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Regressado ao lar doce lar e às maravilhas do wi-fi a preços comportáveis, queria deixar aqui algumas meditações sobre a nossa experiência na Disneyland de Paris. Nós já tínhamos ido com a Carolina e com o Tomás há quatro anos, mas ir com dois miúdos de quatro e de seis não tem nada a ver com ir com quatro miúdos de seis, oito, 10 e 11. Aliás, a própria Disney me pareceu diferente (não sei se sou eu que estou mais velho), e para pior: o merchandising tomou conta de tudo, os próprios funcionários parecem estar mais desleixados naquela sua alegria encenada e, pelo menos na minha cabeça, havia mais animação nas filas de espera.
A bem dizer, para quem já se libertou do imaginário do Rato Mickey e já é mais adolescente do que criança, diria que uma viagem até Port Aventura é bem mais proveitosa do que uma ida à Disney. Claro que nós fomos no Verão a Barcelona e à Disney no Inverno (não é bem a mesma coisa), mas a verdade é que enquanto parque de diversões puro e duro, o Port Aventura é melhor.
Mas uma das coisas que desta vez me fez mais impressão foi a falta de civismo generalizada, que eu não atribuo propriamente à decadência da civilização ocidental mas ao galinhismo crescente de papás e mamãs - o que faz com que tudo pareça permitido desde que se arraste uma criança pela mão. Eu já tinha sentido isso da única vez que me apanharam num Festival Panda - há progenitores que se tormam verdadeiros selvagens quando se trata de circular com a sua prole no meio de uma multidão.
Nós, pais, estamos mal habituados. Como a maior parte das vezes andamos com os nossos filhos por lugares onde as crianças não estão em maioria, as pessoas tendem a ser simpáticas, seja no metro ou no meio da rua. Mas a Disney é o império das crianças, há putos por todo o lado, e atrás dos putos um par de pais ciosos das suas crias, da mesma forma que uma mamã urso capricha na protecção do seu bebé.
Foi por pouco que não assiti a batatada nas filas de espera, ou na luta por um melhor lugar para ver a parada, ou simplesmente para sair de um autocarro. Ter o cuidado de deixar passar toda a gente de uma família antes de entrar onde quer que seja? Ah, ah, ah, boa piada. Os miúdos até se podem divertir muito, mas escola de bons valores é que a Disney não é. A gentileza não circula por ali, e o espírito é de competição assolapada pelo melhor pedaço de felicidade.
A família chegou ao final do dia a Lisboa, e desde então:
1. Esqueci-me de uma prenda muito especial e valiosa que comprámos para a minha mãe no banco de um dos táxis (nós precisamos de dois) que nos trouxeram a casa. Como não pedi recibo (desculpa, Maria Luís), nunca mais a vou ver.
2. Tinha na caixa do correio três cartas das Finanças a informar-me que tenho de pagar um valor obsceno até ao início de Abril, ainda respeitante ao IRS de 2010 (tenho um velho conflito com os senhores da Autoridade Tributária, que acham que os meus textos não devem ser considerados ao abrigo da criação artística e literária, mesmo que posteriormente já tenham sido publicados em livro).
3. Numa mini-jogatana de futebol na sala, partiu-se (mais uma vez) uma peça de que a excelentíssima esposa gosta muito.
Se calhar é melhor voltar para Paris.