Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Na sequência do pedido da Joana Silva (e da pressão do excelentíssimo esposo), aqui vai um "A Mamã É Médica" sobre a chucha, as suas vantagens e os seus problemas.
O reflexo de sucção é inato e surge durante a gestação em quase 100% dos bebés. Por essa altura, os bebés costumam usar os dedos para chuchar, mas depois de nascerem a chupeta, a fralda, um brinquedo ou um cobertor servem para os ajudar a relaxar, concentrar, auto-controlar ou confortar. A maioria das crianças costuma abandonar este hábito entre os 2 e os 4 anos mas cerca de 20% das crianças mantêm-no depois dos 3 anos, sendo mais frequente ocorrer nas crianças que não têm irmãos mais velhos (os primogénitos, sempre os primogénitos) e nas crianças que usam o dedo em vez da chucha.
Muitos estudos têm sido feitos sobre os benefícios e riscos associados à utilização da chucha pela preocupação antiga da sua relação com o insucesso da amamentação, problemas dentários a longo prazo e efeito de protecção da Síndrome de Morte Súbita do Lactente (SMSL). Resumamos, então, os prós e os contras que se conhecem até ao momento.
A favor da utilização da chucha:
- a chucha pode acalmar, controlar e confortar a criança. Não é aconselhável que se utilize para atrasar ou substituir refeições e só deve ser oferecida se a criança não tiver fome. É uma óptima aliada quando precisamos de distrair e sossegar as crianças em situações de colheita de sangue ou administração de vacinas, adormecê-la, ou simplesmente quando precisamos de tirar uma fotografia e as outras medidas extraordinárias não resultam;
- está documentada cientificamente a associação entre o uso da chucha durante o sono e a redução do risco da SMSL, apesar de se desconhecer o mecanismo de associação. É, portanto, recomendado o uso da chucha no primeiro ano de vida durante o sono diurno e nocturno, adiando-se a sua introdução para depois do estabelecimento firme da amamentação (+/- um mês), nas crianças amamentadas. Está estabelecido que a chucha deve ser oferecida ao bebé quando este é colocado no berço e não deve ser reintroduzida depois de este adormecer nem forçada a sua utilização se a criança a recusar;
- a utilização da chucha pode ajudar a ultrapassar o desconforto/dor nos ouvidos provocado pelas alterações da pressão atmosférica durante os voos;
- quando a criança estiver preparada para deixar a chucha esta pode simplesmente deitar-se fora. Quando a criança usa os dedos para se acalmar a tarefa será bem mais complicada.
Contra a utilização da chucha:
- a utilização precoce de mamilos artificiais ou chuchas parece estar associada com o insucesso da amamentação exclusiva e a diminuição da duração da amamentação, apesar de não ser claro se estes serão a causa ou a solução para um problema existente;
- o uso da chucha pode aumentar o risco de otites, mas a sua incidência parece ser menor até aos 6 meses, quando o risco da SMSL é maior e o bebé pode estar mais interessado na sua utilização, pelo que os riscos e benefícios têm de ser bem ponderados;
- os problemas dentários provocados a longo prazo pela sucção não nutritiva (chucas/ dedos/ brinquedos/ fraldas) está directamente correlacionada com a frequência, intensidade, duração e natureza do hábito e com factores genéticos e raciais. A utilização de chucha durante o sono até aos 5 anos não é provável que cause problemas irreversíveis e a longo prazo. No entanto, o seu uso prolongado e frequente pode provocar perturbações odontológicas (mordida aberta, mordida cruzada, diastema – espaços entre os dentes –, palato atrésico – céu da boca alto e estreito –, protrusão dos incisivos superiores – projecção dos dentes da frente), alterações no desenvolvimento craniofacial (deficiente desenvolvimento da mandíbula, alterações nas funções reflexo-vegetativas (respiração oral, mastigação e deglutição), alterações na musculatura da língua, lábios e bochechas e dificuldades na fala. É importante aconselhar os pais das crianças que usam chucha até mais tarde a planear o abandono deste hábito antes da erupção dos dentes definitivos, de preferência começando a planear essa suspensão entre os 4 e os 5 anos.
Em relação às estratégias de abandono, que era o pedido directo da Joana, receio bem que vá ter de ficar para o post seguinte. Este já vai longo, o dia começa a nascer e eu preciso de ir colocar a chucha à Rita. Mas prometo regressar rapidamente.