por Teresa Mendonça, em 28.12.12
Eu venho de uma família grande. Tenho quatro irmãs e um irmão, por isso sei bem o que é correria e não haver muito tempo para a atenção exclusiva dos pais. Talvez por isso me tenha ficado na memória uma história que a minha mãe me contou ter ouvido da boca da esposa de Roberto Carneiro. Como eles têm nove filhos, para conseguir dar atenção a cada um, uma vez por semana ela dedicava um fim de tarde em exclusivo a cada um deles. Assim, de nove em nove semanas, ela passava uma tarde a passear, conversar, a fazer compras ou a estudar com um filho em particular.
Quando os nossos miúdos começaram a crescer eu adoptei esta técnica. De vez em quando (infelizmente, não com regularidade semanal, pois não sou uma super-mulher como a Maria do Rosário Carneiro), vou namorar (nas palavras deles) com a Carolina, Tomás ou Gui. São momentos muito divertidos, intimistas, em que consigo sentir-lhes a alma e dar-lhes mimo como se não existissem horários, obrigações ou preocupações.
Ontem, o Tomás, que está doentito e por isso não pôde ir passar uns dias com os avós, ficou em casa comigo e com a Ritinha. Passámos o dia a montar Legos, a ver filmes, a conversar, a jogar à bola nos intervalos dos picos febris, enquanto o enganava com copos de água e fruta fresca para compensar a falta de apetite, e o tentava afastar da Ritinha para evitar que a infectasse.
No fim do dia, enquanto se aninhava na nossa cama, disse-me que hoje (ontem) nos tínhamos divertido à brava, como os meninos perdidos do Peter Pan.
Na história do Peter Pan, os meninos perdidos vivem na Terra do Nunca, que é o lugar de todas as brincadeiras, enquanto a casa dos pais é o sítio sério, o sítio das responsabilidades, onde se é obrigado a crescer. Nenhum adulto pode entrar na Terra do Nunca. E nenhum menino perdido quer sair de lá. Ontem, o Tomás sentiu que os dois mundos se encontraram. Nem que tenha sido apenas por umas horas, é um grande elogio.