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- Hoje é o dia do teu teste de matemática, Carolina?
- Sim.
- O que é que tens andado a fazer nas aulas?
- Temos andado a treinar contas de multiplicar, contas de dividir e também temos feito algumas transformações.
- Carolina.
- Sim, Gui.
- Tu consegue transformar um carro num boi?
- Papá, tens de falar com a mamã.
- O que é que se passa, Tomás?
- Já não tenho idade para usar roupa interior com ursinhos.
- Mas isso nem se vê, Tomás.
- Já não tenho idade, papá.
- Hum, ok. Vamos falar com a mamã.
(...)
- Aqui o Tomás diz que já não tem idade para usar roupa interior com ursinhos.
- Eu sei, Tomás. Mas eu só te mandei essa roupa para a natação, não para a escola.
- De qualquer forma, se puderes passar essa roupa interior para o Gui, era bom. Ele não se importa. E eu já não tenho idade para usar roupa interior com ursinhos.
- Está bem, Tomás, vamos fazer isso.
- Papá, tu tens filhos favoritos?
- Tenho, Carolina.
- Quantos?
- Quatro.
- Meninos, vamos para o quarto escolher alguns brinquedos para dar a quem precisa, ok? Olhem aqui esta pistola. De quem é que é esta pistola?
- É minha, mamã.
- Gui, podemos dar esta pistola?
- Sim. Mas ela não dispara.
- Porquê?
- Não tem pilhas.
- Não a podemos dar assim, Gui. Temos de pôr umas pilhas novas primeiro.
- Ó mamã, mas com pilhas novas eu já não a quero dar!
- Papá, tu acreditas no pudismo?
- No quê, Carolina?
- No pudismo. Eu vi na televisão que eles acreditam na reencarnação, e que quando uma pessoa morre depois volta num outro corpo. E se tu te cruzares com ela na rua, vais ter a sensação de que já a conheceste.
- Deves querer dizer budismo, Carolina.
- Sim, isso, o budismo. Acreditas?
- Bom, na nossa cultura cristã, nós acreditamos antes que as pessoas quando morrem vão para o céu.
- Eu acredito nas duas coisas. Acho que as pessoas boas, como a tia Armanda, deviam voltar outra vez.
- Sim, mas para acreditares nas duas coisas só se criares a tua própria religião.
- A tia Armanda era muito boa, mas também tinha os seus defeitos, não era, papá?
- Como todas as pessoas.
- Então, a parte dela que era um bocadinho má ia para o céu, para aprender a ser boa junto de Deus. E a parte boa reencarnava e voltava outra vez para a terra. O que é que achas?
- Parece-me bem, Carolina.
- Papá, nós podemos ter várias profissões?
- Porque é que perguntas isso, Gui?
- Porque eu quero ser médico de pessoas, médicos de animais e motorista de táxi.
- Isso ia ser uma canseira.
- Não. No primeiro dia eu era médico de pessoas, no segundo dia era motorista de táxi e no terceiro era médico de animais. Assim não me cansava muito.
- Papá, eu vou dizer-te onde é que tu ganhas à mamã.
- Eu ganho à mamã nalguma coisa? Isso é fantástico, Gui.
- Tu ganhas à mamã no ser muito engraçado. A mamã ganha-te nos miminhos.
- Vou pôr o meu dente debaixo da almofada, papá.
- Ó Carolina, mas se tu dizes que já não acreditas na fadinha dos dentes...
- Não se trata de não acreditar. Eu tenho provas de que ela não existe.
- Então sabes como é: quando se deixa de acreditar na fada dos dentes, ela também deixa de acreditar em nós, e já não aparece à noite.
- Papá, é o meu primeiro pré-molar!
- E então?
- Então, a mamã disse que ela aparecia na mesma.
- Ai sim?
- Sim. Eu ainda sou uma criança, papá.
- Ok, e então quando é que na tua opinião a fada pode deixar de aparecer?
- Quando eu fizer 18 anos e me tornar independente.
- Tu tens de gostar dos teus manos, Carolina, tens de ficar feliz quando eles estão felizes e sacrificar-te por eles quando vês que precisam de ti.
- (...)
- Se o Tomás caísse para um poço tu não mergulhavas para o salvar?
- Não.
- Não?!?
- Claro que não. Se ele caísse para um poço eu não iria conseguir salvá-lo. Se saltasse, em vez de morrer só um, morríamos os dois.
- Ah, ok. E se fosse para uma piscina?
- Para uma piscina saltava.
- Onde é que vamos, papá?
- Vamos ao dentista, Gui.
- Ao dentista dos dentes?