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Ontem o Gui ficou em casa porque teve febre, e às tantas decidiu vestir-se de cowboy. Logo aí se vê a diferença entre os irmãos. Para o Tomás, vestir-se à cowboy é colocar todo o rigor no traje, com o coldre no sítio, o chapéu certo na cabeça, a espingarda entre os braços - como fazem os verdadeiros cowboys.
Para o Gui, qualquer vestimenta é uma forma de recriação, e por isso às tantas apareceu-me com o coldre do irmão, mais outro enfiado no cinto, duas pistolas dentro de um só coldre, as armas do Buzz Lightyear misturadas com os revólveres, numa daquelas confusões à Gui, com a imaginação sempre à solta.
Como gostei imenso da vestimenta, decidi fazer com ele uma sessão fotográfica. Pedi-lhe para ir fazendo umas caras de mau, à cowboy pronto para o duelo, e saiu isto. Ele é tão expressivo, que até fiquei a parecer um verdadeiro fotógrafo profissional. O próprio Sergio Leone certamente não desdenharia ter um Gui destes em O Bom, O Mau e O Vilão - reparem como ele simula sacar com a mão esquerda para depois disparar com a direita.
Há um par de dias Madonna colocou esta imagem no Instagram e voltou a reabrir o debate sobre a questão do pêlo no ideal de beleza feminina, acompanhando-a com a legenda "Long hair...... Don't Care!!!!!!".
Tendo em conta que a foto foi lançada numa altura em que a cantora está a lançar a sua nova linha de cosméticos, MDNA skin, há dúvidas justificadas sobre se a foto pretende tomar posição sobre um velho tema feminista ou chamar atenções sobre si. Umas deitam a língua de fora, outras não depilam as axilas.
A questão da liberdade versus mau gosto não tem resolução possível, e a maior parte das mulheres que conheço são as primeiras a considerar a não-depilação das axilas impensável. É algo que está instituído há demasiado tempo nos países ocidentais (sobretudo aqueles com grande percentagem de mulheres morenas) para poder ser invertido, ainda que por um sovaco tão popular quanto o de Madonna. Portanto, não acredito que ela vá instituir isto como moda.
A Julia Roberts atreveu-se a acenar aos seus fãs, com as axilas por depilar, durante a estreia do filme Notting Hill, em 1999, e 15 anos depois ainda se fala disso.
Mas há aqui duas questões curiosas. A primeira diz respeito à própria Madonna. Ela não é propriamente nova nestas afirmações através do pêlo. As suas famosas fotos de finais dos anos 70, princípios de 80, mostram-na com as axilas peludas, mas de uma forma bastante diferente da actual.
Ou seja, aqui ela está realmente ao natural, podendo reclamar liberdade total para a mulher. Na foto recente do Instagram, pelo contrário, os pêlos das axilas estão devidamente aparados e... pintados. Donde, é difícil ela justificar aquele "don't care" - imagino que colorir cuidadosamente o sovaco dê bastante mais trabalho do que rapá-lo. Madonna pode estar a querer lançar uma nova moda, semelhante aos cuidados que muitas mulheres têm com o desenho dos pêlos púbicos, mas o "não quero saber!" é uma grande treta.
A outra questão curiosa tem a ver com a natural reacção pró-pêlo de uma sociedade que é capaz de ter levado a sua paixão pela depilação longe demais. Eu não faço ideia de quem estabelece as modas ao nível do pêlo púbico (feminino e até masculino) - o cinema pornográfico?, as esteticistas?, as séries de televisão tipo Sexo e a Cidade e Dona de Casas Deseperadas? -, mas a proliferação da "brazilian wax" até a um ponto em que tudo desaparece e as mulheres ficam ali entre a boneca Barbie e o estado pré-púbere parece-me um radicalismo depilatório que haveria naturalmente de originar alguma espécie de reacção.
Algumas pessoas têm vindo a tomar posição contra isso, como Cameron Diaz, ao que parece muito pró-bush no seu novo livro, The Body Book (eis um artigo bastante divertido sobre o tema, aqui), e no último Dia dos Namorados uma das lojas novaiorquinas da American Apparel deu muito que falar com esta perturbante montra.
Não me parece que o florescimento capilar dos anos 70 esteja de volta, mas esta reacção contra a obsessão de querer que o corpo de um adulto fique com a textura do de uma criança parece-me saudável. Embora o statement de Madonna soe um pouco a falso, a questão que ela levanta é actual.
Muito se tem ouvido falar sobre os benefícios dos vegetais colhidos no início do desenvolvimento, adivinhando-se vantagens nutritivas significativas do seu consumo nessa fase. Hoje em dia, podemos encontrar baby leafs (vegetais de folhas jovens, por exemplo de rúcula, alface ou agrião) e mini-hortaliças (como a nova geração do tomate-cereja ou cenouras-bebé - das verdadeiras, e não das que são cortadas e moldadas a partir de formas adultas, só para enganar o consumidor pouco atento) na maioria dos supermercados ou mercados biológicos do país. Mas a oferta dos chamados microgreens, apesar de serem cada vez mais conhecidos, é muito escassa.
Os microgreens são pequenas formas de vegetais e ervas aromáticas, colhidas menos de 14 dias após a sua germinação, logo que se formam as primeiras folhas. Recentemente foi publicada a primeira avaliação científica que confirmou que os microgreens são quatro a 40 vezes mais concentrados em nutrientes do que os respectivos vegetais ou ervas aromáticas na sua forma madura. Por exemplo, os microgreens de couve roxa são 40 vezes mais ricos em vitamina E e seis vezes mais ricos em vitamina C do que a couve roxa na forma madura; os microgreens de coentros são três vezes mais ricos em betacarotenos do que as ervinhas que estamos habituados a utilizar nos nossos cozinhados.
No contexto de uma família onde os miúdos até comem vegetais mas em quantidades muito inferiores às que deviam (como em quase todas as famílias, suponho), esta é definitivamente uma estratégia a não desprezar. Exactamente porque são colhidos pouco depois de germinarem, os microgreens contêm uma concentração de nutrientes e antioxidantes muito elevada, o que lhes confere sabores e aromas, cores e texturas ideais para criar pratos divertidos que as crianças vão adorar.
Podem encomendar-se via net, por exemplo na microgreens.pt, mas o preço é muito elevado e só vale realmente a pena se a encomenda for feita em grandes quantidades. Há muitos restaurantes gourmet a usá-los, devido ao seu palador intenso e cores fortes, mas a título particular é muito pouco compensador fazê-lo.
Daí o grande mérito de uma empresa chamada Stufa, criada por dois irmãos portugueses (ela é formada em Ciências do Ambiente, ele é designer), que entre as suas óptimas ideias, sempre interessantes e inovadoras, apostou nos microgreens para os pequenos consumidores, disponibilizando kits de sementes de microgreens de mostarda e rúcula que podemos facilmente cultivar em casa. Até numa casa como a nossa, que não tem varandas nem quintal, e onde os agricultores domésticos mal distinguem uma enxada de um sacho.
Foi por isso que ficámos super-entusiasmados com a campanha que a Knot fez em parceria com a Stufa há alguns meses. Em lojas que nos habituaram a vender roupa e acessórios para crianças, a Knot passou a disponibilizar pequenas embalagens de sementes de microgreens de bróculos que podem ser adquiridas por 2€.
Demorámos algum tempo até experimentar a sementeira, mas o resultado foi absolutamente avassalador. Arranjámos dois pratos dos vasos que habitualmente temos nos beirais das nossas janelas e seguimos as minuciosas instruções que a Stufa sempre disponibiliza em todos os seus produtos. Fomos assistindo ao crescimento dos microgreens e em apenas uma semana (exactamente sete dias - o que foi óptimo, porque a sementeira foi feita num fim-de-semana e a colheita e consumo no fim-de-semana imediatamente a seguir)... voilá!
Microgreens carregadinhos de vitaminas e antioxidantes para colhermos na nossa própria cozinha e preparar para o nosso almoço.
O chef foi o Gui, geralmente o mais chato para comer vegetais, que devorou a sua saladinha a uma velocidade inimaginável se fosse feita de legumes comprados no supermercado. Sucesso garantido! Temos mesmo que repetir muitas vezes a experiência. E, já agora, os nossos parabéns à portuguesa Stufa e à Knot por estarem a apostar numa ideia tão boa e com tantas vantagens para a saúde dos miúdos.
Tom Fletcher, da banda britância McFly, foi pai pela primeira vez. Durante a gravidez, ele fotografou diariamente a sua mulher Giovanna, e depois fez este vídeo magnífico ("From Bump to Buzz") com esta canção maravilhosa ("Something New"), em honra do pequeno Buzz, que por esta altura tem dez dias de vida. Acompanhar a gravidez com fotografias está na moda, e há pessoas que o fazem de forma muito original, mas até hoje nunca tinha visto nada tão giro quanto isto.
E porque hoje é o Dia Internacional da Síndrome de Down (21/3 = três cromossomas 21), a proposta das organizações que divulgam internacionalmente este dia é que usemos meias coloridas, desemparelhadas, curtas ou compridas, uma meia ou até três meias, qualquer coisa fora do habitual que leve as pessoas que se cruzam connosco a interpelar-nos sobre essa irreverência. Criaram até um site onde podemos comprar as meias oficiais, que são divertidíssimas.
É uma óptima oportunidade para sensibilizar os nossos colegas, os nossos amigos ou a nossa família para a realidade desta condição genética, que não pode ser tratada como uma doença, nem sofrer discriminação no acesso à educação, saúde ou trabalho, o que infelizmente ainda tanto se sente.
Ter Síndrome de Down não significa ausência de saúde e, ainda que os problemas médicos mais frequentemente associados devam estar sempre presentes na mente de um profissonal de saúde, estes não devem limitar a abordagem diagnóstica e terapêutica. Sim, a cardiopatia congénita é muito frequente nesta Síndrome mas não, nem todas as pessoas que a têm têm cardiopatia. Podem ter qualquer outro problema cardíaco, como qualquer outra pessoa. E tantas vezes raciocínios parecidos com este, a todos os níveis, roubam bem-estar a estas pessoas.
Em Portugal existem várias associações que se dedicam a divulgar e desmistificar a Trissomia 21, apoiando as famílias dos portadores. A Pais21 é uma delas e contactou-nos recentemente para ajudarmos na divulgação da sua última campanha.
É importante discutir estes assuntos numa sociedade em que tantas "circunstâncias excepcionais" são alegadas como motivo para "terminar" a vida, tratando-a como se fosse descartável. Independentemente das convicções de cada um e da consciência que a posse do dom da vida nos pertence ou não, o investimento e a entrega anímica que é feita diariamente no bem-estar de um ser humano é imensamente desproporcional ao que é feito quando a fatalidade ou a simples diferença nos invade a existência. Ser diferente pode ser sinónimo de igualdade. Basta querermos e esforçarmo-nos por olhar a vida através dos olhos das outras pessoas.
Por isso, vale a pena assistir ao vídeo que a CoorDown lançou este ano, inspirado num mail que lhes foi enviado por uma futura mãe de um bebé com Síndrome de Down. A CoorDown convidou 15 portadores da Síndrome de toda a Europa a responder à pergunta angustiada desta mãe: "Que tipo de vida espera o meu filho?"
Gostava imenso de poder responder a esta mãe: espera-o um mundo cheio de meias coloridas!
Com o cheirinho da Primavera a chegar voltam as saudades de ter um quintal com jardim para poder plantar, semear e ver a força da vida a rebentar a terra. Acompanhar uma planta a nascer, crescer e dar flor ou fruto é tão confortante e reconciliador que apaga qualquer desencontro com a rotina diária e tem sempre direito a banda sonora exclusiva: é-me impossível não imaginar Louis Armstrong a cantar a sua "What a wonderful world" fazendo as plantas despontar da terra, como se estivessem sob a influência de um encantador de serpentes.
Exactamente por isso, todas as janelas com beiral da nossa casa têm vasos à espera de florirem, e toda a família espera ansiosamente o aparecimento de cada novo botão. Humm... toda, menos o João, já que infelizmente para ele as flores das plantas não têm letras nem dão para pôr a girar no DVD.
Todas as manhãs, quando levantamos os estores, procuramos novidades nos vasos das nossas janelas, que são o jardim da nossa casa. Este ano, a primeira flor da Primavera foi um narciso a que nós chamámos Susana, por ter aberto no dia dos anos de uma amiga nossa para quem, nos dias que correm, florir depois da desfolhada tem um significado especial. Hoje, ela já está assim:
"Papá"
Papá, neste dia especial
Gostaria de te oferecer
Algo fora do normal
E espero que gostes a valer.
Eu gosto muito de ti
Embora às vezes não consiga mostrar
Mas eu nunca te perdi
E nem sequer consigo imaginar.
Sei que agora te ando a irritar
Mas não quero que tu penses
Que te deixei de amar.
Beijinhos da Carolina
*A gravata azul do postal representa a gravata que os meus filhos me ofereceram, por antecipação, pelo Dia do Pai, e que eu usei no lançamento do meu último livro.
Há coisa de dez dias começámos a ver em família a série Band of Brothers (Irmãos de Armas, em português, mas eu gosto muito mais do título original), que tanto eu como a Teresa adoramos.
Trata-se, para quem não sabe, da história de um grupo de soldados americanos pertencentes à 101.ª divisão aerotransportada, que desempenhou um papel fundamental na Segunda Guerra Mundial após o Dia D e que ainda hoje continua a ser uma das unidades mais prestigiadas - e condecoradas - do exército americano. A série, produzida por Steven Spielberg e Tom Hanks para a HBO, foi premiadíssima e é considerada um marco na história da ficção televisiva.
Por isso, e dado o fascínio que a Segunda Guerra Mundial provoca em qualquer miúdo, decidimos que tinha chegado a hora de ver a série em família. Quer dizer: não é bem, bem em família. É mais 66,6% em família. De um modo geral, nós vemos - nos dias em que dá tempo, claro - um episódio entre o final do jantar e a ida para a cama, o que significa que a Rita já está a dormir. E quanto ao pacifista Gui, ele recusa-se sabiamente a ver a série:
- Tem tiros?
- Sim, tem tiros, Gui. Muitos tiros.
- Então não quero ver! Não gosto de tiros.
E lá se vai ele embora para o quarto de brincar, ver um filme de que goste mais. E que não tenha tiros, claro.
Mas os dois mais velhos adoram ver a série, ainda que a Carolina o faça acompanhada da sua - e cito - "almofada de choro". Ela chora invariavelmente de cada vez que morre alguém de quem ela gosta muito, e a almofada do choro é uma fonte de consolo.
Já o Tomás vive aquilo de forma completamente diferente. Ou seja, vive como eu vivia quando tinha a sua idade e papava todos os filmes de guerra e de cowboys que passavam pela televisão. Ele gosta é de ver os tiroteios, as armas, os uniformes, as patentes, para depois fazer as suas próprias guerras com os seus soldados miniatura. Ele gosta tanto, aliás, que leva metade do tempo a pensar nisso.
Este é o cartaz que eles ontem tinham nas mãos à minha chegada ao aeroporto.
Notaram alguma coisa de estranho ali do lado direito? Vamos então fazer um zoom, para ver melhor:
Ora cá está o pormenor mais divertido do cartaz: o Band of Brothers Mendonça Tavares, uma unidade de elite caseira, devidamente equipada com capacetes, pistolas e metralhadoras. Até a Ritinha está preparada para a invasão da Normandia, neste belo desenho de amor paterno-materno-fraterno-filial em tempos de guerra. Adorei. Se nos encontrarem na rua, já sabem: não se metam connosco, que isto é uma família de paraquedistas pronta para tudo.