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A Garrafa dos Palavrões

por João Miguel Tavares, em 12.02.14

A Olívia fez uma observação a um leitor mais dado às liberdades de linguagem nos comentários a este post:

 

Só para dizer que deveria, no meu entender, escrever sem utilizar constantemente asneiras... não é de bom tom!

 

Tendo em conta esta repreensão, e o facto de cá em casa sairmos com demasiada frequência do "bom tom", eu senti-me interpelado a partilhar convosco a última invenção da nossa casa: a Garrafa dos Palavrões.

 

Infelizmente, eu estou mesmo como o leitor mais dado às liberdades de linguagem: de vez em quando saem-me pela boca umas palavras que eu não gostaria que eles ouvissem; e eles, por seu lado, andam a aprender na escola um vocabulário que eu preferia que não conhecessem. Portanto, tendo em conta que falta manifestamente à família a devida polidez, resolvi construir no último sábado isto:

 

 

A Garrafa dos Palavrões é constituída por uma garrafa vazia de Pepsi (embora eu seja um homem Coca-Cola Zero), na qual fiz uma abertura para as moedas com um x-acto e na qual colei um rótulo novo, com uma descrição minuciosa do funcionamento do produto.

 

A partir de agora, sempre que alguém disser um palavrão, paga 1 euro. Isto é uma coisa democrática: abrange pais e filhos por igual. Aliás, receio bem que eu tenha sido um dos primeiros a estreá-la: os meus filhos ouviram-me a falar ao telefone com um amigo e parece que soltei dois "palavrões óbvios e horríveis" - e pimba, ficaram logo lá dois euros.

 

 

Mas o maior problema da casa e dos meus filhos não são os "palavrões óbvios e horríveis", que em geral (digo "em geral" porque às vezes eles aprendem umas coisas novas sem que tenham a menor noção do seu significado e do seu peso) eles sabem perfeitamente que não podem dizer. O problema é mesmo a velocidade com que os "estúpidos" e os "gajos" e os "putos" e os "chiças" são debitados.

 

Essas palavras foram designadas como "feias", e cada uma delas paga 50 cêntimos. Para não haver dúvidas, resolvemos fazer uma lista em família, que ficou registada na garrafa. Neste momento constam "gajo", "gaja", "fosga-se", "caraças", "idiota", "parvo", "parva", "chiça", "bosta" e gestos de "pilinha sexy" (não queiram saber).

 

O "estúpido" e a "estúpida", dada a recorrência da sua utilização, mesmo não sendo tecnicamente palavrões, sofrem penalizações extra: 1 euro. 

 

Ainda não decidimos o que fazer com o dinheiro quando a garrafa encher (porque, receio bem, há-de encher), mas para estarmos todos comprometidos em melhorar o nosso vocabulário, a Garrafa dos Palavrões foi devidamente assinada por todos os membros do agregado familiar, pais incluídos. Apenas ficou de fora a Ritinha, até porque só sabe dizer "papá", "mamã" e "já tá". 

 

publicado às 10:52


29 comentários

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De Maria Marques a 12.02.2014 às 11:53

Olá,

A ideia é muito boa, mas, sinceramente, os termos "chiça" e "puto" não têm nada de mal. Uso mts vezes "gajo" e "gaja" sem ser pejorativo, mas até compreendo que para algumas pessoas seja mau (ainda que ache ridículo).
Beijinhos a todos de uma leitora assídua.
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De Storyteller a 12.02.2014 às 11:43

Estou a um passo de furtar esta ideia da "Garrafa dos Palavrões" para pôr a uso cá em casa.
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De Filomena a 12.02.2014 às 11:43

Seguidora fiel nunca "postei" nada ... mas hoje nao me contive ...
Em minha casa nunca funcionaria, o marido ia à falencia e levava-me junto ... afinal as contas são conjuntas ...
Cabe aos filhos chamar à atenção ao próprio pai ...
(Atenuante, somos de Braga, onde há palavrões que entre amigos soam a cumprimentos ... )
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De Anónimo a 12.02.2014 às 12:20

Exactamente! Em certas zonas do norte os palavrões saem da boca como se fossem ... poemas lol
Claro que devemos educar os miudos a não os dizerem e os meus até nem dizem e eu também não. Mas o meu marido... bem... é engenheiro civil e quando anda mais nas construções, fica cá com um vocabulário.... nós só nos rimos...

Por cá é normal, ouvir dois amigos: "Oh pá, há tanto tempo, meu filho da p*, por onde tens andado, car*****?" :)

Se é bonito? Não, mas temos de analisar as coisas à luz da cultura (ou falta dela....).

Até nos Tribunais, nos processos de injúrias são atenuantes o facto de estarmos no norte (numa aldeia) em que estes termos não são dito (na grande maioria das vezes) com intenção de injuriar.
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De Joana a 12.02.2014 às 11:38

Ahaha excelente ideia :D Mas agora temos de saber o que são gestos de "pilinha sexy" xDD

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