta.

 

Que esse homem seja, ao mesmo tempo, um sofisticado intelectual e um homem cultíssimo apenas demonstra, para nosso desconsolo, aquilo que já sabíamos desde Auschwitz  - a cultura de nada serve quando faltam valores essenciais.

 

Bárbara Guimarães respondeu simplesmente à jornalista da CM TV: "Tenho aqui os meus filhos, por favor." E eu estarei sempre do lado de quem dá essa resposta. Independentemente do número de copos que beba à noite.

publicado às 10:57


68 comentários

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De ana a 31.01.2016 às 16:09

olá, gostei do teu blog, também tenho um com uma amiga, se quiseres dá uma espetadela e diz o que achaste :)http://the3oclock.blogspot.pt/2015/12/actualizacao.html
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De Pedro Andrade a 04.11.2013 às 14:12

Sempre disse que só um estúpido se casaria com a Bárbara. Está confirmado.
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De Zanda a 02.11.2013 às 23:41

É triste toda esta situação...para os seus filhos e para a própria família de Manuel Maria Carrilho...que deve ter pena de ter assim um filho, um tio, que os 6 irmãos devem ter vergonha ter ter assim um irmão...enfim... uma autêntica tristeza vir com vida privada para a praça pública... estragou a vida da linda mulher que é a Bárbara Guimarães!
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De Anónimo a 01.11.2013 às 14:49

A responsabilidade do falhanço de qualquer casamento é do homem. Carrilho falhou, pois não soube liderar e manter a sua familia unida. Tanta filosofia e tanta cultura não lhe deu a sabedoria suficiente.
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De Anónimo a 01.11.2013 às 15:19

E agora continua a falhar por não proteger a sua familia da devassa a que está a ser sujeita, assumindo uma atitude que de homem não tem nada, imitando o dramatismo estrogénico, um vingantivismo noveleiro e denotando uma instabilidade emocional mais próprio de alguém do sexo feminino. Fraca referência paternal na infância?
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De Maria a 01.11.2013 às 03:03

Maria

Acho isto tudo um disparate. Nunca deviam "ter posto cá fora" esta confusão. 1o por serem as pessoas que são, e depois por causa dos filhos,que já se iram ressentir de tudo isto, pela vida fora.Agora o Carrilho quer a casa em partilhas? Eu nem acredito no que li. O homem devia ser preso!! Por mais que nao seja pelo mal que está a fazer ás crianças. Eu nem quero saber mais....é revoltante.
Ai como as aparências iludem....e a Barbara ,coitada, deixou se iludir...Parecia realmente um casamento perfeito. Torço para que tudo acabe em bem e que este louco se cale de dizer tanto disparate e que as crianças não sofram. Isso é que é dramático.
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De Sn a 30.10.2013 às 23:54

Triste, mas frequente. O ser humano revela o pior de si quando se sente atacado . Nenhum esteve bem. O MMC revelou-se um agressor pelas coisas horríveis que disse. A BG, que pelos vistos já sabia o que tinha em casa, tomou decisões que o enfureceram e potenciaram o seu comportamento desequilibrado. O mal está feito e será muito difícil remediar...
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De Ssssstress a 30.10.2013 às 15:55

Foi precisamente essa a minha pergunta, quando começou a ser referida esta situação: e as crianças?
O resto? O resto é assim: eles que são adultos (?) que se entendam!
"Mas as crianças Senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim..."
Aproveito-me das palavras de Augusto Gil que, melhor do que eu, disse o que eu quero dizer!
Cumprimentos!
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De Marisa Oliveira a 30.10.2013 às 14:33

Aplausos, por favor! Incrivel como se esquecem dos menores em prol do mediatismo..
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De Rita Quintela a 30.10.2013 às 11:38

Muito bom texto!
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De manchinha a 30.10.2013 às 11:22

é de facto mau sinal que alguém fale publicamente mal da pessoa com quem vive, ou com quem viveu; sintoma de que precisa de ajuda urgente e de que a falta de respeito por si próprio é um problema que deve ser atacado com urgência.

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