por João Miguel Tavares, em 02.01.13
O tempo que um gajo gasta a dar assistência técnica aos seus filhos deveria ser mais valorizado pelas nossas excelentíssimas esposas. Para os meus filhos eu sou uma espécie de linha informática de valor acrescentado, só que em vez de ligarem 760 qualquer coisa limitam-se a gritar "papá, preciso de ajuda!" Nunca é "mamã, preciso de ajuda!", é sempre "papá, preciso de ajuda!". E isto às horas mais tristemente madrugadoras, ao ponto de me arrancarem da cama para enfrentar, todo estremunhado, questões técnicas altamente complexas como o carregamento dos Invizimals na PSP ou a colocação de Skylanders no portal para permitir que dois deles possam jogar ao mesmo tempo.
Este tempo nunca é devidamente tido em conta na contabilidade doméstica. Como a excelentíssima esposa me vê agarrado a comandos da Wii e a consolas, conclui imediatamente que eu estou divertidíssimo a brincar com eles. Pois não estou nada. O que eu estou a fazer é tentar enfrentar a tecnologia do século XXI com uma pobre cabeça produzida em 1973, e que quando era adolescente se limitava a carregar cassetes do
Match Day no ZX Specturm. Não havia nada destas parafernálias tecnológicas, de tal modo variadas que um gajo precisa de mestrados em Skylanders e doutoramentos em Invizimals para aprender a dar um murraço na cabeça de um mau qualquer. Ainda para mais, as modas mudam a velocidades estonteantes.
Neste preciso momento, por exemplo, tenho três tipos a arrastarem-se pelo chão da sala à procura de bichos digitais supostamente invisíveis.
Dentro em breve, algum deles irá gritar: "papá!, há aqui uma parte que eu não percebo e não sou capaz de fazer!" É só começar a contagem decrescente:
3...
2...
1...
cá está.
Não é que eu me queria livrar deste género de obrigações. Mas exijo que no contrato caseiro elas sejam muito mais valorizadas do que fazer ovos estrelados ou pôr a máquina da roupa a lavar. É trabalho super-qualificado, é sempre o mesmo desgraçado a fazê-lo, e cada intervenção deve ser equiparada, no mínimo, a passar a ferro três camisas, dois pares de calças e quatro vestidinhos de bebé. A exploração do pai pela criança - com a conivência da mãe - tem de acabar.