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Faz mal bater às crianças? Parte III

por João Miguel Tavares, em 27.02.13
A propósito da minha observação sobre os suecos, incluída no ponto 3 deste meu post, comentou a Joana:

"Não concordo nada com o que dizes sobre os suecos (...). Lá porque os suecos são menos efusivos do que os portugueses, não quer dizer que tenham laços familiares mais fracos. Só o demonstram de forma diferente de nós. 
Só para dar um exemplo de como a família (e os seus laços) tem importância na sociedade: quando se tem filhos pequenos, é perfeitamente normal sair todos os dias do escritório cedo (o mais tardar às quatro e muitas vezes mais cedo) para os ir buscar - ninguém comenta ou olha de lado, como seria aí o caso. Os pais com filhos conseguem organizar o dia-a-dia de modo a que são eles que estão com os filhos nas tarefas diárias, e não precisam de depender de avós ou empregadas para estarem com os miúdos até se chegar a casa - como acontece tantas vezes em Portugal, em que muitas vezes se chega tão tarde que já são horas de os miúdos irem para a cama.

Aliás o Estado social e as instituições suecas nem poderiam ter evoluído para o que são hoje, se a família e os seus laços não fossem tão fortes como são. Moro na Suécia há oito anos, tenho montes de amigos da nossa idade e nos quarentas com filhos, desde bébés a adolescentes, e sei bem do que falo. E não sou casada com nenhum sueco, por isso acho que consigo manter a independência nas minhas observações e comparações :-)."

Um outro leitor saiu em defesa da minha tese, aconselhando uma visita ao Portal de Opinião Pública da Fundação Francisco Manuel dos Santos, e em particular aos dados relativos ao dever de amar e respeitar os pais, onde se compara Portugal e a Suécia (nós goleamos).

Não vivendo eu na Suécia, admito que possa ter a visão distorcida por demasiado cinema escandinavo, de Ingmar Bergman a Lars von Trier, cujos níveis de angústia existencial, amorosa e familiar são deveras assustadores. Além disso, tenho a profunda convicção de que o mais espantoso gesto que Portugal, enquanto povo, teve ao longo dos últimos 100 anos, foi a forma como conseguiu acolher perto de um milhão de pessoas oriundas das antigas colónias a partir de 1974, num movimento migratório de uma dimensão nunca antes vista na Europa no último século quando comparada com a percentagem da população residente em Portugal na altura.

Isso é, de facto, único e não sei que outro país o conseguiria ter feito sem o colapso da sua estrutura social. Não há outra explicação para essa extraordinária generosidade que não a profundidade dos laços sociais e familiares em Portugal e a capacidade que nós temos, enquanto povo, em ajudar as pessoas mais próximas que estão em dificuldades (claro que esta face branca tem uma face negra, que é a cunha, o favorzinho e a pequena corrupção, mas isso são contas para um outro rosário).

Dito isto, não quero cair no extremo oposto e fazer de Portugal o cume da civilização no que à educação das crianças diz respeito, portanto acho que a Joana tem alguma razão na crítica que me faz. A minha ideia original não era dizer "nós somos melhores do que eles", mas relendo o texto é, de facto, o que parece. A ideia original era apenas frisar que não estamos a discutir a segurança social, o funcionamento do Parlamento ou a aplicação da Justiça, e que portanto a utilização da matriz "país mais civilizado" para discutir estes temas é altamente perniciosa.


(Atenção, almas sensíveis: esta ilustração é só uma piada foleira. Até porque nunca arriscaria estragar a capa de um livro nos dentes dos meus filhos.)

publicado às 11:53


7 comentários

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De Susana Neves a 27.02.2013 às 23:06

A propósito da comparação com a Suécia, lembrei-me de um episódio que aonteceu no Verão passado. Tinha viagem marcada para lá, com as minhas filhas, e uns dias antes a minha prima mandou-me um e.mail hilariante que dizia qualquer oisa como isto - "não leves a mal o que te vou dizer, mas eles aqui levam muito a sério isso de bater em crianças. Tem cuidado, pois podem chamar a polícia".

Fartei-me de ri com o aviso que lido por outra pessoa dava a sensação que costumo espancar as minhas filhas.

Nem de propósito, estava eu no meio de Estocolmo, quando a Leonor desata a fugir rua fora. Quando me virei para correr atrás dela, dei de caras com um segurança e pensei "estou feita, o que faço agora?". Lá corri e consegui agarrá-la pelo cabelo. Foi mesmo a única maneira de a parar. E só não levou uma palmada pedagógia porque teve a sorte de estar na Suécia e de não me apetecer passar o resto das férias numa esquadra.

A pediatra das minhas filhas, tem esta teoria "se eles nos batem, nós batemos também; se nos morderem, mordemos-lhes também. No final perguntamos, gostaste? E concluímos, o papá e a mamã também não.

Inicialmente, estranhei o método, mas faz todo o sentido.

Como em tudo, há é que ter sensibilidade e bom senso.

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