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Devo dizer que há muito tempo não me ria tanto: eis um conjunto de respostas originalíssimas de miúdos americanos, a propósito das mais variadas perguntas académicas (outras extraordinárias originalidades podem ser encontradas aqui). Devíamos fazer isto para Portugal - se algum professor quiser mandar exemplares deste calibre, eu agradeço e publico (sem identificar os prevaricadores, claro).
Como não sei se ainda há gente por aí que não percebe inglês, para esses eu ajudo na tradução. Ora cá vai:
1. "Onde é que foi assinada a Declaração da Independência Americana?" "No fundo", claro. É difícil negar a veracidade da resposta.
2. Como tenho um bocado de humor negro, acho que esta é a minha favorita: "Faz um desenho de como tu estará daqui a 100 anos." E vai daí, o Warren decidiu desenhar uma pedra tumular. O Warren, obviamente, é o maior.
3. "A Miranda não consegue ver nada quando espreita pelo seu microscópio. Sugere uma razão." Escreve o miúdo: "Ela é cega." Gosto do fairplay da professora: "Boa tentativa!"
4. "As ténias são hermafroditas. O que significa o termo 'hermafrodita'?" Resposta: Lady Gaga.
5. Esta também é das minhas preferidas (e funciona em português): "Para converter centímetros em metros tu tens de...?" Resposta: "Tirar o centí." Eu dava a nota máxima a isto.
6. "A água dos oceanos armazena muita energia térmica. Um engenheiro desenhou um navio capaz de extrair energia das águas a 10ºC e expelir energia para a atmosfera a 20ºC. Ele pensava que tinha tido uma boa ideia, mas o patrão despediu-o. Explica porquê." O aluno, embora certamente já com idade para ter juízo, deu a famosa explicação Leonardo Jardim-Olympiakos: "Porque ele dormiu com a mulher do patrão."
7. Esta poderia aplicar-se cá em casa, e com resposta semelhante, mas vindo da boca do próprio Tony (que se chama Carolina). "Causa: Tony pratica 20 minutos de piano todos os dias. Efeito... Ele é um grande nerd."
8. Pontos extras por ser uma resposta fofinha: "O diagrama em baixo ilustra melhor..." Hipótese e), acrescentada pelo aluno: "As girafas são animais sem coração."
9. Gosto particularmente desta, porque com grande frequência me apetece responder exactamente isto nos trabalhos de casa do Tomás: "A diferença entre 180 e 158 é... 22." O que está correcto. Mas depois lá vem a pergunta mais irritante de todas: "Explica como chegaste a essa resposta." Responde o miúdo: "Matemática." Bravo! É que é mesmo isso.
10. Ups, esta dispensa tradução.
11. Adoro: "Encontra x." Aluno: "Aqui está ele."
12. Jerónimo de Sousa ficaria muito orgulhoso desta resposta. O PCP tem de encontrar este miúdo americano (até porque, sendo americano, convém tirá-lo de lá): "Alguns átomos partilham electrões, tornando-se mais estáveis. Descreve uma situação em que as pessoas partilhem algo com benefícios para todos." Resposta: "Comunismo."
13. "Como é que nós chamamos à ciência que classifica os seres vivos?" Resposta: "Racismo."
14. Esta também é óptima, até porque os caracteres parecem mesmo chineses. "Assume que és um imigrante chinês em 1870 e escreve uma carta a descrever a tua experiência." Incrível. Espero que tenha tido nota máxima.
15. Uma das resposta mais originais de sempre, e que pena tenho de nunca me ter lembrado de a dar quando andava a estudar no Técnico. A pergunta pede para expandir a equação. E o aluno expandiu...
Todos nós sabemos o que a Operação Nariz Vermelho e os Doutores Palhaços fazem para alegrar os dias das crianças internadas nos hospitais pediátricos. Hoje é Dia do Nariz Vermelho e no infantário do Gui e da Ritinha os meninos apareceram todos vestidos da mesma cor, tendo à sua espera um belíssimo nariz de palhaço. O Gui, já se sabe, não precisa de nariz para libertar o palhaço que há em si. Mas, assim, fica mesmo a condizer:
Eh pá, sabem o que é que era mesmo fixe? Era eu estar casado com uma médica, e ela também ter um blogue tipo Pais de Quatro, estão a ver? Assim poderia discutir a questão das vacinas, dar a sua opinião informada, e tal. Seria tão proveitoso para os leitores do blogue... Enfim, sonhar não custa, não é?
Na sua habitual coluna do Expresso online, o Daniel Oliveira escreve hoje um excelente texto sobre esta nova moda de alguns pais acharem que não devem vacinar os filhos. A sua crónica chama-se "Não vacinar os filhos, uma moda que põe todos em perigo" e levanta questões muito interessantes sobre o tema da responsabilidade individual versus responsabilidade colectiva. Este é mais um assunto onde eu também sou muito pouco liberal. Aconselho todos a irem lá ler e depois, se quiserem, voltarem aqui para discutir o assunto.
Deixo apenas uma citação, para abrir o apetite:
Enquanto, por esse mundo miserável milhões de humanos lutam desesperadamente por não morrer de doenças banais, muitos europeus e norte-americanos surfam numa onda "New Age", feita de mitos e de teorias pseudocientíficas, onde a convicção vale o mesmo que a ciência. Mas não vale. E foi graças à ciência e à generalização das vacinas que ganhámos esta sensação de segurança que, curiosamente, tem ajudado a crescer o estranho movimento antivacinas.
O resto pode ser encontrado aqui.
LA-C, nos comentários a este post, aconselha-me a falar menos sobre o tema do "child free":
Se se aceita que as crianças são pessoas de corpo inteiro com os mesmos direitos das outras pessoas, então estas proibições estão exactamente ao mesmo nível de proibir ciganos, negros, ou portugueses, como uma minha professora de liceu viu num parque na Suíça há cerca de 20 anos.
E os argumentos são semelhantes aos que são dados para as criancinhas. Por exemplo, no caso dos portugueses era porque eles muitas vezes deixavam o local do piquenique bastante sujo.
Evidentemente, o que se deve proibir é o lixo, as sardinhadas, o barulho, as correrias, etc., e não as crianças, ciganos, portugueses, etc.
Tu escreveres tanto sobre o assunto estás a dar espaço para que isto seja sujeito a debate e penso que estás errado. O racismo e a xenofobia combatem-se, não se debatem como se o outro lado tivesse argumentos decentes para dar. Aqui é o mesmo.
O argumento é bom, mas que as pessoas se sentem motivadas a discutir este tema, sentem: o recorde de comentários para um único post foi ontem largamente batido.
A minha questão é que, ao contrário do racismo e da xenofobia, não me parece que as pessoas estejam ainda devidamente sensibilizadas para esta pedofobia em estado larvar, como se vê pela quantidade de gente que acha que haver muitos hotéis ao lado que deixam entrar crianças é suficiente para resolver a questão. Este é um dos casos em que a lei está mais à frente do que certas mentalidades, e é bom alertar para isso.
E só para mudar a agulha das criancinhas, até porque há leitores que já não aguentam mais (admito que sou um bocado obsessivo quando começo a falar de certos assuntos), passemos para os avós.
Eis um belo e longo artigo do Wall Street Journal sobre a cada vez mais longa espera dos mais velhos para serem avós, incluindo duas perspectivas que merecem ser pensadas e debatidas:
1. A existência de um relógio biológico para se ser avô (só se costuma falar disso para mamãs).
2. A importância dos avós no desenvolvimento das crianças.
Eu sou grande defensor deste ponto 2, razão pela qual faço questão de pontapear imediatamente as criancinhas para fora de Lisboa e de nossa casa mal chegam as férias da Páscoa (estão quase aí, mal posso esperar), do Verão ou do Natal.
A excelentíssima esposa costuma acusar-me de só me estar a querer ver livre dos miúdos, quando estou manifestamente preocupado com o seu desenvolvimento psicossocial.
O artigo do WSJ pode ser lido aqui.
Eu prometo não vos aborrecer muito mais tempo com o tema da pedofobia hoteleira, até porque já disse praticamente tudo o que sabia aqui e aqui. Mas não queria deixar de responder ao leitor Vasco B (01.04.2014 às 16:24), que no meio de muita ironia utiliza o argumento do "reservado o direito de admissão". Escreve o Vasco:
Isso da Constituição e da "lei" tem muito que se lhe diga. Se me barrarem a entrada numa "disco" à noite por eu ser demasiado feio... posso invocar a Constituição? Posso chamar a polícia por estar a ser discriminado?
A expressão "reservado o direito de admissão" escrita em bares, cafés e restaurantes, de modo a barrar indesejados crónicos (sejam alcoólicos, arruaceiros, etc), é inconstitucional??
Vocês sabem que existem em todo o mundo Clubes Masculinos e clubes por convite? A Maçonaria será inconstitucional por não me deixar entrar? E a minha prima que entrou de biquini numa igreja a comer um gelado para se proteger do sol e foi expulsa quase a pontapé... terá sido um pontapé inconstitucional?
É verdade que a Constituição tem muito que se lhe diga, mas não no sentido que o Vasco lhe atribui. Se o barrarem à porta de uma discoteca com o argumento de que é feio, pode apresentar queixa, sim. Ninguém pode ser impedido de entrar num estabelecimento público com essa justificação.
E, já agora, tome lá mais esta grande novidade: a placa "reservado o direito de admissão" é como a proibição de entrada de crianças nos hotéis. É ilegal. Sim, ilegal. Deixe-me citar-lhe o que está escrito no site da HISA:
A expressão "reservado o direito de admissão" não tem suporte legal. É livre o acesso aos estabelecimentos de restauração e de bebidas. No entanto, pode ser recusado o acesso ou a permanência a quem perturbar o seu funcionamento normal, designadamente, por não manifestar a intenção de utilizar os serviços; penetrar em áreas de acesso vedado; recusar-se a cumprir as normas de funcionamento privativas do estabelecimento (desde que essas normas sejam devidamente publicitadas); ou que se façam acompanhar por animais (desde que essa proibição seja devidamente publicitada). Também pode ser vedado o acesso quando o estabelecimento tem uma reserva temporária de parte ou da totalidade do espaço (casamentos, baptizados...).
Neste texto extraído do DN há mais sobre esse assunto.
Por fim, os últimos exemplos do Vasco. Em relação à maçonaria ou aos clubes ingleses, a resposta é fácil: não são espaços públicos. Eu em minha casa também só deixo entrar quem quero. Em relação à roupa, é verdade que muitos locais têm códigos de vestuário. Mas roupa tira-se e põe-se - eu não posso entrar de chinelos, mas posso se for a casa calçar sapatos.
Já mudar de filhos - embora por vezes apeteça - é bastante mais complicado.
Dado esta questão da proibição das crianças em certos locais públicos, como hotéis ou restaurantes, me interessar bastante, fui pesquisar um bocadinho. Como se pode verificar através de várias notícias que abordam o tema (aqui, aqui e aqui), os especialistas são unânimes e sublinham aquilo que me parece absolutamente óbvio: é ilegal um hotel proibir a entrada a pessoas só porque elas têm filhos. Não pode fazê-lo. E as pessoas devem apresentar queixa às autoridades competentes se isso acontecer.
Embora um hotel seja propriedade privada, e possa ter um regulamento interno que defina o seu funcionamento (e onde possa, hipoteticamente, constar a proibição de entrada a menores de 12, de 16 ou de 18 anos), ele presta um serviço público e o seu regulamento interno não se pode sobrepor à lei geral, e muito menos a princípios constitucionais, como a protecção da família (artigo 67º) ou o princípio da igualdade (artigo13º), que diz: "Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei."
Impedir crianças de entrar num hotel é uma dupla discriminação: das crianças e dos próprios pais. Afirma Jorge Morgado, da DECO: "É uma questão de ética e de responsabilidade social", um hotel "não pode apresentar essa proibição como um atributo" e os clientes "não podem exigir sossego se isso implicar a proibição da entrada de crianças nos hotéis onde passam férias". Diz o advogado e especialista em turismo Carlos Torres: “um hotel situado em Portugal exclusivamente para adultos viola o n.º1 do art.º48 do Regime Jurídico dos Empreendimentos Turísticos, que de forma imperativa estabelece a liberdade de acesso”.
Eu confesso-me espantado com a quantidade de pessoas que nos comentários deste blogue ou no Facebook se mostraram tolerantes em relação a esta prática. A própria Ana Garcia Martins perguntou:
Eu gosto muito do meu rico filho, e gosto muito de o levar comigo, mas se há um fim-de-semana em que me apetece ir descansar sem ele porque é que me vou enfiar num hotel onde tenho de aturar os filhos dos outros?
A resposta é simples: porque o direito dos outros a terem lá os filhos se sobrepõe ao nosso direito ao descanso. Não ser discriminado é um direito constitucionalmente protegido, enquanto poder repousar que nem um nababo no silêncio dos deuses, embora super-fixe, não entrou para a Constituição.
Nesse sentido, eu estou-me bem nas tintas que haja, como diz a Ana, "300 mil milhões de hotéis à escolha". Felizmente, não há segmentação de mercado para direitos fundamentais. Nem que seja só um a dizer não às crianças. Não pode.
Claro que se as criancinhas se portarem mal e os pais não se comportarem decentemente, o hotel tem todo o direito de lhes chamar a atenção e, em última análise, correr com eles. Mas obviamente não pode ser permitido, logo à partida, discriminá-los em função da sua idade.
E não me venham com o argumento de que as crianças não entram em bares, discotecas ou casas de strip. As crianças não entram nesses locais para serem protegidas de práticas reservadas a adultos. Agora esta ideia de serem os adultos a ter necessidade de serem protegidos das crianças não lembra ao diabo, desculpem lá. Os putos podem ser insuportáveis? Podem, claro. Mas são gente. São pessoas com direitos. E convém respeitá-los.
Para começar o dia em grande. Divirtam-se (e abram a boca de espanto):
Para quem ficou com curiosidade, o jovem é um músico de Nova Iorque chamado Christopher Bill.