Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O Tomás anunciou-me ontem à noite que conseguiu dar 25 toques seguidos com a bola num dos intervalos da escola.
Eu nunca na minha vida consegui dar 25 toques seguidos com uma bola.
O Tomás tem oito anos.
Eu tenho 41.
Suponho que nunca estejamos preparados para este momento: o dia em que um puto nos ultrapassa numa actividade que sempre gostámos muito de praticar, mesmo que nunca tenhamos tido jeito para ela.
Nos últimos dias, os vírus da época fizeram muitos estragos cá por casa. À conta deles, o Gui teve que faltar à escola. Como eu passo todo o dia no hospital, num desses dias insisti com ele para que escolhesse um livro que gostasse muito, fizesse uma cópia de uma página e treinasse a leitura. Combinei com ele que o ouviria ler antes de dormir.
À noite, quando cheguei a casa, ele pegou-me logo na mão e mostrou-me o seu árduo trabalho do dia, que me garantiu ter sido feito com muita dedicação, apesar de se sentir muito doentinho.
E o seu trabalho era este:
Fiquei um bocado estonteada a olhar para o caderno, sem perceber nada do que era aquilo. Mas que raio de gatafunhos eram aqueles?!? Palavras em inglês? Números esquisitos? Nomes incompreensíveis a saltar de linha em linha?
Resolvi não me descoser logo, pois o Gui continuava ao meu lado de sorriso escancarado, muito orgulhoso e expectante.
Até que olhei para a caixa que estava mesmo ao lado do caderno e comecei a encontrar algumas semelhanças com a cópia do Gui...
Claro! Qual livro, qual quê!
Para o Gui, nada melhor do que copiar todas as palavras da caixa do seu adorado quadricóptero (o excelentíssimo esposo está a querer iniciá-lo no mundo dos drones, provavelmente para em breve poder começar a espiar as vizinhas), com o qual ele não se cansa de brincar, mas que o papá só o deixa utilizar quando está ao seu lado.
Tantas vezes o Gui olha para a caixa, a namorá-la, que a achou perfeita para a cópia que lhe foi exigida. A criatividade do Gui continua imparável. Tal como a sua resistência em fazer banalmente as coisas mais banais.
Queria, em primeiro lugar, pedir desculpa a todos os leitores que ao longo de um mês vieram visitar este blogue para esbarrarem invariavelmente na musculatura de Gustavo Santos. É uma coisa que não se faz.
É que eu e a Teresa estamos em pleno processo de divórcio, e não tem sido nada fácil gerir este momento atribulado das nossas vidas...
Ná.
Estou a gozar.
A excelentíssima esposa continua a achar-me um tipo espectacularmente encantador e eu não a trocava pelos meses todos do Calendário Pirelli 2015.
O meu problema, como tratei de explicar em Dezembro, é que tenho estado a trabalhar no desenvolvimento de um novo projecto que me leva todo o tempo livre - aquele tempo livre que durante um ano e qualquer coisa me permitiu postar diariamente. Parte desse projecto já pode ser visto aqui. Trata-se da nova secção de Lifestyle do Observador. Nela há uma subsecção dedicada à família, que ainda está muito magrinha, mas que deverá ganhar corpo em breve. Espero que vão passando por lá.
Ao mesmo tempo, a Teresa regressou ao IPO, o que exige uma mega-dedicação e horários imprevisíveis, como imaginam. Eu fico muito feliz por ela, porque sempre achei que é esse o lugar onde pode ser mais útil aos outros, mas a gestão do seu tempo tornou-se ainda mais complicada.
Mais uma vez: isso não significa que estejamos a pensar abandonar o PD4, ok? Simplesmente, ele há-de ir vivendo das parvoíces que os nossos filhos vão fazendo, dos momentos que nos proporcionam e que nós achamos que vale a pena recordar, ou de uma ou outra meditação ocasional.
Não prometo regularidade. Mas, mesmo semi-comatoso, o coração do PD4 continua a bater.