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Chegou!

por João Miguel Tavares, em 28.02.13

Tenho finalmente nas mãos, acabadinho de chegar da gráfica, o meu terceiro livro infantil, O Pai mais Horrível do Mundo. Está lindo, lindo, lindo! Eu dediquei um livro a cada um dos meus filhos, e tenho orgulho em cada um deles, até por serem muito diferentes uns dos outros, mas este livro é ligeiramente mais especial. Por uma única razão: não é bem uma história saída da minha cabeça e dedicada a um dos meus filhos - este livro é o Gui. São as suas críticas à minha pessoa, é a sua malandrice e é também toda a ternura que se esconde por debaixo da sua pinta de puto reguila.

O João Fazenda fez um trabalho absolutamente maravilhoso na ilustração. Ele é um dos maiores ilustradores nacionais, com uma carreira já relevante fora de portas, e eu praticamente não o conhecia (em termos pessoais, claro) quando o convidei para este projecto. Por isso, eu tinha aquele medo de que uma pessoa assoberbada de trabalho, como é o seu caso, decidisse ligar o piloto automático e fosse muito bom (porque ele não sabe ser mau), mas não chegasse a ser extraordinário, como eu sabia que ele podia ser. Felizmente, ele foi mesmo extraordinário, como era necessário, já que o livro tem no total 500 caracteres de texto e vive em absoluto da dinâmica entre imagem e ilustração.

Com toda a sinceridade, não podia estar mais contente com o resultado final (e olhem que só muito raramente digo uma coisa destas), e talvez por isso nenhum dos meus outros filhos teve a reacção do Gui quando o livro chegou. Ele ficou doido de orgulho. Quer oferecer um a todas as pessoas que nos visitam e esvaziou uma das suas caixas de brinquedos só para guardar o seu exemplar. Ao longo do dia, vai-me pedindo para lhe ler as frases de cada plano, e depois mostra às pessoas que o sabe ler sozinho (embora não saiba).

Acha que o Gui se sente co-autor de O Pai Mais Horrível do Mundo. E faz bem em sentir-se. Porque é mesmo.


(O livro chega às livrarias a 8 de Março e será apresentado no dia 16, sábado, pelas 18 horas, na Fnac do Chiado. Mais detalhes sobre isso em breve - mas marquem na agenda, que eu gostava muito de vos ver por lá.)

publicado às 12:11


Faz mal bater às crianças? Parte IV

por João Miguel Tavares, em 28.02.13
Bom, pelos vistos não há muitos juristas a frequentar este blogue, ou estão entretidos com outras coisas mais importantes, como a reforma da Justiça em Portugal (e se assim for, concentrem-se nisso). A este meu desafio só respondeu o Rui Fachada (espreitem os comentários), de uma forma moderada e que me parece bastante razoável. Continuo à espera dos argumentos jurídicos de quem defende que em Portugal enfiar uma palmada correctiva no rabo de um puto é ilegal.

Em 2007 houve alterações ao artigo 152 do Código Penal, respeitante à violência doméstica (onde os filhos estão incluídos), que passou a ser definida como o acto de infligir "de modo reiterado ou não", "maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais". É verdade que uma leitura fundamentalista deste artigo pode considerar que uma nalgada é inflingir de modo não reiterado um mau trato físico a um descendente em 1.º grau, mas aí eu diria que estamos no domínio do delírio jurídico, tendo em conta aquilo que é comummente entendido como "violência doméstica".

É também verdade que a Organização Mundial contra a Tortura (chiça...) apresentou queixa contra Portugal no âmbito do Conselho Europeu em 2003 e em 2006, defendendo que a legislação portuguesa não estava conforme às regras da Carta Social Europeia Revista, que proibia quaisquer castigos corporais a crianças. Pelo que pude pesquisar aqui, foi inclusivamente entregue um estudo de acordo com o qual cerca de 80% dos pais e mães portugueses entendia ser legítimo dar bofetadas ou açoites nas crianças como forma de as educar. Para a Organização Mundial contra a Tortura (chiça...), parece que tais conclusões são sintomas da barbárie instalada.

Na queixa de 2003, o sentimento não foi partilhado pelas instâncias europeias, mas a queixa de 2006 foi considerada procedente, na medida em que foi acompanhada de um acórdão meio amalucado do Supremo Tribunal de Justiça que absolveu uma funcionária que usou violência sobre crianças com deficiência mental. O Supremo utilizou aqueles argumentos à macho lusitano da década de 50, do género dar lambadas só faz é bem e quem não as dá é que é mau pai. Tendo em que conta que se estava a falar de crianças deficientes e de uma funcionária de uma instituição, o argumento não tem pés nem cabeça.

Mas a jurisprudência portuguesa, felizmente, é mais equilibrada. Numa breve pesquisa por acórdãos encontrei juristas que defendem que "a finalidade educativa pode justificar uma ou outra leve ofensa corporal simples" (Taipa de Carvalho), que "de acordo com o ponto de vista maioritário a ofensa da integridade física será justificada quando se mostre adequada a atingir um determinado fim educativo e seja aplicada pelo encarregado de educação com essa intenção" (Paula Ribeiro de Faria) e até que "os pais detêm o poder-dever de corrigir moderadamente os filhos" (acórdão de 10 de Outubro de 1995).

Esta é a tradição portuguesa, que me parece muito salutar, e que fazendo as contas às reacções dos leitores deste blogue ainda está em clara maioria.

Sim, na Suécia os castigos corporais são proibidos desde 1979, e no Brasil anda em efusiva discussão a chamada "Lei da Palmada" (os brasileiros são sempre óptimos a dar nomes às coisas). O debate é obviamente fascinante, mas há um argumento liberal ao qual eu sou muito sensível, para mais no Portugal de 2013: o Estado e as leis não têm de estar com o nariz enfiado nas famílias e na educação dos filhos, sempre de dedinho em riste a querer legislar sobre o tamanho do pepino e a força de uma palmada no rabo.

Mais: num país onde a violência doméstica é uma tragédia tantas vezes silenciada, a confusão entre uma palmada no rabo de uma criança e a agressão física a uma mulher só vem confundir linhas que deveriam ser totalmente claras e estar absolutamente demarcadas. Aí, sim, é brincar com coisas sérias. 

E quem confunde as duas coisas devia levar um bom tau-tau.   



publicado às 11:45


Batam-me com o Código Penal, sff

por João Miguel Tavares, em 27.02.13
Já várias pessoas sugeriram, nos comentários aos três posts sobre bater nos filhos, aqui, aqui e aqui, que bater nas crianças é ilegal em Portugal (obviamente, não me refiro a maus tratos físicos mas à clássica palmada no rabo). Alguém se importa de desenvolver esse raciocínio, por favor? Tenho interesse na fundamentação jurídica da coisa.

publicado às 14:11


Em defesa da honra (e das calças ao contrário)

por João Miguel Tavares, em 27.02.13
Em relação a este post, venho defender a minha honra, embora já um bocado atrasado, o que é sempre mau para a defesa da honra. É que estive ocupado a espancar crianças e não tive tempo (mais uma piada infeliz). Bom, a verdade é esta: um gajo ganha a injustíssima fama de ser um bocado distraído, e a partir daí leva com o carimbo de pai-maluco no meio da testa, carimbo esse que irá ostentar até ao fim dos seus dias, mesmo que de repente se transforme num relógio-suíço de competência na gestão da logística familiar.

Não fui eu que vesti aquelas calças ao Gui, ok? O que eu fiz foi - num acto de grande desejo emancipatório, tomado pela vontade de promover a independência da criança, imbuído de um espírito ambicioso com o intuito de o ajudar a enfrentar a vida com melhores armas - dizer simplesmente ao Gui: "Vai-te vestir, pá!" E ele lá foi vestir as suas próprias calças.

Que o Gui, com quase cinco anos, pense que faz chichi pelo rabo, é lá com ele. Só é comigo na medida em que deveria ter produzido filhos mais espertos. Provavelmente, estaria desconcentrado na altura em que o estava a produzir, que é uma coisa que costuma acontecer nessas situações.

Ou melhor, sejamos justos: o Gui de parvo não tem nada. O que ele tem é uma técnica incrível de fazer chichi: de cada vez que chega a altura de se aliviar, as calças vão todas para baixo, quer faça chuva quer faça sol, quer esteja no campo ou na cidade, quer seja em frente à sanita da sua casa de banho ou da casa de banho de um restaurante. Para ele é-lhe absolutamente indiferente a geografia: calças para baixo e lá vai disto. Nesse sentido, para quem pratica tal actividade radical, a localização da braguilha é completamente indiferente.

O importante é fixarem isto e repetirem 30 vezes: "não foi o pai dele, não foi o pai dele, não foi o pai dele". Devia ter olhado para ele depois de se ter vestido? Devia, com certeza. Mas provavelmente havia um congestionamento de filhos no corredor e eu não consegui chegar ao carro da frente. Acontece, senhores. Aliás, a minha excelentíssima esposa fica tão feliz com estas oportunidade para gozar comigo, que vale sempre a pena. Reparem como alegrámos o dia a tanta gente.

Mas NÃO FUI EU, ok? (Repitam só mais uma vez.)


publicado às 12:48


Faz mal bater às crianças? Parte III

por João Miguel Tavares, em 27.02.13
A propósito da minha observação sobre os suecos, incluída no ponto 3 deste meu post, comentou a Joana:

"Não concordo nada com o que dizes sobre os suecos (...). Lá porque os suecos são menos efusivos do que os portugueses, não quer dizer que tenham laços familiares mais fracos. Só o demonstram de forma diferente de nós. 
Só para dar um exemplo de como a família (e os seus laços) tem importância na sociedade: quando se tem filhos pequenos, é perfeitamente normal sair todos os dias do escritório cedo (o mais tardar às quatro e muitas vezes mais cedo) para os ir buscar - ninguém comenta ou olha de lado, como seria aí o caso. Os pais com filhos conseguem organizar o dia-a-dia de modo a que são eles que estão com os filhos nas tarefas diárias, e não precisam de depender de avós ou empregadas para estarem com os miúdos até se chegar a casa - como acontece tantas vezes em Portugal, em que muitas vezes se chega tão tarde que já são horas de os miúdos irem para a cama.

Aliás o Estado social e as instituições suecas nem poderiam ter evoluído para o que são hoje, se a família e os seus laços não fossem tão fortes como são. Moro na Suécia há oito anos, tenho montes de amigos da nossa idade e nos quarentas com filhos, desde bébés a adolescentes, e sei bem do que falo. E não sou casada com nenhum sueco, por isso acho que consigo manter a independência nas minhas observações e comparações :-)."

Um outro leitor saiu em defesa da minha tese, aconselhando uma visita ao Portal de Opinião Pública da Fundação Francisco Manuel dos Santos, e em particular aos dados relativos ao dever de amar e respeitar os pais, onde se compara Portugal e a Suécia (nós goleamos).

Não vivendo eu na Suécia, admito que possa ter a visão distorcida por demasiado cinema escandinavo, de Ingmar Bergman a Lars von Trier, cujos níveis de angústia existencial, amorosa e familiar são deveras assustadores. Além disso, tenho a profunda convicção de que o mais espantoso gesto que Portugal, enquanto povo, teve ao longo dos últimos 100 anos, foi a forma como conseguiu acolher perto de um milhão de pessoas oriundas das antigas colónias a partir de 1974, num movimento migratório de uma dimensão nunca antes vista na Europa no último século quando comparada com a percentagem da população residente em Portugal na altura.

Isso é, de facto, único e não sei que outro país o conseguiria ter feito sem o colapso da sua estrutura social. Não há outra explicação para essa extraordinária generosidade que não a profundidade dos laços sociais e familiares em Portugal e a capacidade que nós temos, enquanto povo, em ajudar as pessoas mais próximas que estão em dificuldades (claro que esta face branca tem uma face negra, que é a cunha, o favorzinho e a pequena corrupção, mas isso são contas para um outro rosário).

Dito isto, não quero cair no extremo oposto e fazer de Portugal o cume da civilização no que à educação das crianças diz respeito, portanto acho que a Joana tem alguma razão na crítica que me faz. A minha ideia original não era dizer "nós somos melhores do que eles", mas relendo o texto é, de facto, o que parece. A ideia original era apenas frisar que não estamos a discutir a segurança social, o funcionamento do Parlamento ou a aplicação da Justiça, e que portanto a utilização da matriz "país mais civilizado" para discutir estes temas é altamente perniciosa.


(Atenção, almas sensíveis: esta ilustração é só uma piada foleira. Até porque nunca arriscaria estragar a capa de um livro nos dentes dos meus filhos.)

publicado às 11:53


Faz mal bater às crianças? Parte II

por João Miguel Tavares, em 26.02.13
Em relação aos inúmeros comentários a este post, queria saudar a forma civilizada como a discussão está a decorrer, sem demasiadas palmadas verbais (coisa que é raro acontecer na blogosfera). E, de caminho, aproveito para acrescentar algumas notas:

1. No próximo Santo António vou arranjar um manjerico e espetar nele a seguinte quadra: "Quem consegue educar/ sem levantar a mão/ terá para todo o sempre/ a minha admiração." Eu acho que deixei isso claro no meu post: quem acredita nisso, pratica isso, e consegue que isso funcione, faça workshops, por favor. Este blogue prova diariamente - gosto eu de acreditar - que não sou nenhuma espécie de modelo como pai e que deve haver muitas dezenas de milhares de gajos e gajas com muito mais talento para esta actividade do que eu. Se enfio umas palmadas nos rabos dos meus filhos é porque nunca consegui educá-los convenientemente sem lhes chegar a roupa ao pêlo. Pode ser falha minha, com certeza. Mas acho a tal domesticação civilizacional inevitável, e nunca encontrei outra forma eficaz de exercer a actividade. Num dos comentários, a Céu Franco deu o óptimo exemplo de uma criança muito pequena a meter os dedos nas tomadas eléctricas. Alguém sabe convencê-la a não enfiar lá os dedos utilizando apenas pacientíssimos "isso não se faz?". Ensinem-me, sff, que em breve vai dar-me jeito para usar com a Rita.

2. Como explica a Sofia Carvalho no seu comentário, os filhos são mesmo diferentes uns dos outros, e nestas coisas da pedopsiquiatria caseira nós acharmos que existe uma fórmula perfeita e universal é uma grandessíssima treta.  Os filhos, as famílias e as circunstâncias são demasiado complexas e variáveis para alguém ter o atrevimento de achar que existe a solução, única e definitiva. O meu filho Tomás fica muito mais afectado com uma descompostura do que com um açoite, e portanto muito raramente lhe toco com um dedo. Já o meu filho Gui está-se nas tintas para a dialéctica e para todas as teses, antíteses e sínteses que não metam falangetas. E portanto...

3. Ainda nos comentários, a Helena defendeu efusivamente a tese da não-agressão, que eu não me sinto minimamente preparado para rebater cientificamente, embora seja fácil encontrar estudos que dizem o contrário. Mas, como dizia alguém, estudos deste género há para todos os gostos. O que eu queria aqui rebater é uma tese que está implícita nas suas intervenções, que é a de haver países mais avançados em termos de civilização e educação. Eu tenho muito inveja das instituições suecas, mas no que diz respeito à família diria que a cultura mediterrânica não tem muito a aprender ali. Os nossos laços familiares têm uma força com que os suecos nem sequer sonham. Eu não me importava nada de importar o seu Estado social mas deixem-me por favor ficar com as minhas famílias ibéricas trauliteiras. Em relação aos Estados Unidos, então, nem vale a pena falar - basta abrir a televisão.

4. A IndieGirl diz: "Bater nunca é legítimo! Dar um estalo a uma namorada é o fim do mundo, mas bater a um ser indefeso, que está a crescer, é educativo?!?!?" Por favor... Como disse, não só percebo como invejo quem educa sem levantar a mão. Mas comparar uma palmada numa criança com uma estalada numa mulher é um absurdo total. Uma criança de três ou quatro anos está num processo muito inicial de desenvolvimento e o castigo físico só é aceitável por se entender que é a forma mais eficaz de a impedir de repetir um gesto impróprio. Gesto esse que, em última análise, a prejudicaria a ela, como no caso acima citado de enfiar os dedos na tomada. De que forma é isso transponível para um quadro de violência doméstica? Não faz qualquer sentido.


publicado às 23:32


Já tinha visto muita coisa. Mas isto ainda não

por Teresa Mendonça, em 26.02.13
Isto é o que acontece quando deixamos o marido a tomar conta do vestuário das crianças enquanto damos de mamar. Camisolas do avesso, miúdos sem casaco em dias de frio de rachar, sapatos trocados de pé, sapatos trocados de filho, já houve de tudo. Esta, contudo, é uma estreia.



publicado às 09:33


Faz mal bater às crianças?

por João Miguel Tavares, em 26.02.13
A propósito deste post e do tau-tau, escreveu um leitor:

Definitivamente, ainda serão precisos muitos anos (ou mesmo séculos) para que os pais (não todos, felizmente) e a opinião pública em geral (não toda, felizmente) perceba que o castigo físico que muitos pais ainda utilizam para educar os filhos não é legítimo, tal como outra qualquer expressão de agressão de um ser humano para outro (mesmo que seja para afastar a mosca como muitos dizem em sua defesa). Nesse dia, bater num filho (ainda que com o pretexto de estar a educá-lo) será tão condenável como hoje já é a agressão do marido à mulher (agressão esta que outrora também foi prática corrente, aceite e justificável).


Ora vamos cá ver. Em primeiro lugar, seria de bom tom não fazer comparações entre a palmada que um pai dá no rabo de uma criança e a agressão de um marido a uma mulher. É uma comparação de tal modo desproporcionada que nunca dá bom resultado. Mas eu percebo que o leitor tenha chegado a ela, porque todo o raciocínio parte da premissa de que há uma igualdade entre pais e filhos que proíbe o castigo físico ("agressão de um ser humano para outro"), já que ambos são seres humanos.

Recuso em absoluto essa tese. É verdade que ambos são seres humanos, mas não há, de todo, uma igualdade entre pais e filhos, e tratar os filhos como nossos iguais é mau para ambas as partes. A hierarquia pai-filho deve estar bem estabelecida, não tanto por nossa causa, mas por causa deles - é ela que lhes dá segurança. E nesses aspecto, uma palmada no rabo ou uma estalada na mão desempenha o seu papel numa fase em que as crianças são demasiado novas para compreenderem argumentos racionais - ou, mesmo quando os compreendem, insistem ainda assim em passar dos limites.

Pode ser que haja pais fabulosos que consigam, sem recurso à palmada ou ao grito (que eu também pratico muito, às vezes mais do que gostaria), educar exemplarmente os seus filhos. Se assim for, ofereçam-me um workshop, se faz favor. Eu nunca consegui. Até por volta dos sete anos, aquilo que o leitor chama tragicamente de "castigos físicos" a mim sempre me pareceu uma ferramenta educativa essencial. A partir dos sete, a criança ganha uma autonomia, um nível de responsabilidade e de compreensão das coisas que tornam a palmada desnecessária, a não ser em caso de catástrofe comportamental. Há, evidentemente, um altura para parar de bater, como demonstram alguns estudos). Eu não me lembro da última vez que bati à Carolina.

Mas o Gui de vez em quando apanha, sim. E apanha porque, ao contrário de tanto discurso cor-de-rosa, educar também é domesticar. Além de inteligência e racionalidade, nós temos um lado animal fortíssimo, e a civilização, que é aquilo que nos afasta dos bichos, é uma construção milenar altamente castradora. Comer com talheres, lavar os dentes, pentear o cabelo antes de ir para a rua, cumprimentar o vizinho, nada disto são actos naturais. É mais giro comer com as mãos, andar desgrenhado, não falar a ninguém.  Educar é impor, é domesticar, é castrar, e para um libertário é até uma coisa muito feia de se fazer - porque nos uniformiza, torna-nos a todos demasiado parecidos. Mas eu não sou libertário. Sou mais para o conservador, e acredito nas vantagens da disciplina e na imposição de regras que nos ajudam a orientar ao longo da vida.

Toda a gente sabe que os homens são animais racionais, mas depois concentramo-nos demasiado no adjectivo e esquecemos o substantivo. Animais, sim. Somos bichos num eterno processo de domesticação (e muitas vezes a lutar contra ele). E a experiência diz-me que as palmadas que doem não são as que batem com muita força. São as injustas. E essas, sim, eu esforço-me ao máximo para as evitar. 

publicado às 09:32


Novas aventuras de um pai-zombie

por João Miguel Tavares, em 26.02.13
Uma virose que se transformou em otite, febres, pesadelos nocturnos, espertinas de uma hora às quatro da manhã, putos aos gritos, e, para culminar, tipo a cerejinha em cima do bolo, chichi na cama - coisa que já não acontecia desde que Miguel Relvas era um tipo popular. Em resumo: mais uma grande noite. Os pais deviam juntar-se para criar a Associação que Remova o Inverno da Vida das Crianças até aos Seis Anos. Elas precisam de narizes desentupidos. E eu preciso de dormir.

publicado às 09:07


One Baby Band

por João Miguel Tavares, em 25.02.13
Isto é tãããooo bom:


publicado às 08:50

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Os livros do pai


Onde o pai fala de assuntos sérios



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