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Socialismo mamário

por João Miguel Tavares, em 23.06.13
Foi um texto da Carla Hilário Quevedo na revista do jornal Sol que me chamou a atenção para mais esta extraordinária notícia oriunda da Venezuela. Tendo em conta os debates que já aconteceram neste blogue a propósito da amamentação, acho que vocês vão gostar, caros leitores. A notícia foi retirada do site do Público, aqui. Parece que o socialismo já chegou às mamas. Ora vejam:

O Governo da Venezuela, liderado pelo Presidente Nicolás Maduro, quer tornar a amamentação obrigatória. A proposta de lei que apresentou à Assembleia Nacional e que começa a ser discutida na terça-feira visa incentivar as mulheres a darem o seu leite aos filhos e limita a publicidade a leites para bebés.

A oposição considerou que há aspectos muito positivos na proposta de lei mas deixou duas críticas. Em primeiro lugar, não se trata de uma campanha de sensibilização para que os venezuelanos percebam a importância do leite materno mas sim de um acto coercivo. Segundo, como disse a deputada da oposição Dinorah Figuera, "é lamentável que se mate uma lei com uma péssima declaração".

Figuera referia-se às palavras da deputada Odalys Monzón (do Partido Socialista Unido, no poder), que disse que o laço que se estabelece entre a mãe e o recém-nascido no acto da amamentação está em risco por culpa das "multinacionais que vendem fórmulas [lácteas]".

Numa entrevista ao canal público de televisão, Monzón, que é vice-presidente da Comissão da Família do parlamento, sublinhou que "todas as crianças devem ter direito à amamentação" e foi ao ponto de dizer estar de acordo com a proibição dos biberons se isso ajudar a implementar esse hábito.

As organizações feministas venezuelanas criticaram duramente as declarações da deputada; outros sectores da opinião pública (os jornais, por exemplo) troçaram das suas palavras. Mas a lei vai ser discutida e votada, tendo o Partido Socialista Unido da Venezuela maioria na Assembleia Nacional.

O projecto de lei altera 18 dos 33 artigos da actual legislação e prevê sanções muito severas para os que violarem as regras da publicidade de leites e papas para crianças até aos seis meses. Estes, diz a lei, devem beber leite materno "excepto quando há outra indicação médica".

"O mais importante é o amor, que às vezes se perde porque falta esse calor que é transmitido quando se amamenta o bebé", disse a deputada que foi uma das protagonistas da pancadaria que ocorreu no parlamento de Caracas no dia 30 de Abril — 11 deputados ficaram feridos e Monzón foi identificada como tendo sido a pessoa que agrediu a deputada da oposição Maria Corina Machado, que teve que ser operada devido a uma fractura no nariz.

Olhada de uma forma mais lúcida, a nova legislação enquadra-se numa série de medidas do Governo de Nicolás Maduro para aplicar a "soberania alimentar" prevista pela Revolução Bolivariana e Hugo Chávez, o Presidente que morreu no início deste ano. A crise económica e a escassez de produtos tornou a aplicação dessa "soberania" (que não é mais do que a procura da auto-suficiência em relação aos bens alimentares de primeira necesisdade) mais urgente — o Governo está a ser obrigado a gastos astronómicos para importar alguns produtos.

Já com outro discurso, e citada pelo El País, a presidente da Comissão da Família do parlamento, María León — ex-ministra de Hugo Chávez — disse que é preciso "consciencializar a população" para os benefícios que o leite materno tem para os recém-nascidos e que pode ser dado às crianças até aos dois anos. León sublinhou que a lei obrigará as multinacionais do ramo que operam na Venezuela a criar horários compatíveis para as mães que amamentam.

A proposta prevê a criação de bancos de leite e estabelece multas pesadas para hospitais e maternidades que não cumpram as regras e suspensões para os clínicos.


publicado às 23:27


Metáfora animal

por João Miguel Tavares, em 22.06.13
Eu sei que isto pode parecer um vídeo sobre um cão pachorrento e um gato frenético, mas na verdade é uma excelente metáfora sobre a minha vida doméstica. Adivinhem quem é o cão e quem é o gato.


publicado às 11:44


Os bebés e eu

por João Miguel Tavares, em 20.06.13
Ainda a propósito deste post, queria apenas contestar o comentário da Ana Rute Oliveira Cavaco: "Epá, mas à parte isso, é tudo tão mais fácil quando eles são bebés...". Eu ouço imensos defensores dessa tese, sobretudo pessoas mais velhas que me dizem: "um dia ainda vais ter saudades". Percebo perfeitamente a ideia, mas acho que vocês não compreendem bem o meu problema com bebés que choram descontroladamente: é que eu começo mesmo a passar-me.

Ao pé de algumas experiências twilight zone que já tive, por exemplo com o Tomás, a Ritinha é uma santa de altares. Claramente, nos últimos dias estava com problemas na zona das dentolas, e agora que já tem quatro incisivos a apanhar ar voltou a ser uma gaja porreira. Mas quando os bebés choram ininterruptamente noite dentro e nós não os conseguimos mesmo calar, eu fico doido. Mas doido à séria. Começo a sentir uma vontade de serial killer de lhes enfiar uma meia na boca para que parem de chorar. Já me aconteceu mesmo, em noites de absoluto desespero, ter de me afastar para não os magoar - o que significa, provavelmente, que tenho um grave problema psicológico e que deveria ir à procura de tratamento médico. Mas como entretanto ainda não matei nenhum e já vou em quatro, deixo o psicanalista para mais tarde.

Um dos motivos - aliás, o principal - porque comecei a escrever sobre a família e a queixar-me dela, há coisa de cinco ou seis anos, foi porque me era incompreensível a unanimidade de um discurso cor-de-rosa sobre a paternidade quando eu não estava a achar graça nenhuma à coisa. Portanto, se algum dia eu tiver saudades de quando eles eram bebés, reabram o Júlio de Matos e metam-me lá dentro, se faz favor. Eu não acho piadinha nenhuma a bebés, e só poderei achar no dia em que achar também que sou o Napoleão.

Vamos lá ver: se vocês me encontrarem na rua com a Rita, a gente até se pode estar a divertir. Eu brinco com ela cá em casa, e atiro-a ao ar, e faço-a a rir, e sou um pai brincalhão. Ela até quer vir para os meus braços, imaginem só. Mas quando faço o somatório de "os prazeres" versus "as secas", garanto-vos que "as secas" ganham por larga margem. Daí eu dizer tantas vezes que o primeiro ano e meio de vida de um miúdo é morder a língua e esperar que passe depressa.

Até porque a Rita será, com certeza, a não ser que o mundo comece a girar ao contrário, a minha última filha, eu esforcei-me desta vez para ser mais atento e contemplativo do estado bebé. Resultado? Bom, acho que sim, e tal, foi um bocadinho mais giro. Eh pá, mas continuo a não gostar na mesma. Há imensa gente que gosta, e até tenho gente na família com imenso jeito para quando eles são bebés e pouco jeito para quando são crianças. Mas eu sou o exacto oposto disso. Portanto, não, não vou ter saudades de quando eles eram bebés, pelo menos enquanto não padecer de Alzheimer.

Vou certamente ter saudades de quando eles eram crianças, de quando eles tinham três ou cinco anos, de quando eram pequeninos e andavam às minhas cavalitas, de quando inventavam uma nova língua vagamente parecida com o português, de imensos momentos de felicidade que ficam registados (às vezes falsificadamente, mas isso é um outro assunto) nas fotografias que tiramos. Agora, para mim, não é fácil, nunca foi fácil e nunca será mais fácil "quando eles são bebés".

Mesmo que esta gaja seja tão gira, como manifestamente é, vai ficar infinitamente mais gira aos meus olhos daqui a seis mesinhos. No presente, damo-nos bem, há umas trocas de olhares, pinta um clima de vez em quando. Mas, ainda assim, jamais a convidaria a vir viver para minha casa.

Mãos ao ar, bebé insuportável!

publicado às 11:23


O companheirismo do Gui

por Teresa Mendonça, em 18.06.13
Pedi ao Gui para entreter a Rita um bocadinho enquanto eu lhe preparava o banho. Dois minutos depois estavam os dois a trocar olhares cúmplices e a brincar em silêncio... dentro do berço da Rita! Nem fazia ideia de que o Gui lá cabia. O Gui brinca sempre de igual para igual, e por isso é uma espécie de Rapaz-Elástico: com a Carolina e o Tomás estica-se para parecer um homem crescido, à altura da maturidade dos manos; com a Rita encolhe-se para perceber o que é que a ela mais lhe interessa e a faz feliz. Grandes lições de amizade para uns quantos crescidos apologistas do show off...



publicado às 10:39


Desafio do surf - a sequela

por João Miguel Tavares, em 18.06.13
Para quem quer conhecer a sequela deste post, posso garantir que teve final feliz, para repouso dos corações maternos e paternos. O Tomás veio assim do surf:


Ou qualquer coisa parecida com isto, porque esta foto já é antiga (hoje em dia ele tem bastantes menos dentes na boca). A prova disso mesmo é que esta manhã ele estava impossível, como sempre acontece quando entra em modo excitex. Falava tão alto que conseguiu acordar os dois irmãos mais novos, tentou explicar-me como é que se fazia o "take off" (?) em cima da cama, e nunca mais escutei um pio sobre querer ficar em casa nos próximos dias. Além de que já vinha com bronze de surfista - e foram só as primeiras oito horas...

Quanto à Carolina, claro. Foi absolutamente estupenda, espantosa, maravilhosa, já se conseguia colocar sozinha em cima da prancha, correu grandes perigos, apanhou ondas incríveis e está quase a assinar um contrato profissional com a Billabong.

publicado às 10:28

Terminada a escola, a Teresa lembrou-se de meter os dois miúdos mais velhos a aprender surf durante uma semana. Eu, que só conseguiria manter-me em cima de uma prancha se fosse amarrado com cordas, achei uma excelente ideia. Carolina, a Destemida, achou uma ideia excelente, e aproveitou para rever o havaiano Lilo & Stitch - se bem a conheço, aposto que dentro da cabeça dela já se imagina a surfar a maior onda do mundo com Portugal inteiro a aplaudir. Já o senhor Tomás anda há três semanas angustiado e a dizer que não quer ir. Em relação a ele, é sempre preciso utilizar os melhores métodos de persuasão do Dr. Phil para o convencer a fazer essa coisa super-maluca e mais ou menos impensável chamada... "experimentar".

O Tomás tem horror a tudo aquilo que se afasta do seu campo de segurança e vive no pavor constante de ser gozado e não estar à altura das expectativas dos outros - mesmo quando os outros não têm quaisquer expectativas a seu respeito. O seu medo de falhar toma proporções avassaladoras e convencê-lo a tentar colocar um pé fora da sua zona de conforto exige a energia de uma central nuclear. Após 20 dias a convencê-lo, a Teresa lá o foi levar há coisa de uma hora ao carro que os transportará para a Costa da Caparica. E desde então estamos os dois com o coração nas mãos, porque nunca sabemos como regressará o Tomás: se tristíssimo e cabisbaixo e a dizer que nunca mais volta e que não é capaz de se pôr em cima da prancha e que todos gozaram com ele; se absolutamente fascinado com o mundo do surf e a querer saber tudo sobre fatos de mergulho, fibra de vidro e ondas gigantes. Para ele, raramente há meio termo.


publicado às 09:58


Pare, escute e olhe

por João Miguel Tavares, em 17.06.13
Ilustração de José Carlos Fernandes

Eis o meu texto de ontem na revista do CM:

Quando eu tinha quase quatro anos de idade fui atropelado por um automóvel em Portalegre. Não me aconteceu nada de especial: a rua onde vivíamos era estreita e os carros circulavam devagar. Mas foi suficientemente impressionante para o acontecimento passar a fazer parte da mitologia familiar. Eu não me lembro de nada, nem de pneus a chiar, nem da pancada no metal, nem do corpo no asfalto, mas recordo-me de escutar, ao longo da infância, dezenas de “queres ser outra vez atropelado?” assim que me aproximava de forma mais desabrida de uma estrada.

O medo não pegou, contudo. Evito cultivar traumas de infância e resisto a ser consumido pelo receio de que alguma coisa aconteça aos meus filhos. Se pensarmos demasiado nisso, qualquer coisa pode acontecer em qualquer altura, até rãs a chover dos céus, como no filme Magnólia. Isso é paralisante. Sabendo nós à partida que o pior está garantido – “como moscas para meninos travessos, assim somos nós para os deuses”, escreveu Shakespeare no Rei Lear –, o mais sensato é viver esperando pelo melhor. E esse melhor não se consegue alcançar tentando obcecadamente proteger os filhos de todos os perigos, mas sim ensinando-os a reconhecê-los e a enfrentá-los.

Não tenho grandes certezas sobre educação, um mundo vastíssimo e complexo que a nossa inteligência está longe de abarcar. Mas estou convencido de que se conseguirmos incutir nos nossos filhos confiança, responsabilidade e independência, boa parte do nosso trabalho estará feito. Eu esforço-me por isso, e sempre tive muito orgulho na forma como os mais pequenos andam sozinhos na rua sabendo perfeitamente parar e esperar pelos pais quando chegam ao pé de uma estrada.

Isto até ao dia – aconteceu há duas semanas – em que qualquer coisa passa pela cabeça do Gui e ele decide atravessar sozinho a rua de São Bento. Não lhe aconteceu nada, era sábado e naquela altura não estavam a passar carros, mas acontecimentos como este, completamente imprevisíveis, são suficientes para abalar a nossa confiança e nos obrigar a rever tudo outra vez. A verdade é que a espécie humana não está programada para aceitar que um erro possa acontecer sem que nada esteja a ser mal feito. Por isso, o Gui passou a estar sob prisão rodoviária preventiva – agora anda na rua de mão dada. E a minha brilhante teoria? Continua óptima. Só está a recuperar do susto.

publicado às 09:23


Quem foi o gajo que inventou os bebés?

por João Miguel Tavares, em 14.06.13
Esta menina encantadora (que se não estiver de vestido passa perfeitamente por menino, como se pode ver pela foto) acabou de me dar a pior noite desde que nasceu, há nove meses e meio. Se a energia desta casa fosse alimentada a gritos, como no Monstros e Companhia, eu não precisaria de pagar electricidade durante um ano. Definitivamente, o meu amor aos bebés é do tamanho do bosão de Higgs. Cresce, miúda, cresce. E despacha-te, se faz favor.


publicado às 09:57


Separados à nascença

por João Miguel Tavares, em 12.06.13



publicado às 19:08


Tal pai... tal filho

por Teresa Mendonça, em 12.06.13
Há uns tempos, o meu excelentíssimo esposo gozou aqui comigo por uma certa manhã, em que saí de casa em passo de corrida com os três filhos em idade escolar atrás de mim, a porta de casa ter ficado aberta e ele só ter dado conta disso depois de ter tomado calmamente o seu pequeno-almoço e assistido às notícias da manhã. O esposo tinha toda a razão, mas havia um bom motivo para nos termos esquecido da porta aberta - pensávamos (ingenuamente) que atrás de nós ficaria um fidelíssimo pai a despedir-se da família.

Mas esquecimento com esquecimento se paga.

No domingo, quando íamos a caminho de Portalegre, precisámos de parar numa estação de serviço para meter gasóleo, tarefa que ficou a cargo do senhor pai. Quando já estava tudo pronto para partir, eu tive de sair do carro para procurar a chucha da Rita, que andava perdida no banco de trás, e eis senão quando... isto:


Isso mesmo. O homem da casa tinha deixado o depósito aberto, com a tampa meticulosamente encavalitada no tampão. Giro, não?

Sim, giro, mas não inédito. Há uns meses, íamos nós sossegadamente na autoestrada quando reparámos que todos os carros que passavam por nós desatavam a apitar, apontar e fazer sinais de luzes. Porquê? Pois é: vínhamos alegremente a despejar gasóleo pela A1.

E suspeito que não ficaremos por aqui. Depois de o papá se ter entretido a ensinar o Gui a abrir a janelinha das traseiras do carro (tem estado um calor insuportável e ele não resistiu...), agora não há dia em que o Gui - como seria de esperar - não abra a janela. Já fechá-la, é bastante mais complicado. E o papá também não se lembra nunca que aquele bocado de vidro não tem botão para subir e para descer. Portanto, se alguém quiser assaltar um carro nas nossas redondezas, é só procurar o monovolume da família Star Wars...



publicado às 14:06




Os livros do pai


Onde o pai fala de assuntos sérios



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