por João Miguel Tavares, em 27.03.13
Atenção, minhas senhoras e meus senhores, já que o grande Quim Barreiros foi trazido à colação na sequência do
post anterior, e depois desmerecido por alguns leitores nos comentários, quero aqui defender a sua honra e sublinhar que também ele denota grande preocupação familiar, como é próprio da boa gente do povo.
Não será um Tony Carreira, não senhor, mas apesar do conteúdo da sua obra, também ele é um respeitável homem de família. Num dos seus extraordinários discos (
Use Álcool, 2007), ele dedica inclusivamente um tema ao seu jovem neto, precisamente intitulado "O Meu Netinho". O refrão - reparem bem - é de grande elevação poética:
Ai, ai, ai, como é bom ser avozinhoAi, ai, ai, como é lindo o meu netinhoE apesar de o tema conter a expressão "adoro o teu beijo molhado", ela é, incrivelmente - diria mesmo, miraculosamente -, utilizada de forma 100% inocente. Eis o milagre consumado da grã-paternidade: Quim Barreiros, o mestre do trocadilho, o homem que consegue desencantar a badalhoquice que está escondida a 100 metros de profundidade nas palavras mais insuspeitas (cf. o verso "Banana Pessego", contido no hoje já clássico da música portuguesa "
Casamento Gay"), esse mesmo homem consegue subitamente escrever uma letra cândida para o seu pequeno neto, ao ponto de ficar cego às polissemias da letra - afinal, o ramo em que se doutorou
honoris causa com indiscutível brilhantismo.
Ora vejam, e comovam-se: