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Joan Miró
Carolina Mendonça Tavares
É verdade que os detractores de Miró dizem que os seus quadros poderiam ser pintados por crianças de oito anos, mas acredito que se a minha filha continuar a esforçar-se pode ser que ainda venha a transformar-se numa falsificadora de arte de alto gabarito. Parece que é uma actividade que dá dinheiro com fartura - desde que se consiga fugir à polícia. Desde que vi esta extraordinária reportagem no 60 Minutes que isso não me sai da cabeça.
Vamos então à resposta da questão de ontem, que tenho de admitir ser mais difícil de acertar do que a derradeira pergunta do Quem Quer Ser Milionário. Então, isto...
...é a antecâmara disto:
E isto, para além de borrachas entrançadas de forma altamente foleira e mais ou menos caótica, merecia, como é óbvio, mais uma pergunta sobre o que raio é, já que não se percebe nada. Mas estejam descansados, caros leitores, que eu não tenho vocação para Miss Marple, e portanto dou já a resposta.
Isto é... um Pou.
Claro que isto merecia, como é óbvio, mais uma pergunta sobre que raio é um Pou. Mas estejam descansados, caros leitores, que eu não tenho vocação para Hercule Poirot, e portanto dou já a resposta.
Um Pou é isto:
E isto merecia, como é óbvio, mais uma pergunta sobre que raio é isto. Mas estejam descansados, caros leitores, que eu não tenho vocação para Sherlock Holmes, e portanto dou já a resposta, prometendo não continuar a escrever sempre as mesmas frases, mudando apenas o nome das personagens dos policiais.
O Pou é um jogo foleiríssimo para tablets e telemóveis, que recupera a saudosa (not) figura do Tamagotchi, uma das mais irritantes invenções de todos os tempos.
Os seus criadores garantem tratar-se de um diminutivo de batata ("potato", se ainda bem se recordam das aulas de inglês), daí ser castanho. Mas eu não acredito lá muito nisso. Acho simplesmente que o nerd que inventou esta treta estava a gozar connosco e quis fazer uma declinação do clássico "Poo", que como todos sabemos significa, em linguagem anglo-infantil, "cocó".
O Pou é muito mais parecido com este Poo...
...do que com uma batata.
Mas enfim: seja ou não um jogo subversivo, a verdade é que os miúdos parecem adorar jogar aquela treta. E inclusivamente, quando eu pedi à Carolina para tirar uma foto ao seu Pou para mostrar no blogue, ela pediu-me desculpa por ele estar "com sono".
Qual é a moral desta história? A moral desta história é que eu estou velho e o mundo infanto-juvenil tem uma dinâmica própria, que me passa completamente ao lado.
Eu comecei por perguntar à Carolina que raio era aquilo que ela estava a fazer com dois garfos, e a partir daí fui sugado para um mundo que mete tutoriais de elásticos em espanhol e jogos de computador bastante estúpidos.
Esta mistura de quatro filhos e, entre os filhos, uma pré-adolescente a nascer, vai-me empurrado cada vez mais para fora dos seus campos de interesse. Tudo me passa tão ao lado, que nunca antes tinha sido apresentado ao Pou (estou certo que a excelentíssima esposa vai dizer que conhece o Pou e toda a sua família). Não pensem, no entanto, que isto é uma queixa: adoro que eles vão procurando as suas próprias coisas para se entreterem fora das asas dos pais.
Claro que preferia que não fossem Pous com pinta de cocó nem a p**** da praga das pulseiras, que hoje em dia já se desdobram nas mãos da Carolina por coisas como símbolos da paz...
...ou moranguinhos.
Mas, enfim, é a vida deles. E é bom que à medida que crescem comecem a conquistar os seus próprios territórios, que não foram herdados dos pais. Territórios onde somos nós, e não eles, que temos de bater à porta para entrar. São territórios um bocado parvos, é certo. Preferia que a Carolina estivesse a introduzir-me à música barroca do que ao entrelaçamento das borrachas coloridas. Mas são territórios só deles, que eles dominam muito melhor do que nós - e os miúdos precisam disso.
Freud certamente explicaria: é a própria indivualidade de cada um que se está a construir, à medida que que os nossos campos de interesses deixam de colonizar os deles. A Carolina começa a fazer coisas que eu não sei o que são, nem me interessam. Chama-se a isso autonomia e independência. As mamãs costumam ter um bocado de medo disso. Mas eu gosto - as pulseiras estúpidas são toda uma ponte para um novo mundo.
Depois de ter sido vilmente acusada pelo meu excelentíssimo marido de querer transformar os nossos fins-de-semana familiares em prolongamentos dos centros de treino para os exames nacionais do 1º ciclo, como se eu fosse o implacável professor do Tom Sawyer, achei que deveria dar a minha versão sobre o tema.
Nas circunstâncias em que vivemos (que são tão diferentes das dos países nórdicos!) não me parece desajustado criar exames nacionais no final de cada ciclo de ensino para aferir os conhecimentos que cada aluno obteve. Todos sabemos que há diferentes métodos de ensino e de avaliação, mas há um determinado número de conhecimentos básicos (e não estou a discutir, nem me compete a mim fazê-lo, se eles foram correctamente avaliados nestes exames) sem os quais a progressão do ensino na criança é dificultada, pelo que me parece sensato verificar a sua preparação antes de iniciar um novo ciclo na sua vida pessoal e académica.
Esta avaliação deveria ser encarada com a mesma naturalidade e seriedade que qualquer teste na vida curricular de um estudante, de acordo com a idade de cada um. E para ela se deveriam preparar com rigor. Não é isso que acontece a cada dia na nossa vida profissional?
Ora, é aqui que começam as divergências de opinião com o excelentíssimo esposo. Eu acho que compete aos pais vigiar e apoiar, quando necessário, a educação dos filhos. Ele acha que os pais devem respeitar a autonomia do estudo dos seus filhos desde o primeiro momento, só devendo intervir a pedido dos próprios filhos. Portanto, ele assume que os miúdos adquirem métodos e interesse pelo estudo assim por... geração espontânea.
No primeiro ano de escolaridade, a esmagadora maioria das crianças precisa de apoio em casa para criar hábitos de trabalho, gosto pela leitura, curiosidade pela pesquisa, prazer pelo conhecimento. E não consegue isso (mais uma vez, na maior parte dos casos) só com aquilo que aprende na escola. Nem só a observar os pais desenfreadamente absorvidos pelo seu trabalho. É preciso inevitavelmente acompanhamento em casa, porque nessa altura os filhos não têm a autonomia e a responsabilidade que o meu excelentíssimo esposo tão eloquentemente advogou.
Há que suar as estopinhas para o conseguir, não só no estudo acompanhado, mas utilizando os momentos em família para jogos e discussões interessantes sobre os mais variados assuntos (que não incluam a vida dos vizinhos e os acontecimentos das telenovelas/ programas de televisão mais populares). Como é que os miúdos hão-de formar um imaginário rico o suficiente para escreverem composições criativas se não lêm livros variados, não vão a museus, não falam com pessoas de diferentes idades e contextos sociais, não rebolam na erva e exploram matas e florestas, não conhecem ambientes bucólicos e cosmopolitas (seja presencialmente seja via filmes/ reportagens/ relatos)?
Já os métodos usados para o conseguir são muito diversos e eu sou completamente contra fazer a papinha aos meninos, resolver-lhes os TPCs, fazer resumos da matéria ou questioná-los até à exaustão acerca do seu conteúdo (e são vários os exemplos desses que encontramos à nossa volta). Um educador deve ensinar a fazer perguntas e não a decorar respostas, e isso faz toda a diferença na preparação de um estudante e no sucesso de um adulto trabalhador.
A partir do momento em que esses hábitos estão conseguidos, claro, surge a autonomia, mas ainda assim nos primeiros anos com alguma vigilância e orientação. Não me esqueço de há um ano ter descoberto, na véspera do teste final de Matemática da Carolina, que ela não sabia usar o algoritmo da multiplicação. O mesmo é dizer que ela errava quase todas as operações que envolviam a multiplicação de números "compridos". Como a Carolina gostava de usar o cálculo mental, ia-se safando o suficiente para nunca termos dado conta disso (nem a sua professora), e nem sequer ela percebia a razão pela qual errava invariavelmente os problemas que envolviam cálculos mais complicados. Só me apercebi disso (devia estar com a cabeça no ar quando a professora explicou o algoritmo ao resto da turma) depois de me ter sentado ao lado dela, antes do teste, e lhe ter pedido para me mostrar a matéria que iria ser avaliada.
Claro que isto não deveria ter implicações graves no futuro da Carolina, mas aquela revisão forçada da matéria impediu que ela passasse a fazer contas de multiplicar com uma perna coxa. E são tantos os exemplos infelizes à nossa volta em que a inexistência de bases de formação bem sedimentadas incapacitam a progressão e o gozo da aprendizagem nos anos seguintes....
Dito isto devo dizer que, nos fins-de-semana anteriores aos exames de Matemática e Português, eu não estudei um único minuto com a promitente examinada, já que ela ouviu atrás da porta a minha conversa com o seu advogado-papá e acabou por invocar o direito inalienável aos dias de reflexão pré-examinal. E assim foi.
A Carolina achou o exame de 4.º ano de Matemática um pouco mais difícil do que o de Português, e portanto, quando nos encontrámos durante a tarde de ontem, ela trazia meticulosamente dobrada na sua bolsa a folha de rascunho que lhe havia sido fornecida durante o teste, para tirar comigo algumas dúvidas.
Embora eu sempre tenha detestado corrigir testes mal eles acabam - sempre preferi esperar primeiro pela nota e depois ver o que estava mal, para evitar desnecessárias angústias -, lá estive a ver os "três problemas" em que ela teve maiores dificuldades. A folha era esta:
Pelos desenhos dela, as notícias pareceram-me boas: acho que acertou nos três problemas que classificou como mais difíceis. Todos eles, pelos vistos, ocorreram na primeira parte do exame. E devo dizer que também gostei do profissionalismo dos desenhos - pareceu-me que tinha ali uma menina concentrada naquilo que estava a fazer.
Isto, claro, até virar a folha de rascunho e analisar os raciocínios a propósito da segunda parte do exame. Para além de ângulos obtusos, rectos e agudos, o que se via era isto:
Desenhos de personagens dos Angry Birds, dos dois professores vigilantes e um auto-retrato a dizer: "Quero passar no exame!"
Perguntei-lhe que raio era aquilo e ela respondeu-me que já tinha acabado e revisto o teste e ainda faltavam dez minutos. Portanto, entreteve o tempo a desenhar.
Tentei explicar-lhe que essa não era a melhor forma de aproveitar o tempo livre num teste importante. Ela não me ligou grande coisa. Mas, pelo menos, existe nisto um lado positivo, que tem a ver com conversas já tidas neste blogue: perantes aqueles devaneios gráficos, não se pode dizer que a rapariga estivesse minimamente angustiada durante a prova.
Ou seja, desaprovo os desenhos da Carolina ao mesmo tempo que gosto bastante deles. Até porque anda a desenhar bem. É um orgulho, esta filha.
A Ana Sousa deixou uma pergunta interessante nos comentários a este post:
Qual seria a sua reacção se a Carolina reprovasse?
A pergunta é uma boa pergunta. Eu diria que depende muito. Se há regra fixa que eu aprendi ao fim de quatro filhos é esta: não há regras fixas. Depende do filho. E depende do contexto.
No caso da Carolina, se ela reprovasse provavelmente levaria um castigo dos grandes, na medida em que falhara o compromisso que assumira comigo e com a sua mãe. Dissera-nos que sabia a matéria toda e, afinal, era mentira. Sendo estudar o seu trabalho, ela havia sido incompetente, e teria de sofrer as consequências disso.
Mas devo dizer que, recentemente, a Carolina fez uma prova de piano que lhe correu mal. Mais exactamente, correu-lhe mal quando comparado com aquilo que se tinha esforçado, que naquele caso, e para ela, fora bastante. Trabalhou muito para aquela prova, mas quando lá chegou enervou-se um bocadinho, tinha muita gente a olhar para ela, e tocou mal.
Aí não fiz mais nada além de confortá-la, até porque já lhe tinha dito o mais importante antes da prova: "Não te preocupes, porque o papá viu que te esforçaste. Se correr bem, excelente. Se correr mal, paciência, tu fizeste o teu melhor."
Suponho que o segredo esteja exactamente neste "fazer o seu melhor". Quem dá o que tem a mais não é obrigado. Há miúdos com capacidades muito diferentes. Não tenho dúvidas acerca das capacidades escolares da Carolina e do Tomás, portanto eles não têm desculpas para terem notas fracas. Tenho algumas dúvidas em relação às capacidades escolares do Gui - ele preocupa-me bastante mais, porque os seus circuitos cerebrais são de um outro tipo, funcionam a outra voltagem.
Tudo isto tem de ser gerido com pinças. Citando o barbudo Marx, que é coisa que fica sempre bem, a filosofia é esta: "De cada qual, segundo a sua capacidade; a cada qual, segundo as suas necessidades." Como forma de governo de um país não é, como já se viu, grande coisa. Mas como forma de governo de uma casa, na gestão da vida familiar, parece-me um óptimo conselho.
Eu recuso-me a ser mole com eles, mas também não quero ser injusto. Claro que nunca é um equilíbrio fácil, essa dosagem entre exigência e complacência. Mas é o que torna isto de educar filhos realmente giro e desafiante.
Já agora, só para os curiosos que querem conhecer o desenrolar da coisa, parece que a experiência do exame de Português não foi nada desagradável para a Carolina.
Ela disse que o teste era "muito fácil" e que lhe correu bastante bem. Segundo ela - em mais uma manifestação da sua habitual modéstia - vai ter "99%", já que em todo o exame só teve "um erro", e foi "de ortografia". Ah, ah, ah.
Isto, sim, é a minha filha mais velha em todo o seu esplendor, sempre capaz de convidar o planeta inteiro a prestar vassalagem ao seu umbigo. Claro que ela não vai ter 99%, e muito menos apenas um erro de ortografia num exame nacional de Português (iria a pé até Fátima se tal acontecesse), mas gosto de a ver assim, autoconfiante e saudavelmente inconsciente, em vésperas do exame de Matemática.
Hoje é um dia muito importante para a Carolina: a esta hora, ela está a fazer o primeiro grande exame académico da sua carreira - a prova de aferição de Português do 4.º ano. Na próxima quarta-feira será a vez da prova de Matemática.
Eu sempre fui a favor deste tipo de exames. O final do ensino básico é uma altura muito importante na vida deles, e acho muito bem que os seus conhecimentos sejam avaliados. Mas há um "mas", que tem mais a ver com os adultos do que com as crianças. Acho óptimo que os miúdos sejam examinados; acho péssimo, estando a falar de putos com 10 anos de idade, que os pais e os professores coloquem em cima dos seus ombros uma pressão excessiva.
Ou seja, acredito que as crianças estão preparadas para fazerem testes e devem fazê-los - afinal, elas levam com provas de avaliação ao longo de toda a escolaridade. Mas tenho dúvidas acerca da sua preparação para lidar com pais stressados e professores de escolas demasiado competitivas, que interrompem as lições curriculares com um mês de antecedência só para preparar as crianças para os exames.
Como ninguém quer fazer má figura - e como a avaliação da performance das escolas é um critério cada vez mais relevante para pais e ministério da Educação -, tenho a sensação de que nalgumas escolas e em algumas famílias a pressão pela performance de excelência possa ser contraproducente. O Público trazia ontem um belo trabalho sobre o tema, onde se alertava para os perigos da transformação das escolas em "centros de treino" para exames.
Sei do que falo. A coisa, antes de começar a enervar os filhos começa a enervar os pais, e já tive algumas discussões com a excelentíssima esposa sobre o tema, onde me vejo no triste papel de molengas doméstico - logo eu, que sou adepto de uma educação austera e expurgada de mariquices.
A minha posição sobre o estudo caseiro acompanhado já foi exposta aqui e aqui, mas quando os exames apertam há certas filosofias mais difíceis de pôr em prática, sobretudo porque a Teresa insiste em que eles trabalhem mais em casa e combatam as suas dificuldades - até porque há sempre novas dificuldades que vão surgindo, à medida que as matérias se complexificam.
Mas eu mantenho-me na minha enquanto eles tiverem boas notas - estudar é, em primeiro lugar, responsabilidade deles, não dos pais. No mundo perfeito, e a partir da idade da Carolina (aos seis ou sete anos eles ainda são muito pequenos e falta-lhes sentido de responsabilidade), os pais só deveriam intervir a pedido dos próprios. Género: "Papá, há aqui uma matéria que não percebo. Importas-te de me explicar?"
A verdade - se calhar sou eu que sou ingénuo - é que acho que a Carolina faz isso. Ela em casa parece às vezes um pouco baldas, mas não acredito que seja assim na escola - é demasiado competitiva, e tem demasiado prazer em ser a melhor, para que se deixe levar pelo desinteresse académico. Além de que teve cinco a Português e a Matemárica no segundo período - ou seja, provou a sua competência e deu mostras de merecer a minha confiança.
E tendo ela provado até ao momento ser uma óptima aluna, eu entendo não ter o direito de lhe impor três ou quatro horas de estudo num fim-de-semana sobre matérias que ela diz dominar - e, sobretudo, depois de andar a fazer essa mesma preparação durante cinco dias por semana na escola.
A Teresa, claro, é mais desconfiada, e quer ver com os seus próprios olhos - via testes e trabalho a sério - essa competência. E, portanto, acusa-me de, com a minha atitude "ela é que sabe e não a chateies excessivamente", estar a demitir-me das minhas responsabilidades e a fazer o joguinho da minha filha mais velha. E como a Carolina escuta certas conversas atrás das portas, já percebeu a existência dessas divergências e, esperta que nem um cuco, utiliza-as nas suas actividadezinhas de manipulação parental.
Mas lá está: visto a uma certa distância, ou seja, visto daqui mesmo, frente a um ecrã de computador que me ajuda a pensar, eu mantenho-me fiel à minha filosofia da autonomia e da responsabilidade. Enquanto a Carolina provar e cumprir, ela tem direito a definir os seus métodos de trabalho e de estudo. Até porque tenho, de facto, imenso medo em pressionar demasiado miúdos desta idade - facilmente transferimos para eles os nosso nervos e, depois, estão uma pilha na hora de fazer o exame.
Ainda há pouco, só de estar a entrar numa escola nova onde não conhecia a sala e não via os colegas, parecia uma barata tonta. Em vez de perguntar calmamente a uma auxiliar onde deveria dirgir-se, desceu a correr as escadas da escola para me vir apanhar à porta de entrada (os pais não podiam entrar na escola), para eu a ajudar. Lá tive eu de explicar ao senhor da porta que tinha mesmo de me deixar subir, porque ela estava já toda tremeliquenta e à beira da choraminguice. Ele deixou - e é por isso que gosto tanto de Portugal.
A Carolina sempre teve a enorme qualidade não se enervar, de ser super-optimista, de achar que é capaz de tudo e um par de botas na hora de ser avaliada. Isso são enormes virtudes quando se entra numa sala de exame, e saber na ponta da língua a diferença entre determinantes possessivos e determinantes demonstrativos não compensa a perda da sua postura zen.
Claro que uma coisa não impede necessariamente a outra, mas no caso da Carolina prefiro não arriscar. E se eu sempre lhe disse "confio em ti desde que tenhas boas notas" não vou mudar de filosofia só porque se aproxima a GRANDE PROVA DE AFERIÇÃO. Eu sou totalmente pela exigência, não desculpo más notas, acho que estudar é o trabalho deles e o devem levar muito a sério. Mas também não exageremos, caraças. São putos de dez anos. Estão na quarta classe, por amor de Deus. Querer transformá-los já em mini-adultos à beira de entrar na universidade é uma homérica palermice.
E sabem porque é que, no fundo, no fundo, essa homérica palermice acontece? Porque hoje em dia damos demasiada atenção aos nossos filhos. Essa é que é essa. Se às vezes pensássemos mais em nós e menos neles, tudo seria muito menos complicado. Infelizmente, estamos tão habituados a que os filhinhos sejam o centro das nossas vidas, que às tantas já não conseguimos fugir à força da sua gravidade e deixar de orbitar em seu redor.
Querida mãe,
Tu és linda como o Sol
Ou como a luz do Farol
Tu sempre me apoiaste
E também me abraçaste
Sempre me deste miminhos
Que eram tão fofinhos
Levaste-me a lugares
Super "fantabulares"
Quando me dás trabalho eu porto-me mal
Mas sei que os trabalhos me dão cultural geral
Eu sei que às vezes não me sei comportar
Mas irei sempre te amar
Poema da Carolina para o Dia da Mãe
"Papá"
Papá, neste dia especial
Gostaria de te oferecer
Algo fora do normal
E espero que gostes a valer.
Eu gosto muito de ti
Embora às vezes não consiga mostrar
Mas eu nunca te perdi
E nem sequer consigo imaginar.
Sei que agora te ando a irritar
Mas não quero que tu penses
Que te deixei de amar.
Beijinhos da Carolina
*A gravata azul do postal representa a gravata que os meus filhos me ofereceram, por antecipação, pelo Dia do Pai, e que eu usei no lançamento do meu último livro.