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Como assim "não vou para a rua"?

por João Miguel Tavares, em 25.02.14

A Ritinha está um pouco adoentada e teve de ficar os últimos dois dias em casa. Não imaginam o que ela detesta ver os irmãos sair para a rua e não poder ir com eles. Ontem, mal saíram porta fora, decidiu atirar-se para o chão, muito zangada. E amuou deliciosamente: 

 

publicado às 09:25


Restaurar a fé na humanidade

por João Miguel Tavares, em 24.02.14

Bom, e para que o dia de hoje não termine na mó de baixo, com um post sobre pedofilia, aqui fica a história desta campanha original da associação norueguesa de apoio à criança SOS Barnebyer. O que eles fizeram foi isto: colocaram um miúdo a tremer de frio (espero que apenas a fingir que tremia de frio, mas enfim) numa paragem de autocarro de Oslo, para ver como reagiam as pessoas.

 

 

E a verdade é que as pessoas reagiram da forma que se espera que pessoas decentes reajam: ajudando o miúdo, que se desculpava por lhe terem roubado o casaco, e que estava ali por ser aquele o ponto de encontro combinado com os seus colegas e professor.

 

Esta senhora até parece não estar muito interessada em ajudar, certo?

 

 

Mas não: emprestou-lhe o seu casaco.

 

E este deu-lhe as luvas:

 

 

Todas as pessoas parecem ter-se preocupado com o miúdo:

 

 

 

 

O vídeo da campanha é este:

 

publicado às 15:30


Sobre a pedofilia

por João Miguel Tavares, em 24.02.14

O meu post anterior já mereceu dois comentários bastante impressionantes sobre a questão da pedofilia, que trago de seguida para aqui. Mesmo que números sobre pedofilia sejam sempre muito difíceis de averiguar, o que mais me interessa é a questão de partida: devemos mesmo conversar com uma criança sobre a possibilidade de alguém mais velho poder tocar-lhe e como deverá reagir nesse caso?

 

Por outras palavras: a pedofilia é uma questão de tal modo presente, e um perigo de tal modo real, que justifique o mesmo género de conversa que se tem, por exemplo, com uma miúda de 10 ou 11 anos sobre o período? Eu, francamente, sempre achei que não. Mas diante de testemunhos como os que se seguem, talvez esteja errado. Gostava de saber a vossa opinião.

 

Este é o primeiro comentário, de R. (versão integral aqui):

 

Bom dia, João. Acompanho com interesse o blogue há algum tempo e nunca antes comentei, mas hoje tenho de o fazer: "99,9% das crianças não serão sequer vagamente expostas à pedofilia" é uma absoluta falsidade, sendo grave e perigoso disseminar tal ideia.

Citando a Wikipédia: "In the UK, a 2010 study estimated prevalence at about 5% for boys and 18% for girls" [...] "Surveys have shown that one fifth to one third of all women reported some sort of childhood sexual experience with a male adult." (...)

Se é verdade que falar de sexualidade e pedofilia às crianças pode ser difícil e embaraçoso, os efeitos de não o fazer podem ser muito piores. Se me tivessem dado luzes sobre isso em criança, talvez eu soubesse que deveria denunciar aquelas "festinhas" do professor de matemática aos 6 anos. Mesmo que fosse através de um vídeo piroso. Em vez disso, como nunca ninguém me falou especificamente do assunto (sexualidade em geral e pedofilia em particular), presumi que esse era um assunto tabu, a nunca abordar, e só compreendi a coisa terrível que me acontecera muito mais tarde, quando estourou o caso Casa Pia. 

A meu ver, esperar que as crianças façam perguntas (quando elas nem sabem o que perguntar) é deixá-las desnecessariamente mais vulneráveis. É preferível que elas saibam o que é a sexualidade (o bom e o mau) desde logo em vez de o deduzirem/aprenderem - quase sempre equivocadamente - através de amigos, da experiência ou dos telejornais. (...) Não devemos fomentar a paranóia nem abordar o assunto à bruta/cedo demais/etc., mas there’s no such thing as TMI neste domínio. Quanto mais conhecimento, menos medo e mais liberdade. Espero tê-lo ajudado a ver as coisas de outra maneira. 

 

E este é o segundo comentário, de uma leitora anónima (versão integral aqui):

 

(...) Como o João, sou grande apologista do TMI e respondo sempre às perguntas da minha filha de 4 anos, mas não tento dar-lhe informação que ela não requer. (...) Mas o que eu queria escrever mesmo é que fui vítima de "festinhas" nos seios durante as aulas de violino no Conservatório, devia ter para aí uns 6-8 anos. E tinha horror às aulas, mas nunca contei a ninguém porque tinha vergonha. Quando veio um professor novo, foi uma felicidade!!! E também fui vítima durante muito tempo de um senhor, grande amigo dos meus avós, que também gostava de me tocar em partes do corpo quando me apanhava a jeito. E também nunca contei a ninguém, por a família dele ser tão amiga da minha... Devo dizer que só fui molestada, felizmente nunca sofri abusos sexuais. Mas chegou para me traumatizar.


Além disso, acreditem ou não, sofri uma tentativa de violação. Um tipo deu-me boleia (!!!) e eu era tão garota e tão ingénua que aceitei. (...) Fui salva por um casal que vinha na direcção contrária. Estou a contar isto para alertar para um erro colossal que os meus pais cometeram na altura: depois de irmos para a esquadra, cheguei a casa e fui para a cama. E a partir daí os meus pais NUNCA mais falaram comigo sobre o que se tinha passado. Tanto que eu durante muitos anos não tive a certeza se a coisa tinha mesmo acontecido ou se tinha ido um "sonho". Tanto que nem sei que idade tinha na altura... Só muuuuitos anos depois é que perguntei aos meus pais se aquilo tinha acontecido. Eles quase iam "morrendo" do choque! Pelo menos fiquei a saber que aconteceu, mas eles, mesmo tantos anos depois, não quiseram falar muito no asssunto. E a resposta deles à pergunta de porque é que não tinham falado comigo sobre o que se tinha passado na altura, foi que pensaram que se não dissessem nada, eu ia esquecer o que tinha acontecido. ERRADO! Tenho 43 anos e não esqueci!

 

publicado às 14:04

Depois de ter descoberto graças as estes dois posts, e para meu grande espanto, que 98% da população portuguesa entre os 35 e os 45 anos conhece a Enciclopédia da Vida Sexual editada pela Bertrand na década de 70, uma leitora perguntou-me na caixa de comentários o que é que eu achava do filme Então É Assim, sobre educação sexual das crianças, e que mostra (mesmo) como fazer filhinhos.

 

Eu não conhecia o filme, mas um leitor respondeu:

 

Sou professor do 1º ciclo e digo-lhe que, na minha opinião, se o seu filho vir o filme já não vai aprender grande coisa, pois com 11 anos esses assuntos já foram mais que falados e debatidos entre colegas e na escola.

 

Fiquei com curiosidade, e descobri o filme no YouTube em versão portuguesa (passou na RTP2 às oito da noite, com aviso aos pais). Tem cerca de 17 minutos, para quem estiver interessado. Cá vai mais uma possível infracção aos direitos de autor:

 

 

 

O filme é de 1990 e - como não poderia deixar de ser - foi feito na Dinamarca. Escrito e realizado por Liller Moller, é o último opus de uma trilogia dedicada ao sexo realizada por Moller e utilizada nas escolas da Escandinávia.

 

Eu, por defeito de formação e muitos anos a escrever sobre cinema, tenho logo à partida um problema com filmes animados feitos em vão de escada. A animação de Então É Assim é mesmo muito má, ao que se junta aquela dobragem portuguesa infantilóide que consiste em arranjar uma senhora que faça voz de bebé, para assim supostamente imitar criancinhas. Um dia tenho de escrever um post sobre isso - qualquer imitação de voz de bebé por parte de um adulto deveria ser proibida quando dirigida a crianças com idade superior a dois anos. Para mim, é tratar os miúdos como se fossem atrasados mentais. Mas enfim, não me quero dispersar - até porque ninguém irá ver o filme por deleite estético.

 

Em relação ao seu conteúdo, devo confessar-me relativamente espantado: não há nada como um filme de educação sexual dinamarquês para nos fazer sentir retrógrados e conservadores. Não acho, de facto, que fosse mostrar Então É Assim a um filho meu na idade em que ele é suposto ser mostrado - diria que é coisa para 12 ou 13 anos, mas quando se chega aos 12 ou 13 anos provavelmente já não se precisa de ver aquilo (e as vozes de bebé ainda fazem menos sentido).

 

Diálogos como "o pénis dele está duro e ela começa a ficar húmida" vão a um detalhe da mecânica da coisa que me parece escusada, tal como o delirante Kamasutra que começa por volta dos oito minutos de filme e que até mete mamas a badalar (a sério). Se se começa a apresentar a criança à lubrificação e à manipulação de mamilos, por que não avançar, já agora, para o conceito de 69 ou para a diferença entre felatio e cunnilingus?

 

Mais: a obsessão pedófila do início do filme é um bocadinho assustadora. "O que é que tu fazias se um crescido abusasse de ti?", pergunta-se a certa altura. Por favor. Felizmente, 99,9% das crianças não serão sequer vagamente expostas à pedofilia, e o filme parece desvalorizar a importância do conceito de TMI na infância.

 

"TMI", para quem não sabe, significa "too much information" - demasiada informação. A educação é progressiva, existe uma idade certa para aprender as coisas, e portanto não vale a pena puxar um filho para o lado para lhe explicar, aos oito anos de idade e junto à televisão, o que é a pedofilia e porque é que é tão divertido pinar.

 

Porque tem algum mal ele saber isso? Não - mas só se lhe apetecer. Se não lhe apetecer, uma conversa dessas necessariamente sobrevaloriza aquilo que para ele não chega sequer a ser uma curiosidade. Ou seja, eu acho óptimo os pais terem uma grande abertura para falar com os filhos sobre tudo. Aliás, se os pais forem apanhados pelos filhos no truca-truca (há sempre uma altíssima probabilidade de tal vir a acontecer, como todos sabemos), não terão outro remédio se não explicar-lhes o que é aquilo, até porque visto de fora, por uma criança pequena, o acto sexual parece violento e os ruídos de prazer podem facilmente confundir-se com dor.

 

Mas uma coisa é estar disponível para falar sobre isso. Outra, bem diferente, é colocar os filhos a ver um filme para eles aprenderem sozinhos aquilo que para os pais parece muitas vezes embaraçoso explicar. É assim que se cai no TMI - eu não quero explicar a um puto de oito anos, via filme dinamarquês foleiro, o que é a lubrificação ou a pedofilia. Quero, isso sim, que ele se sinta suficientemente à vontade comigo para me perguntar o que isso é se, por acaso, quiser saber, porque ouviu na escola ou nas notícias.

 

O sexo é como a matemática ou o português: primeiro aprende-se o alfabeto e as contas fáceis, mais tarde evolui-se para as equações e para os tempos verbais. Então É Assim parece-me querer explicar o que é uma raiz cúbica a um puto que ainda só tem dentes de leite. Definitivamente TMI. Ou então sou eu que estou a ficar velhinho.

 

publicado às 10:13


O falecimento da última verdadeira Von Trapp

por João Miguel Tavares, em 23.02.14

Li hoje no Público que Maria Franziska Von Trapp morreu aos 99 anos, sendo ela a última dos verdadeiros Trapp Family Singers, imortalizados no filme Música no Coração.

 

 

Não há ninguém pertencente à minha geração que não tenha visto Música no Coração pelo menos sete vezes nas vésperas de Natal, e cá em casa o filme é sobretudo adorado pela excelentíssima esposa, que provém também ela de uma família grande e musical e que teve de abandonar o lugar onde vivia para refazer a vida (os pais da Teresa deixaram Moçambique logo após o seu nascimento).

 

Junte-se a isso as ressonâncias cristãs da noviça Julie Andrews e o amor bigger than life do casalinho Von Trapp - ainda por cima baseado em factos reais - e temos diante de nós um filme que os Mendonça continuam a adorar acima de todos os outros. Se não necessariamente em termos cinematográficos, certamente em termos afectivos.

 

Convém, no entanto, não confundir esta Maria Franziska com a outra Maria, a verdadeira, a tal interpretada por Julie Andrews, segunda mulher do capitão (e barão) Georg Von Trapp. Maria e Georg tiveram o privilégio de manter os seus verdadeiros nomes no filme. Maria Franziska, pelo contrário, e certamente para que as Marias não se confundissem, foi rebaptizada de Louise.

 

 

Não tinha um papel muito destacado no filme: ela é a segunda a contar da direita, ao lado da pequena Gretl, essa sim uma das estrelas de Música no Coração (Gretl, na verdade, chamava-se Martina Von Trapp, e morreu muito jovem, com 30 anos, ao dar à luz o seu primeiro filho - infelizmente, os finais na vida real raramente são tão bonitos como nos filmes).

 

Mas para quem só conhece Música no Coração do filme (ou seja, quase toda a gente), a morte da última Maria é uma boa oportunidade para conhecer os verdadeiros Von Trapp e, para os mais abonados, quem sabe marcar umas pequenas férias de Inverno na enorme estalagem da família em Vermont.

 

Reunião de família em 1965 em frente à estalagem

 

 A estalagem na actualidade

 

 

Nada má, a casinha americana da família Von Trapp. Experimentei marcar um par de noites lá via Booking para estas férias de Carnaval (não, não estava a pensar ir, era só para efeitos de investigação), mas já estava esgotado. Só há vagas para meados de Março, com a diária a cerca de 200 euros.

 

É certo que quase nada daquilo que se vê no filme se passou na realidade (se repararem bem, as idades das crianças não batem certo, e nada aconteceu num espaço de tempo tão curto), mas o "baseado em factos reais" é... real.

 

Georg foi mesmo casado anteriormente com uma senhora que morreu de escarlatina em 1922, e com a qual teve sete filhos (como no filme). E foi em 1926, por causa da Maria Franziska agora falecida (tinha então 12 anos, estava doente, e não podia ir à escola), que o capitão Von Trapp, então a viver numa quinta nos arredores de Salzburgo, decidiu contratar para tutora uma tal Maria Augusta Kutschera, noviça de 21 anos na abadia de Nonnberg. Ambos acabariam por se apaixonar.

 

Os verdadeiros Georg e Maria Von Trapp

 

Se bem se recordam, no filme eles não estão casados. Mas na vida real casaram-se logo em 1927 e tiveram mais três filhos, esses sim com idades semelhantes às das crianças do filme. A família cantava apenas de forma amadora, mas em 1935 o capitão Von Trapp perdeu quase toda a sua fortuna com a falência de um banco austríaco e, a partir daí, a família decidiu começar a cantar de forma profissional.

 

Com a anexação da Áustria pela Alemanha nazi, em 1938, foi oferecido a Georg - um herói da Primeira Guerra Mundial e um dos primeiros comandantes de submarinos - um cargo na marinha de guerra, mas ele recusou, por não concordar com os ideais nazis. Diz-se também que a família terá recusado actuar num aniversário de Hitler. Certo é que no mesmo ano, temendo retaliações, a família Von Trapp decidiu abandonar a Áustria em direcção aos Estados Unidos. Não à noite, através das montanhas, como no filme, mas à luz do dia e de comboio, através da Itália.

 

Chegados aos Estados Unidos, continuaram a cantar, e em 1939 fizeram inclusivamente uma digressão pela Europa, o que dá alguma ideia do seu sucesso. Em 1942 compraram a casa de Vermont e a enorme quinta de 270 hectares que ainda hoje é a principal fonte de rendimento da família.

 

Georg Von Trapp morreu de cancro do pulmão em 1947. Em 1949, Maria publicou nos Estados Unidos o livro The Story of the Trapp Family Singers, que em 1956 daria origem a um filme alemão, Die Trapp-Familie. O filme alemão transformou-se num musical da Broadway em 1959, já com a música de Richard Rodgers e as letras de Oscar Hammerstein. E em 1965, surgiu aquilo que toda a gente conhece (e canta) de cor: o filme Música no Coração, com realização de Robert Wise e uma interpretação inesquecível de Julie Andrews como Maria (e também de Christopher Plummer como Georg Von Trapp).

 

A verdadeira Maria, como é habitual nestas coisas, não gostou particularmente da versão que Hollywood construiu da sua história. Mas, como é igualmente habitual, lá se terá conformado com a coisa, sobretudo após o avassalador sucesso de Música no Coração. No YouTube encontramos um divertido encontro dela com Julie Andrews, a Maria verdadeira e a Maria fictícia, com cantoria pelo meio e tudo:

 

 

Maria Von Trapp morreu em 1987, aos 82 anos. Para quem quiser saber mais sobre o tema, está igualmente disponível no YouTube um bom documentário sobre a sua família. A primeira parte está aqui, a segunda parte aqui e a terceira parte aqui.

 

Se ainda lhe sobrar um tempinho neste domingo, parece-me um justo tributo ao desaparecimento de Maria Franziska, a última dos verdadeiro Von Trapp. Que embora definitivamente mortos, ainda assim continuarão a viver na memória do cinema por muitos e muitos anos.

 

publicado às 15:12


Chegou!

por João Miguel Tavares, em 22.02.14

Acabadinho de sair da gráfica, a caminho da distribuidora e, a partir de dia 7 de Março, em todas as livrarias do país: Manual de Sobrevivência para Pais e Maridos. Já está em pré-venda na Wook.

 

publicado às 18:11


10 anos

por João Miguel Tavares, em 21.02.14

publicado às 09:51


A vida sexual das crianças em 1975 #2

por João Miguel Tavares, em 20.02.14

Tendo em conta que, nos comentários a este post, a Antónia Guerra e a Patrícia Fernandes falaram ambas de uma imagem do livro que nunca mais esqueceram, sobre uma relação sexual representada com a "zona genital transparente", não resisto a reproduzir aqui essa página, para efeitos de nostalgia softcore.

 

 

Lá está o truca-truca à transparência. Como vêem, não estava a mentir quando disse que o livro me parecia atrevidote para crianças dos sete aos nove. Os nossos pais estavam muito à frente.

 

Mas, curiosamente, o texto que acompanha esta ilustração tem um je ne sais quoi de conservadorismo. Ora vejam: 

 

Rapazes e raparigas gostam de estar juntos. Passeiam, vão ao cinema, emprestam livros e discos uns aos outros [reparem que há aqui uma certa erudição], encontram-se durante as férias.

 

E depois, um belo dia, um rapaz e uma rapariga descobrem que, como a tia Teresa e o tio Roberto [nota mental: perguntar à Teresa se conhece um Roberto] outrora, gostam de ficar a sós.

 

Quando estão sozinhos, apreciam muito conversar, mas têm, também, grande prazer em beijar-se [reparem: "também" têm prazer em beijar-se, mas apreciam sobretudo conversar].

 

Anseiam por viver juntos e procurarão ficar sempre cada vez mais próximos um do outro [ou seja, não há cá truca-truca sem desejo de juntar os trapinhos, que isto é um livro com desenhos de sexo explícito, mas respeitável]. O contacto dos seus corpos e a troca de carícias constituirão, para eles, uma grande felicidade [confere]. Um dia, finalmente, quererão unir-se por completo [linda expressão] e, mais feliz do que nunca [confere], o rapaz introduzirá o seu pénis na vagina da rapariga [não há hipótese: "introduzir pénis na vagina" continua a ser a expressão mais anti-clímax da história do sexo], experimentando ambos um novo prazer, que se denomina prazer sexual [é um livro optimista, que acredita que toda a gente sai satisfeita].

 

No momento em que o prazer é mais intenso, os espermatozóides saem do pénis do homem e entram pela vagina da mulher, percorrendo o tubo [o "tubo"?]. Algumas vezes, um deles encontra um óvulo no seu percurso. É dessa maneira que se pode, se assim se desejar [e muitas vezes não desejando], ter um bebé.

 

publicado às 16:03


A jóia da nossa família

por Teresa Mendonça, em 20.02.14

Quando era pequenina lembro-me de vibrar com a descrição feita pela minha mãe do nascimento de cada um dos seus filhos. Ela contava sempre pormenores que tornavam cada parto num momento especial e único e no qual ficava impresso desde logo a personalidade de cada um de nós, o que sublinhava quão especial e irrepetível é cada criança que nasce. 

 

Eu, por exemplo, vim ao mundo esfomeada e cheia de pressa (a minha mãe diz que parecia que vinha de patins), de tal modo que quando atravessei o canal de parto borrifei de preto o médico e as enfermeiras que o auxiliavam. Ainda hoje não sei bem se o que deu banho àquelas pessoas foi mecónio ou sangue (bleeergh!), devido ao descolamento da placenta que ocorreu antes de eu ter nascido, mas comecei desde logo a tocar a vida das pessoas que me rodeavam... com líquidos biológicos nauseabundos. Este baptismo de sangue parece ter sido premonitório, uma vez que acabei por me especializar em Hematologia Clínica.

 

Todos vibrávamos com estas descrições romanceadas e cada um de nós sabia qual tinha sido o presente que o meu pai havia oferecido à minha mãe no dia do nosso nascimento, e que eventualmente haveria de ser herdado pelo respectivo filho quando fôssemos velhinhos. Geralmente o meu pai escolhia pequenas peças em prata que eram por nós admiradas como se fossem diamantes.

 

Quando comecei a construir a minha família com o João, conhecendo ele bem esta história, transportou esta tradição para nós e a cada nascimento dos nossos filhos ofereceu-me uma peça muito bonita e que passará para cada um deles quando eu já não pertencer a este reino. Mas na sequência de um famigerado assalto, a Carolina acabou por ficar sem a sua prenda correspondente, e eu já há alguns anos que me perguntava sobre como colmatar esta falta. Não queria substituí-la por uma peça qualquer, sem qualquer sentido, e resolvi deixar o tempo passar até que a resposta surgisse. Saber esperar! Uma grande lição de vida.

 

E a resposta surgiu. No mês passado recebemos um presente muito especial e inesperado. A Omnia, uma marca portuguesa de joalharia, resolveu oferecer-nos uma peça em prata representando a nossa família.

 

 

Qual seria a probabilidade de uma joalharia se lembrar de oferecer ao Pais de Quatro uma peça personalizada em prata (como as que o meu pai oferecia à minha mãe) e representando a nossa família, quando eu esperava há anos por encontrar uma peça simbólica para substituir a que me foi roubada depois da Carolina nascer? 0,000001%? Mas assim foi.

 

Para que não haja confusões: nós não fazemos posts pagos; não usamos o blogue para fazer publicidade a marcas; e a maior parte de ofertas como esta, que nos chegam via mail, são recusadas. Mas gostamos de partilhar grandes ideias, e esta é uma delas, para mais vinda de uma marca portuguesa que dedicou à família peças cheias de simbolismo (linha Family da colecção My World).

 

Estas peças da Omnia são produzidas manualmente, e portanto podem ser personalizadas a pedido, de acordo com as características da família. Além disso, são bastante acessíveis, o que não é de todo frequente encontrar. Podem, por exemplo, representar uma família com cinco meninas e um menino representando as crianças de acordo com as suas idades; duas meninas gémeas; a mãe grávida e três rapazes; cinco raparigas e três rapazes mais um cão (vão ao pormenor de poder representar as raças dos cães, como no caso de um Teckel que lhes foi pedido); tudo o que couber no espaço de dois centímetros. E custam 39 euros (+12,5€ no caso de pedido especial).

 

 

Todas as peças que estão no site podem ser compradas online ou nos pontos de venda que estão indicados, mas para pedidos especiais deve ser usado o email info@omnia.pt, e neste caso o prazo de entrega ronda uma a duas semanas (nós acabámos de fazer uma encomenda especial para uma família amiga). Para uma ocasião que se quer rechear de simbolismo e marcar com um presente personalizado, é uma alternativa fantástica.

 

Que o digamos nós e em especial a nossa Carolina.

 

publicado às 11:04


A vida sexual das crianças em 1975

por João Miguel Tavares, em 20.02.14

Ando a arrumar as estantes de livros dos miúdos e a tirar de lá coisas a que eles já não ligam nenhuma. No meio dessas andanças, encontrei um velho livro meu (ou seria do meu irmão?), que a minha mãe comprou quando eu ainda era criança: Enciclopédia da Vida Sexual 7/9 anos, da autoria de quatro ginecologistas franceses.

 

A minha edição é de 1975, gloriosos anos revolucionários, e o que me interessa não é tanto o seu conteúdo, embora em certas coisas me pareça um pouco atrevidote para putos de sete anos, mas sim a sua capa.

 

 

Ora, isto hoje em dia seria absolutamente impensável. Não só por "gente nua em cadeirão de verga" remeter automaticamente para um filme erótico que era contemporâneo desta edição, o clássico Emmanuelle (1974), com Sylvia Kristel,

 

 

como por numa época tão marcada pelos escândalos da pedofilia e a protecção das crianças, qualquer espécie de nudez infantil ter sido totalmente banida do espaço público.

 

Por curiosidade, andei à procura de uma edição mais recente dessa obra publicada em Portugal. E encontrei-a à venda no OLX. A capa, como seria de imaginar, não tem nada a ver:

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Não sei se os nossos pais eram mais ingénuos ou mais badalhocos em 1975, mas sei que, ao contrário do que muitos pensam, e do que é tantas vezes o discurso público da decadência dos hábitos e dos bons princípios, a nossa época não é, de facto, a mais laxista de todos os tempos. Longe disso. No que diz respeito às crianças (e também aos adultos, diria eu, mas isso é outra história), parece-me óbvio que nós somos infinitamente mais pudicos do que já fomos. Como o meu precioso livrinho tão bem o demonstra.

 

publicado às 10:57




Os livros do pai


Onde o pai fala de assuntos sérios



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