por João Miguel Tavares, em 25.12.12
Sabem o que é que me dá mesmo cabo da moleirinha a cada dia 25 de Dezembro? Não é ficar acordado até às quatro e meia da manhã a montar as prendas grandes das criancinhas (que piada tem receber uma tabela de basquete dentro de uma caixa?). Não é o pandemónio de papel rasgado e caixas esventradas mal eles acordam pela manhã. Não é a necessidade de controlar o olhar desvairado de três crianças tomadas pelo desejo de abrir prendas e mais prendas. Não é a obrigação de passar a tarde inteira a brincar com jogos novos ou a pôr de pé uma casa da Lego ou um carro da Playmobil, com cada um a puxar-me para seu lado. Tudo isso põe um gajo semi-comatoso. Mas não é o que me dá cabo da moleirinha.
O que me dá mesmo, mesmo cabo da moleirinha é nunca acabar um dia 25 de Dezembro sem um par de brinquedos já estragados. Seja porque uma flecha de plástico ficou irremediavelmente dobrada devido a uma zanga entre irmãos. Seja porque a peça de um carro luzidio se partiu devido ao uso imprudente. Seja porque um líquido viscoso amarelo de um qualquer Gormiti foi engolido pelo lavatório após uma experiência parva do Gui.
Eu sei, eu sei, eles são crianças. Mas dentro de mim existe um gajo conservador que se convence de que há ali uma certa falta de cuidado derivada da abundância, um excesso de oferta que convida à imprudência. E eu não quero ter filhos desses: descuidados, despreocupados e, basicamente, que se estão nas tintas, porque tudo é facilmente substituível.
Quando se começa nos brinquedos corre-se o risco de acabar nas pessoas. E essas são mais difíceis de consertar.