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A mamã é médica #9.1

por Teresa Mendonça, em 17.01.14

Na sequência do pedido da Joana Silva (e da pressão do excelentíssimo esposo), aqui vai um "A Mamã É Médica" sobre a chucha, as suas vantagens e os seus problemas.

 

O reflexo de sucção é inato e surge durante a gestação em quase 100% dos bebés. Por essa altura, os bebés costumam usar os dedos para chuchar, mas depois de nascerem a chupeta, a fralda, um brinquedo ou um cobertor servem para os ajudar a relaxar, concentrar, auto-controlar ou confortar. A maioria das crianças costuma abandonar este hábito entre os 2 e os 4 anos mas cerca de 20% das crianças mantêm-no depois dos 3 anos, sendo mais frequente ocorrer nas crianças que não têm irmãos mais velhos (os primogénitos, sempre os primogénitos) e nas crianças que usam o dedo em vez da chucha.

 

Muitos estudos têm sido feitos sobre os benefícios e riscos associados à utilização da chucha pela preocupação antiga da sua relação com o insucesso da amamentação, problemas dentários a longo prazo e efeito de protecção da Síndrome de Morte Súbita do Lactente (SMSL). Resumamos, então, os prós e os contras que se conhecem até ao momento.

 

A favor da utilização da chucha:

 

- a chucha pode acalmar, controlar e confortar a criança. Não é aconselhável que se utilize para atrasar ou substituir refeições e só deve ser oferecida se a criança não tiver fome. É uma óptima aliada quando precisamos de distrair e sossegar as crianças em situações de colheita de sangue ou administração de vacinas, adormecê-la, ou simplesmente quando precisamos de tirar uma fotografia e as outras medidas extraordinárias não resultam;

 

- está documentada cientificamente a associação entre o uso da chucha durante o sono e a redução do risco da SMSL, apesar de se desconhecer o mecanismo de associação. É, portanto, recomendado o uso da chucha no primeiro ano de vida durante o sono diurno e nocturno, adiando-se a sua introdução para depois do estabelecimento firme da amamentação (+/- um mês), nas crianças amamentadas. Está estabelecido que a chucha deve ser oferecida ao bebé quando este é colocado no berço e não deve ser reintroduzida depois de este adormecer nem forçada a sua utilização se a criança a recusar;

 

- a utilização da chucha pode ajudar a ultrapassar o desconforto/dor nos ouvidos provocado pelas alterações da pressão atmosférica durante os voos;

 

- quando a criança estiver preparada para deixar a chucha esta pode simplesmente deitar-se fora. Quando a criança usa os dedos para se acalmar a tarefa será bem mais complicada.

 

Contra a utilização da chucha:

 

- a utilização precoce de mamilos artificiais ou chuchas parece estar associada com o insucesso da amamentação exclusiva e a diminuição da duração da amamentação, apesar de não ser claro se estes serão a causa ou a solução para um problema existente;

 

- o uso da chucha pode aumentar o risco de otites, mas a sua incidência parece ser menor até aos 6 meses, quando o risco da SMSL é maior e o bebé pode estar mais interessado na sua utilização, pelo que os riscos e benefícios têm de ser bem ponderados;

 

- os problemas dentários provocados a longo prazo pela sucção não nutritiva (chucas/ dedos/ brinquedos/ fraldas) está directamente correlacionada com a frequência, intensidade, duração e natureza do hábito e com factores genéticos e raciais. A utilização de chucha durante o sono até aos 5 anos não é provável que cause problemas irreversíveis e a longo prazo. No entanto, o seu uso prolongado e frequente pode provocar perturbações odontológicas (mordida aberta, mordida cruzada, diastema – espaços entre os dentes –, palato atrésico – céu da boca alto e estreito –, protrusão dos incisivos superiores – projecção dos dentes da frente), alterações no desenvolvimento craniofacial (deficiente desenvolvimento da mandíbula, alterações nas funções reflexo-vegetativas (respiração oral, mastigação e deglutição), alterações na musculatura da língua, lábios e bochechas e dificuldades na fala. É importante aconselhar os pais das crianças que usam chucha até mais tarde a planear o abandono deste hábito antes da erupção dos dentes definitivos, de preferência começando a planear essa suspensão entre os 4 e os 5 anos.

 

Em relação às estratégias de abandono, que era o pedido directo da Joana, receio bem que vá ter de ficar para o post seguinte. Este já vai longo, o dia começa a nascer e eu preciso de ir colocar a chucha à Rita. Mas prometo regressar rapidamente. 

 

publicado às 09:50


5 comentários

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De Vidasdanossavida a 17.01.2014 às 23:39

Olá e obrigada por este post, que vem no sentido da opinião do pediatra dos meus filhos, e que me descansa bastante, apesar das inúmeras criticas e bocas que recebemos por causa do meu filho mais velho. Fez agora 4 anos e já tentou, por sua iniciativa, deixar as 2 chuchas que usa para dormir. Ele é um miúdo super despachado, autónomo e acelerado e precisa mesmo das chuchas para acalmar. Das duas vezes que deixou, uma delas durante duas semanas, passava horas para adormecer e nem percebia bem o que se passava com ele. Claro que queremos que ele deixe a chucha, mas estamos a tentar dar-lhe o tempo dele. Ainda por cima, há 9 meses teve um irmão e penso que poderá ter atrasado mais este processo. Bjs
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De Mary a 17.01.2014 às 20:32

E quando a criança mama na língua?! O meu filho mais velho tem esse vicio, mama na língua desde bebé, acabou de completar 3 anos, como vou fazer pra ele abandonar o vicio?! Ele também tem um coelhinho que dorme com ele desde bebé, eu a dias lembrei-me de esconder o dito coelho pra ver se ele adormecia sem ele não mama-se na língua, mas foi uma tortura que acabamos por desistir e dar-lhe o seu amigo coelho! No entanto tenho outro filho que nunca quis chupeta, recusou-a até aos 10 meses, eu desisti de lha oferecer e guardei-a. Quando fez 1 ano o irmão encontrou a chupeta e deu-lha, pois agora é a melhor amiga dele... mas nem por isso começou a dormir melhor de noite! :(
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De Ângela Ribeiro a 17.01.2014 às 17:47

Obrigada Teresa por este post:). Estava semi-convencida de que ainda temos tempo para tirarmos a chupeta à Clarinha (3 anos) e agora tenho a certeza de que vai correr bem. Já agora aproveito a oportunidade para lhe pedir que partilhe connosco a sua opinião em relação ao post "Nós existimos, meus senhores" e se não for pedir demasiado e para quando puder, um post sobre o parto e a sua experiência sobre o assunto. Gostei muito quando escreveu sobre amamentação, é por isso. Obrigada:)
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De Céu Franco a 17.01.2014 às 12:03

Olá a todos

Sobre a famosa chucha, permitam-me partilhar a minha "curta" experiência: Tenho 3 filhos - o Miguel, com 14 anos, a Mariana com 11 e o pequeno Lucas com 2 anos e alguns meses...
Sempre tive a teoria que a chucha, quanto mais tarde for tirada, mais "viciados" os miúdos ficam, e consequentemente, mais difícil será a "perda" e o sofrimento dos pequenos.
Os mais velhos, com cerca de 18 meses, tiraram a chucha que foi uma maravilha (o Miguel teve uma gengivite - e como eu lhe disse que a culpada era a chucha, ele acatou, e nunca mais a quis - a Mariana perdeu-a, e como não tinha outra, aceitou essa perda e nunca mais a pediu). Já com o Lucas, fez 2 anos, e nada - comecei a ficar preocupada, pois o "viciosinho" estava a acentuar-se.
Entretanto, a chucha estava a ficar gasta - e a mãe decidiu não comprar mais nenhuma... até que a chucha acabou por se romper - a mãe também deu um "jeitinho". Ele pedia a chucha, e eu dizia: a mãe dá, mas está estragada - dava duas ou três "chuchadelas" e dizia "que porcaria!" e largava-a. Aconteceu isto durante uma semana, e assim se desinteressou da famosa chucha... - apesar de o pai achar que estava a fazer uma "violência brutal" com a criancinha!!
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De Joana Silva a 17.01.2014 às 11:05

Obrigada Teresa. Depois de ler estas explicações, sinto-me muito mais tranquila. Estamos a trabalhar com o pequeno João uso da chupeta exclusivamente para dormir e em casa. Penso que até aos 5 anos (ainda faltam dois) vamos conseguir resultados! :)
Muito feliz com este regresso...

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