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O problema com o nosso Gui, agora que ele entrou para a escola primária, é que a sua criatividade, e as maluquices que lhe passam pela cabeça, vão com frequência longe demais.
Ontem de manhã a Teresa sentou-se para o ajudar a fazer os trabalhos de casa, pediu para trazer o seu estojo, e quando o abriu, para além do habitual conjunto de lápis todos roídos, encontrou isto:
Isto, para o caso de alguém não perceber, até porque mais parecem cogumelos laminados, são os restos da falecida borracha do Gui, que ele decidiu cortar às postas, vá lá saber-se porquê.
Este início de primeiro ano tem sido para nós uma preocupação constante. O Gui, como seria de esperar, não tem nada a ver com os outros irmãos, e é tão difícil conseguir que a sua cabeça aterre como a sonda Philae acertar num cometa que viaja a 510 milhões de quilómetros da Terra. Em termos estritamente pedagógicos, não é uma coisa consoladora.
A Teresa acha que ele é o astronauta Spiff: mesmo quando olha para nós, não é a nós que ele está a ver.
Acho que a Teresa tem razão.
Caras mães
Quando vocês acordarem com frio de manhã, seja porque ainda estão a usar um pijama leve, seja porque se esqueceram de fechar a janela da casa de banho, vistam um casaco, uma blusa mais forte ou uma camisola interior. Mas, por amor de Deus, não coloquem quatro camadas de roupa em cima dos vossos filhos, como se estivéssemos a enfrentar uma vaga de frio polar. Lembrem-se da famosa máxima de Ambrose Pierce: "Casaco é aquilo que o filho usa quando a mãe sente frio." E tentem ultrapassar isso de uma vez por todas, se faz favor. Agradeço por antecipação.
Com os melhores cumprimentos,
Um pai que tem de ajudar a vestir vários filhos todos os dias pela manhã
A Carolina e a Rita dormem no mesmo o quarto, e de vez em quando, ao final do dia, a Carolina fecha-se com a Rita, senta-a na cama dela e põe-se-lhe a mostrar coisas no tablet, que a Rita analisa com o maior interesse.
Ontem entrei no quarto quando elas estavam a praticar esta intensa actividade, e a Rita olhou para mim com ar zangado. E de repente:
Fóia! Fóia! Só mininas!
E eu: oi?
Fóia! Só mininas!
A Carolina, que é quase uma senhora, já exige que o pai bata à porta para entrar no seu quarto - sendo que para a mamãzinha é infinitamente mais tolerante. E agora até a catraia de dois anos acha que a minha condição de macho é impeditiva de frequentar os seus aposentos.
Já se cavam trincheiras nesta casa. Está oficialmente aberta a guerra dos sexos.
Comentário da Maria C., sempre pertinente:
O JMT defende a liberdade de os filhos tomarem as suas próprias decisões, mas depois julga-os moralmente. E a minha questão é esta: sem saber a história daquela família em concreto, será que podemos julgar?
Uma coisa que a mim me parece desajustada sempre que se fala deste assunto é comparar os idosos às crianças. Posso estar errada, mas para mim são assuntos completamente diferentes. É que as crianças nunca foram outra coisa senão crianças, ao passo que os idosos têm um passado. Ora os afetos que daí resultam podem ser muito distintos. Ou seja, o que eu quero defender, basicamente, é que há nesta questão dois aspetos independentes.
Por um lado, os idosos devem, sim, sempre, ser tratados com toda a dignidade e ter acesso aos cuidados de saúde adequados - daí eu também defender que o Estado deve garantir que todos têm direito a um lar decente. Mas quanto aos afetos dos filhos e da família, não podemos esquecer que eles assentam numa história comum, às vezes feliz e cheia de boas memórias, outras vezes nem por isso.
As pessoas que hoje são idosas foram, há uns anos, pessoas em idade ativa. Nos casos de que falamos, elas foram pais e, possivelmente, avós. E eu acho que não podemos julgar moralmente a decisão dos filhos e dos netos quanto a ter ou não esses idosos em sua casa sem saber que tipo de relações é que eles construíram ao longo dos anos.
Para usar um exemplo extremo: um pai que batia no filho a torto e a direito, que nunca quis saber dos êxitos e das suas dificuldades, etc., depois, em idoso, fica dependente, continuando a ser um chato, egoísta, com mau feitio, que dá cabo do juízo a todos à sua volta. O filho decide pôr o pai num lar, porque não está para ter a sua própria vida enfernizada, dia após dia, por mais dez ou vinte anos. Quem somos nós, JMT, para dizer que o filho, ao tomar esta decisão, está apenas a exercer a sua "triste liberdade de ser um filho da mãe"?
Não somos ninguém, Maria C., como é óbvio. E eu espero que quem lê o PD4 há algum tempo perceba que eu me imponho alguma radicalidade de princípios sem os querer transformar em dogmas absolutos, completamente cegos às situações concretas. Aquilo que eu enunciei no post anterior, naturalmente, é uma regra geral para situações gerais, não uma regra absoluta para todas as situações.
Uma regra, em última análise, que se aplica à minha família, onde os pais sempre se esforçaram pelos seus filhos. Felizmente, diria que essa é a situação mais comum. Na caixa de comentários há exemplos de outros casos extremos em que esta regra geral não faz sentido ser aplicada. Tenho perfeita consciência de que a vida salta sempre por cima das cercas que nós montamos. Mas também sei que é muito mais comum o egoísmo e autocentramento dos filhos do que as excepções que o justificam.
Colocar um pai ou uma mãe num lar transformou-se numa situação banal e normalíssima. Não deveria ser uma situação banal nem normalíssima.
A mesma regra que eu acho que se deveria aplicar aos filhos - a partir do momento que são maiores de idade, deixamos de ter a responsabilidade legal de os sustentar (excepto em casos de deficiência, como é óbvio) -, também se deveria aplicar aos idosos.
Eu, por exemplo, sou filosoficamente anti-lares de terceira idade. Sei que para muita gente não há outra alternativa, que tem mesmo de ser, e o que tem de ser tem muita força. Mas acho que muitas vezes os filhos não se esforçam realmente para abrir os cordões à bolsa, organizarem-se, contratarem empregados para cuidar dos pais, ou, em última análise, levá-los para suas casas. Repito: muitos não podem. Mas também repito: muitos não querem. Por regra, eu acho que os velhos deviam morrer nas suas casas, junto às suas famílias, e não em lares. Espero sinceramente ter forças e disponibilidade para estar à altura deste desejo quando um dia me calhar a mim.
No entanto, e como bem salienta a Teresa A., não me parece que faça sentido um tribunal decidir de que forma devo tratar os meus pais. Um tribunal deve, sim, impedir que os filhos assaltem o património dos pais idosos, como tantas vezes acontece. E o direito sucessório deveria dar mais liberdade a cada um para dispor dos seus bens como lhe aprouver (já conversámos sobre isso no PD4). Mas daí a impor a obrigatoriedade legal de um filho pagar o lar de um pai vai uma grande distância. Não porque eu não ache que moralmente não deva ser assim - mas porque acho que juridicamente não deve ser assim.
O problema já se tem colocado em Portugal, e numa rápida pesquisa encontrei esta notícia de 2012 do jornal i, em que pelos vistos até me descubro a concordar com Marinho e Pinto:
O governo quer abrir o debate para encontrar formas de penalizar os familiares que abandonam idosos em hospitais e lares, mas a ideia já recebeu críticas. O sociólogo Manuel Villaverde Cabral avisa que o Estado “não pode legislar os afectos” e o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto, acusa o governo de tentar “desresponsabilizar-se” das suas obrigações, numa lógica “meramente economicista”.
É um facto. Se o nosso Estado Social não servir para cuidar das crianças e dos idosos, então serve para muito pouco, e anda a gastar os seus recursos nos locais errados.
Eu percebo perfeitamente que muita gente discorde de mim, mas eu sou, de facto, um liberal, tanto em termos pessoais como políticos: o Estado deve abster-se ao máximo de intervir nas liberdades de cada um. Incluindo nessa triste liberdade de se ser um filho da mãe.
Em relação ao meu post anterior sobre várias decisões de tribunais espanhóis que obrigaram pais a pagar a educação dos filhos mesmo sendo maiores de idade (alguns com 30 anos), há dois comentários de leitores que eu gostava de destacar.
Um deles, da simples e nice, já levou pancada com fartura na caixa de comentários, e não é minha atenção fazer o mesmo - só que aquilo que ele diz é importante para aquilo que eu quero dizer:
É a primeira vez, desde que leio este blogue, que não concordo nada com a sua opinião, mas respeito, claro. A diferença entre pais e filhos é que os filhos não escolheram nascer, mas os pais escolheram ter os filhos. Por isso, que remédio têm os pais se não levar com os filhos até ao resto da vida deles. Se não querem isso, simplesmente não façam filhos. Problema resolvido. Se os filhos na idade adulta se tornaram umas bestas, a culpa é dos pais que não souberam dar-lhes a educação que eles mereciam.
O outro comentário é da Teresa A., que alerta para um problema semelhante de dependência, mas no outro extremo da vida:
[Na Alemanha], os filhos são obrigados a pagar os lares de terceira idade ou afins se os pais não tiverem condições para isso. Soa bem, mas, se imaginarem um filho que não tem contacto com o pai/mãe há anos, e que nunca teve ajuda deste(s) - do género de ter de financiar os estudos ele próprio, ter sido deserdado ou posto fora de casa, nunca ter tido ajuda financeira ou outra (por exemplo, tomando conta dos netos) durante a vida, ter construído alguma coisa por si próprio e/ou com ajuda de outras pessoas -, e que é obrigado a usar o seu dinheiro para sustentar a(s) pessoa(s) que nunca o sustentaram a ele, será que cham justo?
O problema do comentário da primeira leitora, para além da desresponsabilização de pessoas maiores de idade, já criticada por outros leitores, é que me parece confundir leis com afectos. E os afectos não se legislam. Nem todos os deveres morais devem traduzir-se em obrigações jurídicas, porque quando assim é estaríamos a permitir uma intromissão absolutamente excessiva na nossa esfera de liberdade individual. Por exemplo, enquanto homem comprometido numa relação amorosa, eu tenho o dever moral de ser fiel à minha companheira - mas os tribunais não me multam se eu for pinar com a vizinha.
Da mesma forma, é óbvio que eu sinto o dever moral (e afectivo) de cuidar dos meus filhos, e às tantas lá terei mesmo (espero que não, espero que não) de lhes estar a dar mesadas até aos 35 anos. Hoje em dia, qualquer pai normal quer que um filho tire um curso, portanto, pelo menos até aos 23 ou 24 anos estará condenado a patrociná-lo. Aliás, os meus pais fizeram isso comigo - eu só comecei a trabalhar depois de terminar o curso, e quando o terminei já tinha 25 anos, porque antes de mudar para Ciências da Comunicação ainda andei dois anos e meio perdido em Engenharia Química.
Mas uma coisa é os pais fazerem isso porque querem - outra, muito diferente, é fazerem isso porque são obrigados. No meu entender, se alguém é maior de idade, é maior de idade para tudo - inclusivamente para se fazer à vida. Ou seja, a um pai não deve ser negado o direito de dizer "já não sustento mais este gajo", mesmo que tenha sido ele a pô-lo no mundo. Essa decisão pode fazer dele um pulha, um pai nojento e um fdp - mas não um alvo de acção judicial, pela simples razão que um tribunal não serve para nos obrigar a ser fixes.
E quanto aos pais idosos e aos lares de terceira idade que a Teresa A. refere? A regra é a mesma. Mas mais sobre isso já a seguir.
Por causa deste texto da Helena Matos, fui ter a esta notícia do Observador, baseada neste trabalho do El País (bem-vindos ao maravilhoso mundo da world wide web).
E subitamente dei por mim embasbacado face à notícia em causa, que pode por antecipação dar cabo de toda a minha velhice, se tiver tido o azar de me saírem uns filhos calões na rifa. Ora leiam bem:
Há tribunais espanhóis que estão a obrigar os pais a pagar pensões de alimentos a filhos com 30 anos sob o argumento de que estes, com a crise económica, não conseguem encontrar trabalho e emanciparem-se.
Note-se que estamos a falar de...
...adultos de 28/30 anos a quem os pais são obrigados a pagar pensões de alimentos – porque a crise económica os impede de serem independentes.
E isto é porque os espanhóis têm leis malucas?
Não, não é:
Nem a lei espanhola, nem a portuguesa, estabelecem um limite de idade para a pensão de alimentos. (...) A advogada Teresa Apolónia lembra que, depois dos 18 anos, cabe ao próprio filho pedir ao tribunal que o pai lhe pague a prestação de alimentos. Mas a lei exige que haja aproveitamento escolar, caso contrário o pai ou a mãe podem alegar que ele não está a cumprir a obrigação.
Ou seja, se o gajo quiser fazer licenciatura, mestrado, pós-graduação, doutoramento e pós-doc, tudo de seguida e com aproveitamento, eu posso ser obrigado por um tribunal, já septuagenário e caquético, a sustentar um quarentão. What the fuck?
E não, não é ficção científica espanhola. Também já há filmes idênticos em português: o artigo do Observador cita um acórdão da Relação de Lisboa que obrigou um pai divorciado a pagar a pensão de alimentos a uma filha de 22 anos que não lhe falava há anos. Diz o acórdão:
Cremos que melhor representa os sentimentos dominantes da nossa sociedade a ideia, que é a nossa, de que o amor incondicional dos pais pelos filhos exige que os primeiros lhes proporcionem os meios necessários para singrarem na vida, mesmo quando os filhos não têm o comportamento que deles é esperado.
E agora, a parte snif, snif:
Resta, igualmente, esperar que a filha do Recorrente, apesar de eventualmente ninguém a ter ensinado a amar e respeitar o pai, como este gostaria, o venha a aprender, por si própria, com a maturidade da idade adulta. Para tanto, ajudará observar que o pai, embora sem retorno afetivo, sempre a apoiou, pelo menos em termos materiais.
Amor incondicional mas é o caraças. Ou melhor: amor incondicional, sim, com certeza, mas por decisão dos progenitores - não "amor incondicional" imposto por um juiz a um pai quando a filha é maior de idade e não lhe liga patavina. Afinal, isto é um acórdão ou um excerto de um livro de Nicholas Sparks?
Nesta cada vez mais assolapada civilização cutchi-cutchi, acho que anda tudo a ficar doido. Então com 18 anos um filho é livre para sair de casa mas um pai não é livre de o pôr fora? Que sentido é que isto faz?
Eu coloquei o post que escrevi na sexta-feira sobre a Keira Knightley no Facebook, mas como deixei a foto ir agregada, os zelosos funcionários do senhor Zuckerberg decidiram congelar a minha conta e apagar o respectivo post. Tinha maminhas ao léu, e o Facebook não aprecia maminhas ao léu. Mesmo que sejam as maminhas da Keira Knightley.
Suponho que assim já possa ser:
O problema de apagar fotos de maminhas mais depressa do que o Lucky Luke saca do revólver é que marcha logo tudo - post e comentários incluídos. E, assim, temendo que eu fosse um perigoso pornógrafo, os senhores do Facebook também apagaram um comentário maravilhoso de um leitor sobre a Keira Knightley, que eu queria trazer para aqui.
O comentário dizia qualquer coisa como isto (reproduzo de cor, infelizmente sem a elegância original):
O que eu mais gosto na Keira Knightley é um tique que ela tem, que faz com que o seu lábio inferior desça e a sua boca permaneça sempre entreaberta.
Isto, sim, prende-se com o conteúdo do meu post anterior. Um gajo que repara nisto é um verdadeiro gajo, armado daquela atenção minuciosa que dá origem à mais apurada badalhoquice (no melhor sentido da palavra).
Embora vocês, senhoras, nos tenham em bastante má conta, e achem que o macho ibérico só pensa no truca-truca, a verdade é que nós, homens, somos seres sensíveis e cheios de subtilezas. Por isso, apreciamos - e celebramos - toda a maravilhosa variedade presente na espécie feminina.
Reparem: isto não é dizer que é tudo igual, e que nos é indiferente uma mulher ser gorda, magra ou assim-assim. Nem é dizer que não existe uma ideia de beleza feminina ou masculina, porque ela existe, pelo menos desde o tempo em que os gregos produziam senhoras como esta (mas com bracinhos):
Agora, entre a beleza clássica (ou o actual 86-60-86) e aquilo que para nós, gajos, é "sexy", vai um mundo de diferenças. E é essa riqueza de imaginário que realmente importa nos jogos de sedução entre homens e mulheres - coisa que estas conversas um pouco deprimentes sobre massa corporal parecem por vezes esquecer.
Como dizia sabiamente uma alegada psicóloga que adornava o final dos episódios da Playboy que a SIC transmitia nos anos 90:
A zona mais erógena do nosso corpo é o cérebro.
Sábias palavras.
Confesso que fiquei muito surpreendido com o contrataque das mulheres magras (chamemos-lhe assim) após a minha sequência de posts da semana passada. A sua posição pode ser resumida neste comentário da Ana, a propósito deste meu texto:
Esta história toda à volta das gordas e magras é de uma hipocrisia descomunal. As gordas que criticam estas campanhas acabam por fazer exactamente o mesmo que aqueles que estão a criticar. De repente, só as mulheres mais gordas e sem um único ossinho à vista é que tem um corpo perfeito e todas as outras são anorécticas que não comem e parecem esqueletos. Então e as magras que o são por motivos genéticos? Então e aquelas que podem passar dias e dias só a comer hambúrgueres e batatas fritas e não engordam absolutamente nada?
Eu sempre fui naturalmente magra, sempre estive abaixo do peso desejável para a minha altura e não consigo engordar por mais porcaria que coma. Estamos a passar de "as magras são bonitas e as gordas não" para "quem é magro é um esqueleto e não é bonito". A segunda imagem, com mulheres mais gordinhas que as da primeira imagem esqueceu-se que nem todas as magras o são por opção, tal como a primeira imagem também falha por incluir apenas mulheres magras.
Não defendo nem uma, nem outra. Detesto ver campanhas que ora classificam as gordas como belas, ora as magras. A primeira imagem discrimina as gordas. A segunda imagem discrimina pessoas como eu. Já não há paciência para isto. Todas são belas, desde que saudáveis. O que é belo para mim pode ser horroroso para os outros e vice-versa. Cada um é como é e quem não gosta, não olhe. Ao estarmos a caminhar na direcção de valorizar as mulheres com mais peso e condenarmos tudo o que é magro "porque são esqueletos e não comem e não é saudável e porque a mulher real tem curvas", estamos a fazer a mesma porcaria de só valorizarmos os magros. Haja paciência.
Eu percebo bem a posição da Ana, que até acabou por ser replicada de forma mais extremada por outras mulheres - mulheres magras, claro está - que garantem sentir-se discriminadas no seu dia-a-dia. Chiça, até a Sara Sampaio se queixou no Facebook após a polémica com a Jessica Athaíde:
Tal como a Jessica, também eu sou alvo de muitas críticas ao meu corpo (a maior parte da vezes por mulheres), no entanto pelo motivo oposto ao da Jessica. Já perdi a conta das vezes que me mandaram ir comer um hambúrguer, me chamaram anoréctica, esqueleto, etc. Tantas foram as vezes que se calhar já devia estar habituada, no entanto, sempre que leio essas palavras dói.
Ora, quando chegamos ao ponto de esta menina se queixar...
...é porque alguma coisa deve estar errada, não sei se no conceito de beleza feminina, se no olhar que as mulheres têm sobre elas próprias.
Sobretudo para nós, homens, tudo isto é um bocado absurdo. Eu tanto aprecio a Sara Sampaio, jovem ninfeta magrinha, como aprecio a Nigella Lawson, cinquentona roliça.
Do ponto de vista masculino - falo em relação a quase todos os homens que conheço -, o 86-60-86 está longe de ser aquilo que mais lhes interessa numa mulher.
Mais sobre isto já a seguir.
É por isto que eu gosto desta gaja:
“Foi uma das sessões [fotográficas] em que eu disse: ‘OK, não me importo de fazer a foto em topless desde que não as tornem maiores ou façam algum retoque’. Eu não tenho mamas. Não é preciso levantar problemas por causa disso.”
“Já tive o meu corpo manipulado tantas vezes por tantos motivos diferentes, seja fotógrafos paparazzi ou em cartazes de filmes. Os corpos das mulheres são campos de batalha e a fotografia é uma das culpadas."
Pode sempre dizer-se que para ela é fácil falar. Mas a verdade é que muito poucas falam.