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Os culpados do crime

por João Miguel Tavares, em 09.12.13

 

Claro que foi a Rita, minhas senhoras e meus senhores. Mas não só a Rita. Digamos que a Rita foi a autora material, mas a autora moral foi mesmo a excelentíssima esposa. Não se pode dizer que aquilo que aconteceu tenha sido propriamente uma surpresa, tendo em conta que eu - dotado de incríveis capacidades divinatórias - já o havia previsto aqui, quando referi, a propósito de uma certa casinha, "se a Rita lhe deita a mão chama-lhe um figo".

 

Na verdade, o figo acabou por não ser a casinha, mas a linda escultura branca ao seu lado. Esta é mesmo a última foto que foi tirada à vítima antes do seu homicídio violento às mãos de uma criança de 15 meses, que a empurrou sem piedade de uma prateleira a meio metro de altura.

 

 

Mas sabem porque é que a autora moral tem mais culpas no cartório do que a autora material? Porque aqui o excelentíssimo esposo, no dia anterior ao crime, tinha prudentemente tirado daquela prateleira toda a decoração que podem ver na foto, após detectar certas movimentações altamente suspeitas da futura criminosa.

 

Infelizmente, como tratei de amontoar os bibelôs na prateleira de cima sem grande equilíbrio estético (há que admiti-lo), a excelentíssima esposa achou que, diante daquela salganhada, era preferível enfrentar os perigos ritinhescos a bem da decoração natalícia - e voltou a pôr tudo no lugar de sempre. Até que a tragédia - obviamente - se consumou.

 

Ó minhas senhoras, mas porque é que vocês não dão mais ouvidos aos vossos queridos, sábios e prudentes maridos? Perante o trágico acontecimento, a Teresa argumentou, dada a ausência de álibis plausíveis, que conhece pais que nunca mudaram nada do sítio nas suas casas e que os seus bebés aprenderam a não mexer com um dedo no que quer que fossse.

 

Bom, eu já tive mais ou menos essa discussão a propósito das palmadas. Se há pais que conseguem, acho fabuloso. Invejo-os muito. Gostava de aprender com elas. Mas tendo em conta que não sei como se faz essa coisa de amestrar uma criança só com os olhos e torná-la tão bem educada como a rainha de Inglaterra, não vou esperar que tudo corra pelo melhor quando a experiência me diz que há altíssimas probabilidades de correr pelo pior. Chama-se - lá está - prudência.

publicado às 09:54


8 comentários

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De aboutmeandsometimestherestoftheworld a 09.12.2013 às 11:20

Os miúdos são imprevisíveis nestas coisas. A minha filha mais velha era uma santa... Eu dizia: "Aqui não se mexe. É da mamã". E ela, muito fofinha, ficava a olhar para as coisas e ia repetindo "mamã", para controlar os seus desejos destruidores, obviamente. A mais nova era bem diferente. Por mais que eu e a irmã, que fez esforços gigantescos para a educar, lhe disséssemos que não se podia mexer, porque era da mamã, ela ignorava-nos estoicamente. "É da mamã" ia dizendo enquanto pegava nas peças e as atirava energicamente para o chão. Cheguei a pensar que a pequena destruidora de bibelots não gostava da mamã, mas tentei convencer-me que era impressão minha. O mais curioso é que atualmente, com 22 e 19 anos, a mais velha ignora muito mais a propriedade alheia, vasculhando e roubando descaradamente o meu closet e a mais nova é uma santa e nunca tira uma peça sem pedir. É bem verdade que o mundo dá muitas voltas.
Quanto às palmadas, concordo com o princípio, mas nunca fui capaz de aplicar. Catorze e doze horas, respetivamente em trabalho de parto, não me deixaram levantar a mão. Embora às vezes me apetecesse.

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