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Desde os tempos das fotos de casamentos russos que eu não fazia isto, mas a net continua cheia de extraordinárias imagens de casalinhos embevecidos. Desta vez, um especial dedicado a fotografias de gravidez, para vocês desatarem a aumentar a natalidade em Portugal que nem coelhinhos:
1. The Circle of Life, ou como dar cabo para sempre das nossas recordações de O Rei Leão. Coitado do Simba.
2. Como levar a paixão pelo gótico um bocadinho longe demais. Coitado do bebé-esqueleto.
3. O afundanço do bom-gosto.
4. Hesito sobre o que é melhor, se os músculos e os peitorais do senhor, se a lingerie acetinada da senhora.
5. Preparação para o parto.
6. Admirável palhaçada.
7. Eu também tenho um pança proeminente, mas bolas, não me orgulho dela.
8. Maravilhoso Photoshop, que resulta numa coisa que parece simultaneamente barriga, mama e rabo. Notável.
9. Acho que o senhor percebeu mal as palavras do obstetra quando ele aconselhou a "tomar alguns cuidados durante a gravidez". Ou então foi o fotógrafo que lhe engravidou a mulher.
10. Uma rotunda família, onde infelizmente a criancinha é a única que parece feliz.
Eu sou daqueles que se assanha um bocadinho com o uso demasiado entusiasmado da palavra "igualdade" sempre que se trata de definir as relações entre homens e mulheres. Não porque ache que homens e mulheres devam ter direitos distintos, mas porque a igualdade é, demasiadas vezes, um rolo compressor que tende a esbater todas as diferenças, a esquecer as especificidades genéticas dos sexos masculino e feminino e, em última análise, a diminuir a diversidade do mundo.
Nesse sentido, a febre igualitária pode, a meu ver, ser empobrecedora - e por isso sou sensível às questões biológicas e respeitador de certas predisposições genéticas. Não sou daqueles que acha que os meninos gostam mais de soldados e as meninas mais de bonecas simplesmente porque há uma sociedade opressora que define os papéis sociais de cada um.
Dito isto, as abordagens biológicas encerram os seus perigos - nomeadamente, os de legitimação de certos preconceitos que me parecem algo desfasados do tempo. Peguemos, por exemplo, em dois comentários do José Moreira. Um deles cita o livro O Mito da Monogamia:
"Os espermatozóides são baratos e facilmente repostos; os ovos são caros e difíceis de obter. Não é com surpresa, por isso, que descobrimos que os machos são geralmente muito liberais com os seus espermatozóides, ao passo que as fêmeas tendem a ser cuidadosas e exigentes quanto ao modo com dispõem dos seus ovos."
Continua José Moreira:
Uma análise que se aplica aos passarinhos, mas poderá também aplicar-se, com as devidas adaptações, a humanos. (...) O amor é lindo. A biologia é que não.
Por aqui, eu tenderia a concordar com o José Moreira (e com a biologia). Mas depois ele volta ao tema num outro comentário:
Uma pequena provocação estatística: as mulheres que mais vezes recusam sexo com os maridos, têm maior probabilidade de ser traídas. O sexo no casamento não deveria ser encarado como um dever, como é óbvio. Mas também é óbvio que homens e mulheres, biologicamente, têm diferenças de apetites no que diz respeito ao truca-truca: aqueles sempre com fomeca, estas nem por isso. (...)
Como pequeno incentivo para as senhoras: pensem nisso como uma contrapartida do dever de fidelidade. Bem sei que este é recíproco, mas o esforço dos gajos para o cumprir é muito maior. Enfim, é a biologia. ;)
Eh pá, não, José, aqui é que eu acho que nós nos separamos e a biologia vai longe demais - porque o que o José está a fazer (ainda que com uma dose assumida de provocação) é encontrar uma justificação biológica para a infidelidade masculina. Tipo: por favor, tenham pena de nós, potentes gajos, que temos mais propensão para isso do que vocês, castas mulheres.
No way, José. Se calhar é falta de líbido da minha parte, mas nunca achei, em nenhuma altura da minha vida, que fosse mais difícil manter-me fiel à Teresa do que a Teresa a mim. A propensão masculina para o encornanço, aos meus olhos, é simples tanga.
Aliás, se nos mantivermos no estrito domínio da heterossexualidade, eu tenho um argumento matemático para contrapor ao argumento biológico: supondo que as traições não se fazem a sós, um homem infiel precisa de uma mulher para cometer a infidelidade.
Eu sou muito pró-biologia, mas também sou muito pró-cultura. Sou muito pró-instinto, mas também sou muito pró-cabeça. Não estamos condenados a que as partes baixas mandem nas nossas vidas.
Ainda a propósito do tema do sexo no sagrado matrimónio, e a queixa daquele senhor americano sobre o défice de pinanço na sua vida, a Teresa Pinho deixou nos comentários um link para este texto, cuja tese não poderia ser mais clara, sexualmente falando: "as mulheres não te devem nada."
A coisa vem acompanhada de gráfico colorido...
...e de fotografia esclarecedora:
Mas eu, sem querer dar uma de machista, permito-me discordar. Porque, na verdade, tanto a mulher como o homem casados devem várias coisas um ao outro. Entre as quais, sexo.
Sim, sexo. Um casal tem a obrigação legal de pinar. O sexo está na lei, na medida em que a jurisprudência o considera parte integrante do dever de coabitação, estabelecido no artigo 1673º do Código Civil. Aliás, juridicamente o sexo tem a magnífica - e inesquecível - designação de "débito conjugal".
Escreve a jurista brasileira Clarissa Bottega:
Apresenta-se o débito conjugal na doutrina e na jurisprudência como o direito-dever dos cônjuges de cederem reciprocamente seus corpos no intuito de obterem satisfação sexual.
Da mesma forma que um casamento católico pode ser considerado inválido e anulado se não for "consumado" (ou seja, se não houver truca-truca), também no casamento civil a queca está subentendida na lei: se não houver débito conjugal, não há verdadeiro matrimónio.
Como em tudo, há complicação e leituras divergentes (veja-se o mui interessante artigo de Clarissa Bottega acima referido), mas no caso de a sua vida sexual andar pelas ruas da amargura, pode sempre tentar o argumento jurídico: "ou damos uma queca ou processo-te". Pode ser que a líbido desperte com a visão de uma barra de tribunal.
Enfim, é só uma ideia.
O jornal The Independent publica hoje um estudo (soube dele via Observador, que tem vindo a dar - e bem - muita atenção a estas coisas da família e das relações) que demonstra que, a partir dos anos 90, os casamentos têm tendência para serem mais sólidos se homem e mulher tiverem o mesmo nível de educação.
Não era assim nos anos 50, em que o homem casava abaixo das suas habilitações - afinal, era o tempo em que eles preferiam as loiras. As loiras baixavam a bolinha, conformavam-se ao seu papel de fadas do lar, e os casamentos duravam e duravam. A partir dos anos 60 tudo isto implodiu, e pelos vistos foram precisas três décadas para os casais conseguirem assimilar um posicionamento igualitário dentro de casa.
Só que igualdade com igualdade se paga - e aqueles contos de fada do príncipe que descobria uma qualquer Cinderela infeliz e poeirenta tornaram-se mais complicados. Infelizmente, eles já não vivem felizes para sempre: o príncipe do século XXI não tem pachorra para uma Cinderela pouco letrada.
O título do artigo do The Independent é: "Gentlemen prefer brains: similarly educated couples last". Mas a questão não é só dos "brains" - é que a educação e o "upbringing" têm um efeito poderosíssimo em relações não-hierarquizadas, como é suposto serem as actuais. Se ela é professora universitária e ele tem a quarta classe, a vida nunca será fácil. É pouco romântico, mas é mesmo assim.
- Papá.
- Diz, Gui.
- O contrário de chapéu é sapatos?
- Não, Gui. A palavra "chapéu" não tem contrário, da mesma forma que vaca não tem contrário. O que tem contrário é alto e baixo, gordo e magro, vivo e morto.
- Papá, eu acho que já sei porque é que as pessoas morrem.
- Porque é que é, Gui?
- É porque o mundo está sempre a girar. Como ele gira as pessoas ficam um pouco tontas, e depois às vezes morrem.
O Carlos Duarte dá uma útil achega ao debate:
O homem considera o sexo como parte do que necessita para estar feliz e bem disposto (i.e. precisa de descontrair? sexo; levantar a moral? sexo), enquanto as mulheres tendem a ver o sexo como o culminar do bem estar (e.x. o dia correu bem, o jantar foi excelente e a companhia melhor?, então sexo).
Resultado, há ou pode haver incompatibilidades. Exemplo: enquanto o homem pode querer sexo para ficar bem disposto, a mulher quer o sexo quando o homem (e ela) está bem disposto... E o homem quando estiver bem disposto até lhe pode apetecer é ir fazer outra coisa.
LA-C não quer ser PPP, mas se juntarmos o penetrante (até porque tem a ver com o tema) ao pertinente, ao polémico e ao perspicaz, isso faz dele um P4, que é uma espécie de comentador honorário do PD4. Serve o rebuscadíssimo intróito apenas para me aproveitar de mais um citilante comenário seu, sobre a questão de quem toma a iniciativa no truca-truca.
Como eu não quero terraplanar as diferenças entre homens e mulheres, sou bastante complacente em relação às idiossincrasias de cada um dos géneros. Mas o P4 LA-C tem aqui um ponto forte no combate àquela igualdade de género que só é igualdade quando dá jeito às mulheres. Ora leiam:
Numa entrada anterior, chamaste-me "alegadamente sério". Agora chamas-me PPP! É só insultos!
Quanto ao tema, é evidente que o homem andava a fazer investidas só para poder acrescentar umas linhas negativas ao Excel. Mas, mesmo assim, ler os comentários ao teu post é maravilhoso. Tu que passas a vida a queixar-te de ser discriminado, porque não dão o devido falar às mudança de papéis que os homens têm sofrido na última década, tens aqui umas leitoras/comentadoras porreiras. Então para as levarmos, temos de ser subtis, reparar nos pequenos pormenores, ser gentis, aquecê-las, etc, etc. Sobre o inverso quase nem uma palavra. É como se o homem estivesse sempre à sua disposição. A sua função é estar sempre a bater à porta. A mulher abre a porta quando quer.
Meninas, ao menos não se queixem das desigualdades homem/mulher. Essa atitude perante a vida e os homens é um convite à discriminação de género.
O meu amigo Hugo Neves - e a leitora Maria João Resende, quase ao mesmo tempo - diz que viu este anúncio aos cereais Cheerios e se lembrou logo de mim. Tomo-o com um elogio. E, tal como nestes dois casos, ou ainda mais do que nesses dois casos, este é um anúncio absolutamente extraordinário, onde o pai é tratado como o maior.
Não percam, porque vale mesmo a pena. "This is how to dad", indeed.
Não sei se estão a acompanhar os óptimos comentários a este post, mas estão a surgir ali testemunhas muito credíveis (ou seja, mulheres) que dizem que o sexo é o melhor remédio para a dor de cabeça.
Este blogue está prestes a revolucionar a vida sexual dos portugueses.
Queria alertar para dois óptimos comentários a propósito deste post e do famoso mapa Excel com as desculpas que ela arranjou durante mês e meio para limitar o pinanço:
O primeiro comentário é do sempre pertinente, polémico e perspicaz (PPP) LA-C:
A acreditar que a folha de Excel não omite nada de relevante, somos levados a concluir que a mulher não tomou a iniciativa uma única vez durante um mês e meio. Já o marido tomou a iniciativa 20 vezes. Não houve comentários a esse respeito?
É uma óptima questão - porque a verdade é que ainda vivemos num mundo onde é suposto ser ele a tomar a iniciativa. Por outro lado, há que admitir que o gajo do Excel é um verdadeiro coelhinho, que não deve ter mais nada com que se entreter: é que ele tentava quase todas as noites.
É certo que só foram três "yes" em mês e meio, o que é muito "no" (fiz as contas: dá 89,3% de negas, o que eu diria ser um número complicado de sustentar numa relação feliz), mas, por outro lado, mesmo depois dos "yes", o gajo tentava logo novamente nas noites a seguir. Das duas uma, ou o sexo era muito fraco ou ele conheceu a mulher há 15 dias.
Já o segundo comentário que eu queria trazer para aqui é uma confissão corajosa - louve-se a frontalidade - da Maria:
Isto é a realidade em mais de metade dos casais com mais de meia dúzia de anos de relação. Lá em casa é igual. Ele insiste e eu tenho sempre desculpas. Muitas delas parecidas com estas (mas tomo banho depois de ir ao ginásio :) E quem disser que é mentira, ou mente ou é uma raridade.
Será mesmo assim? A vida sexual do homem e da mulher casados há muitos anos está condenada a nove "hoje dói-me a cabeça" por cada 10 tentativas de queca? Ora aqui está uma questão que merecia ser discutida neste blogue.
Vá lá, não sejam tímidos, que por aqui ninguém vos conhece.