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Depois de o meu caríssimo esposo se ter aqui queixado sobre os trabalhos forçados a que foi sujeito na nossa visita em família à Vila Natal (coitadinho), é possível que alguém fique com a ideia de que o estóico homem foi por mim barbaramente arrastado, auto-estrada acima, até Óbidos.
É estranho, porque a única conversa de que me lembro de ter tido com ele sobre o tema foi para saber se valeria a pena poupar a viagem a Óbidos e em vez disso ir à Aldeia Natal do Parque Eduardo VII. E quanto a esta questão, o excelentíssimo pai de quatro foi peremptório: nem pensar, até porque, além de Vila Natal, Óbidos quer também ser uma Vila Literária, com várias livrarias alfarrabistas. E esse, claro está, já é o campeonato do pobre progenitor, que foi, como se está mesmo a ver, submetido a penosos sacrifícios em prol da alegria da sua descendência.
Pobre homem! Tendo em conta que saímos de Lisboa às 15 horas, Óbidos fica a uma hora de viagem de Lisboa e antes das 21 horas já estávamos de regresso, ele teve de suportar uma hora de sol tórrido de Inverno e três horas de escuridão cerrada só para satisfazer a sua família, sem ter com isso ganho qualquer momento de diversão, descontracção ou deleite literário.
Mas o que é isto? O caríssimo esposo a deslizar na rampa de gelo?
Não, nem pensar. Ele simplesmente teve que deslizar para que o Gui também o pudesse fazer. Vá-se lá saber porquê o Gui acabou a deslizar sozinho e o mártir papá teve que deslizar também porque, assim como assim, já estava lá em cima.
E isto, o que é? Um pezinho de dança com a sua filha enquanto espera a visita ao Pai Natal?
Que palermice a minha. É claro que não. Pois se o papá passou 45 minutos em penoso pesar alvitrando sobre a razão que levou o grupo de adultos que nos precedia a ocupar espaço na fila, como poderia ele ter ânimo para dançar o vira?
Olha, que curioso... e isto? Será o excelentíssimo pai de quatro quem se vislumbra lá ao fundo, revirando todos os livros expostos no Mercado Biológico de Óbidos, onde, além de produtos hortícolas, também se podem encontrar livros com fartura?
Que ideia a minha. O meu João dedica todos seus períodos de lazer, com absoluta exclusividade, à diversão da sua prole. Nada reserva para si, nem um minutinho, logo, não teria sequer tempo para folhear um livro, quanto mais para revirar um dos espaços literários de Óbidos.
Mas o que é isto? Uma segunda voltinha na rampa de gelo, papá? Estavas a gostar?
Qual quê! Estou a ter visões. Então se o pobre coitado não se divertiu nem um bocadinho nesta estopada natalícia, a que propósito se aventuraria a um segundo deslize?
Os miúdos, pelo contrário, deram por bem empregue a viagem. É verdade que não puderam usufruir de todas as actividades, porque a SIC resolveu fazer um longo programa em directo no exacto momento em que resolvemos visitar a vila, mas uns deslizes na rampa de gelo, um passeio de patins no trilho gelado, uma escalada pela parede até ao sino de Natal, e uma voltinha no carrossel bastaram para desanuviar de uma semana cheia de testes e audições.
Mas o principal objectivo da viagem foi conseguido: as cartas ao Pai Natal foram entregues com a solenidade merecida.
E, no final do dia, eles foram fazer uma visita ao Pai Natal, que mesmo não sendo muito dotado para a interacção com crianças (devia estar cansado de trabalhar), tinha um duende bem divertido, que até ao nosso tímido Tomás conseguiu arrancar umas palavras. Mesmo desconfiando de que aquele não devia ser o Pai Natal de verdade, o Gui veio todo satisfeito com a sensação de dever cumprido.
Para o ano parece-me que viajaremos para os lados do Colombo, visto que o Pai Natal Severino parece ter nascido para o cargo, segundo os comentários da Paula, corroborados por muita gente.
E para que o papá aprenda que os filhos, à sua maneira, também se sacrificam pelos pais, aqui fica a prova de que os quatro aguardaram "pacientemente" que o pai terminasse o seu périplo literário pelo Mercado Biológico, um espaço, por sinal, muito bem concebido pela Ler Devagar.