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Nós há quatro anos tínhamos ido a Óbidos, Vila Natal, e este ano a Teresa lá me convenceu a regressar com os miúdos, apesar de eu ser um bocado agorafóbico. Não é que eu tenha medo de multidões, mas sinto-me sempre um bocado ovelha a caminho do matadouro quando o encontrão se torna uma forma de locomoção. Tenho um genuíno ódio por filas e irrita-me imenso andar na rua como se estivesse nos corredores do Colombo no dia 23 de Dezembro.
E claro, como seria de esperar, a vila estava cheia que nem um ovo, e o espírito natalício concentrava-se todo nos barretes de Pai Natal. De resto, só havia confusão, carrinhos de bebé a chocar com carrinhos de bebé, gente a furar filas e uma exploração comercial ao nível do tratamento que Pedro Passos Coelho tem dado aos reformados.
A entrada até cumpria bons princípios, já que os membros da Associação de Famílias Numerosas tinham direito a preço único indepentemente do número de filhos, coisa raríssima nesta terra:
Mas ao contrário do que é normal nestas coisas, em que se paga um preço relativamente alto de entrada mas lá dentro a maior parte das diversões são à borla, ali continuava-se a largar dinheiro em quase todo o lado: quatro euros para andar 20 minutos de patins, um euro para trepar a uma parede, um euro para andar num carrossel fajuto, e por aí fora. Para quem tem de abrir sempre a bolsa a triplicar, podem imaginar o impacto da visita no orçamento familiar.
Mas há mais. Para animar a tarde, a SIC resolveu fazer de lá o directo do programa Portugal em Festa, o que significa que em cima de tudo isto ainda levei com música pimba, camaramen que acham que o mundo é só deles e algumas atracções encerradas por causa da logística da coisa. Foi a cereja em cima do bolo.
Não, esperem, a cereja em cima do bolo foi a visita à casa do Pai Natal, para a qual havia uma fila para aí de três quartos de hora (número optimista). Melhor (ou pior): essa fila tinha mais adultos do que crianças. Eu olhava para os meus vizinhos da frente e pensava: "what the fuck, o que é que está aqui a fazer uma família de quatro marmanjos em que o mais novo tem para aí 22 anos? Vai sentar-se ao colo do Pai Natal?"
O que é certo é que eles nunca arredaram pé, e após uma penosa e interminável espera lá se abriu uma porta, e um grupo de meia centena de almas lá se encaixou que nem sardinha em lata dentro de uma casinha onde estava o Pai Natal e dois duendes a perguntarem às crianças que prendas gostariam de receber no dia 25.
E pronto, estivemos lá dentro um quarto de hora após 45 minutos ao frio, para que um tipo de barbas brancas pudesse perguntar aos meus três filhos: "Então e que prenda queres receber no Natal?" Giro, hein? Ainda para mais, o raio do Pai Natal precisava de apurar no disfarce, porque o Gui saiu de lá a perguntar:
- Aquele senhor era mesmo o Pai Natal?
- Porque é que perguntas isso, Gui?
- Eu vi um bocado de bigode preto por baixo da barba branca.
Aaaargh! Óbidos continua um lugar encantador, mas precisa de caprichar um bocadinho mais no Natal e um bocadinho menos no assalto à carteira do visitante. Moral da história: se o Pai Natal me tivesse perguntado que prenda eu queria no sapatinho, ter-lhe-ia respondido isto: quero o discernimento necessário para decidir exactamente que sacrifícios um pai deve fazer pelos seus filhos. É que o excesso de voluntarismo pode ser altamente contraproducente, como ontem se provou - eu às tantas já estava capaz de matar a primeira rena que se cruzasse comigo no caminho.
Bem vistas as coisas, isto até é boa matéria para um próximo post, que fica desde já prometido.